Título: OMC retoma negociação agrícola e Brasil volta a pressionar europeus
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2006, Brasil, p. A2

As negociações para liberalizar o comércio mundial serão retomadas lentamente esta semana na Organização Mundial do Comércio (OMC), com as atenções concentradas no que a União Européia (UE) fará na área agrícola. Para o Brasil, a questão é simples: a chamada Rodada Doha só avançará se a UE melhorar sua oferta de cortes tarifários nos produtos agrícolas. "Do contrário, não vejo muito outra forma de fazer progresso e cumprir o calendário da negociação", afirma o embaixador brasileiro junto a OMC, Clodoaldo Hugueney. As negociações só vão entrar num ritmo mais acelerado no final do mês, numa reunião de cerca de 30 ministros de comércio em Davos, nos Alpes suíços. Ali, o Brasil, líder do G-20, espera da UE "clareza" na área agrícola, para que a rodada possa prosseguir. Para Hugueney, é lógico que a UE se mova, porque na recente conferência ministerial de Hong Kong todos os principais participantes se mostraram dispostos a fazer concessões nos mais diversos setores da negociação, com exceção dos europeus. "A bola continua do lado dos europeus, eles é que disseram que estão no fim da linha da agricultura.", diz o diplomata. "Não é estar querendo colocar a Europa em situação difícil, é a natural decorrência de que sem agricultura a rodada não existe." O cenário é claro: se a UE não se mover na negociação agrícola nas próximas semanas, a OMC se verá confrontada novamente com a impossibilidade de manter o nível de ambição da Rodada Doha nos prazos estabelecidos - o que significa pavimentar o terreno para um forte atraso na negociação global ou para o fiasco final. Os países evitaram uma grande crise na conferência ministerial de Hong Kong, no final do ano passado, ao preço de manobras que empurraram as decisões mais difíceis para as próximas semanas. O cronograma da negociação estabelece para até o final de março algum entendimento sobre o valor dos subsídios indiretos à exportação. Ou seja, sobre o tamanho dos subsídios que os EUA dão embutidos nos créditos e seguros a exportações agrícolas. Até o final de abril, os países devem chegar a um acordo sobre o tamanho dos cortes dos subsídios e das tarifas agrícolas, mas também das tarifas de produtos industriais. Até junho, precisam apresentar ofertas melhoradas de liberalização no sensível setor de serviços, que inclui bancos, telecomunicações etc. Em Hong Kong, uma das decisões mais importantes foi de estabelecer nível comparável de ambição para cortes de tarifas em produtos agrícolas e industriais. Isso garante que os países ricos não exijam mais em produtos industriais do que estão dispostos a conceder em agricultura.