Título: Para ex-ministro, projeção está superdimensionada
Autor: Mara Luquet
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2006, Brasil, p. A3

As projeções feitas pelos analistas para a economia que o recadastramento pode gerar nas contas da Previdência estão superdimensionadas, na avaliação de José Cecchin, ex-ministro da Previdência, e hoje consultor da Aggrego. Um dos grandes especialistas no tema, Cecchin diz que a experiência indica que o resultado nesses casos é extremamente pequeno. Ele conta que nos anos 90 foi mobilizado uma equipe com mil inspetores do ministério para examinar milhões de benefícios concedidos no setor rural. "O número de problemas foi extremamente pequeno", diz Cecchin. "Muito longe de ser 15%." Por que então os aposentados não estão indo se recadastrar? "Não sei", diz Cecchin. "Tem que se considerar que uma boa parte não recebeu a informação." São vários os motivos que podem impedir um aposentado de fazer o recadastramento, desde a falta de informação até mesmo a dificuldade de locomoção ao banco. Por isso, Cecchin diz que o governo errou ao optar pelo recadastramento. Para ele, o melhor seria investir os recursos em sistemas, pois, além de ser mais eficaz, tende a manter o cadastro limpo por mais tempo. Aperfeiçoar o sistema de coleta de óbitos, por exemplo, exige um investimento menor do que o que está sendo feito atualmente no recadastramento, segundo Cecchin. "Com esses recursos, poderia colocar um computador em cada cartório", diz ele. A comunicação de óbitos é, em sua avaliação, um dos pontos mais importantes para melhorar a qualidade do cadastro da Previdência. Cecchin explica que, durante sua gestão, foi implementado um sistema de comunicação com os cartórios e 75% dos óbitos já são informados por meio eletrônico. Ocorre que o sistema precisa ser aperfeiçoado. Hoje a checagem é feita com os óbitos de cada mês, por isso, nada impede que no mês seguinte alguns sejam "ressuscitados". Por isso, diz, o ideal é que a checagem seja feita sempre com todos os óbitos, e não apenas com os do mês. "Mas para isso é preciso ter sistemas com grande capacidade, pois estamos falando de checagem de milhões de nomes." Em 1999, conta o ex-ministro, o governo passou a exigir que os cartórios colocassem algum número na certidão de óbito - identidade, carteira de motorista ou da própria Previdência. O recurso foi adotado para facilitar o tratamento da informação, afinal é mais fácil cruzar os números do que nomes. "Eu apostaria mais em tecnologia para ter uma resposta mais confiável do que imaginar que a Previdência seja um poço de fraudes", diz Cecchin. "É mais eficiente recorrer à tecnologia do que aborrecer pessoas com o processo de recadastramento." (ML)