Título: UE não amplia o embargo à carne
Autor: Mauro Zanatta e Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2005, Empresas &, p. B14

Crise sanitária

Diante das explicações técnicas da missão veterinária do Ministério da Agricultura, a União Européia optou ontem por manter o embargo à carne bovina brasileira restrito aos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Em comunicado às autoridades brasileiras, a Direção Geral de Saúde e Proteção do Consumidor da UE informa que a decisão poderá ser revista em janeiro, quando uma missão de técnicos europeus deve visitar o Brasil para "avaliar" a evolução da febre aftosa no país. Na ocasião, pode haver a retirada de São Paulo do embargo ou até mesmo a ampliação das restrições. Entre fontes do setor, as informações são de que a Irlanda - país que teria pedido o embargo total da carne brasileira - afirma que o bloqueio poderá será ampliado. Já a Itália, um importante comprador do Brasil, fala em retirada da restrição a São Paulo. Ontem, antes do desfecho da reunião do Comitê Permanente da Cadeia Alimentar e Saúde Animal em Bruxelas, a Assocarni, uma entidade italiana do setor, informou, em circular que "os esclarecimentos fornecidos pelas autoridades brasileiras foram julgados pela Comissão como suficientes para evitar medidas ainda mais restritivas" em relação à importação de carne do Brasil. "É uma vitória fantástica da nossa área técnica", comemorou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. "Fizemos um jogo transparente, cristalino e a decisão da União Européia abre uma enorme perspectiva para que outros países sigam o exemplo". Desde o diagnóstico da aftosa em Eldorado (MS), 53 países fecharam seus mercados à carne brasileira. A medida pode precipitar a reabertura de vários mercados, acredita o secretário de Defesa Agropecuária, Gabriel Maciel. Durante almoço com jornalistas, quando ainda não se sabia da decisão européia, o presidente da Abiec, Pratini de Moraes dissera não acreditar em ampliação do embargo europeu, pois isso provocaria inflação no bloco, já que o preço da carne está em alta em função da menor oferta por causa das restrições ao Brasil. Após a confirmação, o diretor da Abiec, Antonio Camardelli, reconheceu que a preocupação com os preços poderia influir na decisão da UE, mas esta não seria tomada "se não houvesse respaldo técnico", afirmou. Embora convincente, a missão brasileira ouviu, na reunião preliminar de segunda-feira, duras críticas e reclamações da UE sobre as falhas e deficiências no sistema de defesa agropecuária. As principais dúvidas dos europeus foram concentradas em quatro pontos: a reestruturação do sistema de rastreamento bovino (Sisbov), a eficiência do programa de controle de resíduos em alimentos, os desencontros entre ministério e governo estadual no caso da aftosa no Paraná e as suspeitas sobre a ocorrência de um foco de newcastle em aves em Jaraguari (MS). A UE é o principal destino da carne bovina in natura do Brasil. Até novembro, comprou 253 mil toneladas de carne in natura. Para a aftosa, os europeus cobraram medidas concretas, como o sacrifício ou o abate sanitário dos animais no Paraná. O ministério informou haver um acordo com o governo estadual para sacrificar 2.212 cabeças de gado em São Sebastião da Amoreira (PR). No Sisbov, os europeus questionaram o nível de confiança oferecido pelo cadastro e exigiram regras mais rígidas. Entre elas, aperfeiçoar registro das propriedades, identificação e movimentação de animais, além de garantir acesso à base de dados por autoridades de todos os níveis. A missão brasileira reconheceu os problemas e informou que 30% dos animais já foram "desclassificados" do sistema. Na questão dos resíduos, a UE insistiu no aprimoramento dos controles e a adoção de regras mais rígidas para o uso de medicamentos e hormônios e efetiva fiscalização de resíduos como antibióticos do tipo nitrofurano em aves. Os brasileiros disseram que a liberação de R$ 37 milhões para reequipar os laboratórios agropecuários vai melhorar os controles. Sobre as suspeitas de foco de newcastle em Jaraguari (MS), reconhecido pelo ministério como um vírus incapaz de reproduzir a doença, os brasileiros afirmaram ser "impossível confirmar a natureza" do foco. Responderam que foram feitos testes e tomadas as medidas necessárias. Os europeus também cobraram condições mais adequadas aos fiscais federais e reequipamentos de postos de controle de trânsito, além de medidas para assegurar que todos os auxiliares de inspeção federal sejam contratados. Pediram ainda garantia da estrita separação dos produtos destinados à UE nos frigoríficos habilitados.