Título: BC alivia pressão e dólar cai 1,51%
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2005, Finanças, p. C2

O Banco Central aliviou ontem as suas pressões de alta sobre o dólar comercial - exercidas com mais intensidade desde o dia 7 - justamente num dia de festa no mercado internacional. O índice de preços ao produtor (PPI, em inglês) americano acusou deflação de 0,7% em novembro, e o núcleo avançou 0,1%, números mais otimistas do que os esperados pelos analistas. A inflação muito baixa nos EUA consolida a percepção de que o Federal Reserve (Fed) não tem mais justificativa para insistir em seu aperto monetário. Hoje em 4,25%, o juro básico americano poderá subir no máximo até 4,50%. Essa taxa não atrapalha em nada a especulação com ativos emergentes, sobretudo os que prometem, como os brasileiros, juro real de 13% ao ano. Não é nada estranho, portanto, o comportamento exibido ontem pelo mercado de câmbio: bastou o BC piscar levemente, e os investidores já saíram vendendo dólar. Após acumular valorização de 9,42% em nove dias, o dólar caiu ontem 1,51%, cotado a R$ 2,3460. O mercado deu vazão a propensão natural de declínio da moeda americana depois da sinalização fornecida pelo BC de que suas atuações cambiais seriam mais lights. A moeda saltou 9,42% no período de 7 a 19 de dezembro unicamente porque, muito pesadas, as intervenções oficiais indicavam o desejo de elevação do preço. As instituições aquiesceram. Mas como a disparada da moeda já estava provocando elevação dos juros futuros, o BC resolveu suavizar seus movimentos. Foi o que aconteceu ontem. Ao invés da oferta habitual de 12,5 mil contratos de swaps reversos, vendeu ontem 8,3 mil e retirou US$ 398 milhões. O leilão de compra direta de dólar no mercado spot também foi leve. Aceitou apenas nove propostas por cotação mais baixa do que a praticada no momento da operação. Comprou a R$ 2,3490 quando o dólar era negociado por R$ 2,35.

Juro futuro acompanha declínio da moeda

Para alguns operadores, o dólar caiu ontem porque o mercado "realizou". Realização de lucro? A artilharia pesada do BC - venda de swaps no valor de US$ 9,01 bilhões desde 17 de novembro e compra direta de US$ 4 bilhões só em dezembro - provocou ganhos? A queda de ontem do dólar desafoga as perdas sofridas por hedge funds nacionais excessivamente "vendidos". E as instituições que apostaram na eficácia de curto prazo das atuações do BC também ganharam. Se o alívio cambial tinha como objetivo retirar fator de alta sobre os juros futuros, o BC teve sucesso. As taxas caíram acentuadamente ontem no DI futuro, sobretudo às referentes aos contratos de vencimento mais distante. Para janeiro de 2007, o juro cedeu 0,07 ponto, para 16,42%. O contrato com liquidação na virada de janeiro para fevereiro - que terá a missão de incorporar as apostas para o primeiro Copom de 2006 - só deve começar a ganhar liquidez na quinta-feira, depois de lida a ata da reunião de dezembro. Ele caiu ontem 0,02 ponto, para 17,36%. A farta liquidez externa e o recuo doméstico do dólar permitiram a retomada das compras de bônus brasileiros. O risco-país caiu ontem de 318 para 312 pontos-base.