Título: Alusa estréia na geração elétrica com a concessão de duas usinas
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2005, Empresas &, p. B1

Energia Companhia adotará na nova área de atuação a experiência acumulada na transmissão

A empresa nacional de transmissão de energia Alusa, ao contrário de outros grupos privados do setor elétrico, não se importou com o baixo preço estipulado pelo governo para o leilão de energia nova, de R$ 116 o megawatt hora (MWh), realizado na sexta-feira. Sem nenhuma experiência em geração, a empresa controlada pela família do atual presidente da Abdib, Paulo Godoy, arrematou sozinha dois dos sete lotes oferecidos para a construção de usinas hidrelétricas: um Goiás e outro no Rio Grande do Sul. A previsão é investir R$ 500 milhões nas usinas. A estréia da Alusa na área de geração, segundo o diretor de operações da empresa, José Lázaro Rodrigues, tem uma explicação: com as novas regras do setor, os investimentos em geração ficaram mais parecidos com o que já ocorria na transmissão, segmento onde a Alusa é a companhia privada nacional líder. Na transmissão, o retorno não é tão alto, mas há maior segurança. E assim prometem ser os novos projetos de geração: "Tem a garantia da venda, e os riscos são baixos, basicamente de performance da construção. E nisso nós temos expertise", diz Rodrigues. Os grandes grupos do setor elétrico, como CPFL Energia e Energias do Brasil ficaram de fora da disputa das novas usinas porque avaliaram que os projetos oferecidos não trariam um retorno mínimo exigido de 15% sobre o investimento. Para o executivo da Alusa, o preço teto estipulado para o leilão também não traz retorno de 15%. "Mas somos mais flexíveis nesse ponto. O importante, para nós, é a segurança do contrato." A Alusa vendeu no mesmo leilão, na segunda etapa, 100% da energia assegurada das duas usinas. Os contratos são por 30 anos a partir de 2010, prazo para o início das operações. Em Foz do Rio Claro a receita proposta foi de R$ 108,2 o MWh e em São José chegou a R$ 115,8 o MWh. Para a construção das usinas, o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou um programa de financiamento de até 70% do valor do projeto, nos mesmos moldes dos programas oferecidos para a transmissão. A Alusa tentará obter o financiamento junto ao banco. Na transmissão, a empresa tem 11 linhas - sendo 10 no Brasil e uma no Chile, cuja concessão o grupo ganhou recentemente, em parceria com a Cemig. Juntos, os projetos em transmissão somam mais de 3 mil km de extensão, com investimentos de aproximadamente R$ 2,85 bilhões. A receita anual chega a R$ 675 milhões. Além da estréia na geração, a empresa planeja também um programa de internacionalização. Hoje, a Alusa já atua no Chile e na Argentina. Ela foi subcontratada na Argentina para construção de duas subestações. O foco é buscar novas oportunidades na área energética nos países da América do Sul e Central, onde as regras do setor elétrico sejam semelhantes às do Brasil. A empresa analisa projetos que somam R$ 900 milhões em investimentos no Chile, Argentina, Peru e países da América Central, como Guatemala ao Panamá. No Chile, a parceria Alusa/Cemig possui a concessão de uma linha de transmissão por 20 anos. A estatal mineira detém 49% do consórcio enquanto a Alusa possui 51%. O valor do investimento na linha, com 200 km de extensão, é estimado em US$ 59 milhões. O plano de internacionalização e a ampliação da área de atuação da Alusa fazem parte da estratégia de crescimento do grupo, que culminará na abertura do seu capital, no próximo ano. O objetivo é aderir ao Novo Mercado da Bovespa. Para isso, a Alusa já deu início a um programa de reestruturação societária das suas participações nos projetos de transmissão. A empresa - que também atua nas áreas de TV por assinatura e construção civil - pretende transferir para o controle de uma holding, que se chamará Licht Energia, as ações que detém nas sociedades de propósito específico constituídas para a disputa nos leilões de linhas de transmissão. Nestes projetos, a Alusa detém o controle da sociedade (sozinha ou de forma compartilhada) em todos eles e tem como sócios minoritários Furnas, Chesf, Cemig, Celesc, Orteng e Schahin.