Título: Bachelet será a primeira mulher a presidir o Chile
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Fonte: Valor Econômico, 16/01/2006, Internacional, p. A9

Eleição Com 99,6% dos votos apurados, candidata socialista tem 53,5% A candidata do Partido Socialista, Michelle Bachelet, venceu ontem a eleição à Presidência do Chile. Com 99,6% da apuração do segundo turno concluída, ela tinha 53,5%, contra 46,5% do candidato de direita Sebastián Piñera. Bachelet, médica pediatra de 54 anos, que entrou para o primeiro plano da política chilena ao ser indicada pelo presidente Ricardo Lagos para o Ministério da Defesa em 2002, torna-se a segunda mulher a vencer uma eleição presidencial na América do Sul (Janet Jagan, da Guiana, foi a primeira, em 1997). De acordo com o último boletim eleitoral divulgado ontem, ela teve 3,7 milhões de votos, enquanto Piñera ficou com 3,2 milhões. Por volta das 19h (20h de Brasília), o bilionário Piñera - um dos homens mais ricos do país, que detém 27% da LAN, a maior linha aérea chilena - admitiu a derrota. "Quero desejar a ela o maior dos êxitos", disse o candidato, ao lado da mulher e dos seis filhos. "Trabalhamos de corpo e alma, mas não conseguimos. Uma maioria do país disse outra coisa." Depois de discursar, Piñera foi encontrar Bachelet, para cumprimentá-la pessoalmente. Com Bachelet, a coalizão de centro-esquerda Concertação consegue eleger pela quarta vez consecutiva o presidente desde a saída do ditador Augusto Pinochet do poder, em 1990. O ex-ministro da Educação Sergio Bitar, que saiu do governo para se dedicar à campanha, disse que o resultado "foi um respaldo maior do que o esperado". O presidente da Câmara dos Deputados, Gabriel Ascencio, comemorou a vitória, dizendo que os votos dados a Bachelet "representam o estado de ânimo de nosso país, que requisita a força das mulheres". Bachelet e Piñera votarem em escolas de um mesmo bairro de classe alta de Santiago. "Hoje é o dia dos cidadãos. A decisão é deles", disse Bachelet antes de votar. Partidários do presidente Ricardo Lagos, 67, gritaram "Lagos, amigo, o povo está contigo!" e "2010! 2010!" enquanto ele votava, numa alusão à próxima eleição. Lagos, que pelas leis eleitorais do país não pôde se candidatar à reeleição, entregará o governo com uma taxa de aprovação de 75%. O novo governo vai encontrar um país que tem os melhores índices das nações latino-americanas junto às agências de crédito, uma expansão econômica que já dura sete anos e um superávit recorde no Orçamento (4,5% do PIB de US$ 103 bilhões), graças à alta de 54% no preço do cobre nos últimos 12 meses, o principal produto de exportação chileno. Durante a campanha, Bachelet prometeu manter as bases do modelo econômico de abertura que rendeu ao Chile taxas elevadas de crescimento. Contudo, a nova presidente vai promover mudanças no elogiado sistema de aposentadoria do país. As estimativas mais conservadoras indicam que, se o modelo atual for mantido, daqui a 15 anos 40% dos trabalhadores chilenos não terão direito a qualquer benefício previdenciário. Apesar disso, Bachelet se comprometeu a aumentar as pensões dos aposentados. Também disse que iria ampliar em todo o país as vagas para a pré-escola e garantir assistência médica às crianças de mães pobres. Bachelet também quer promover uma reforma política, para modificar a legislação eleitoral, estabelecida durante o regime de Pinochet, que dificulta o acesso de pequenos partidos ao Congresso. A posse será no dia 11 de março.