Título: PIB pode crescer até 7,5% neste ano
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2010, Economia, p. 18

Itaú Unibanco vê país avançando num ritmo chinês. Nem a crise europeia nem a alta dos juros vão conter a atividade, que será puxada por emprego, renda e crédito

Maior banco privado do Brasil, o Itaú Unibanco refez as contas e elevou as previsões de crescimento para este ano, de 6,5% para 7,5%, taxa só verificada no período da ditadura militar, chamada por muitos de milagre econômico. Esse desempenho será possível, na avaliação dos economistas Giovanna Siniscalchi e Ilan Goldfajn, apesar dos estragos provocados nas exportações brasileiras pela crise europeia e do aumento da taxa básica de juros (Selic), que, há duas semanas, passou de 8,75% para 9,50% ao ano. Esse aperto monetário só vai ser sentindo, por completo, em 2011, mas, ainda assim, eles também revisaram as estimativas de expansão do país, de 4,6% para 4,8%.

Na avaliação dos economistas, no atual cenário mundial, o Brasil é o grande destaque. A economia tem crescido de forma acelerada desde a breve recessão do ano passado, impulsionada pelos estímulos monetário, fiscal e de crédito à demanda doméstica, afirmaram Giovanna e Goldfajn. Para eles, o consumo das famílias, que têm sustentado vendas recordes no comércio, garantiu crescimento de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros três meses do ano, ante o último trimestre 2009. Se anualizada, essa taxa representaria alta superior a 12% um ritmo de crescimento chinês, assinalaram.

Demanda por papel Uma prova de que fôlego da economia se mantém firme está no desempenho da indústria de papelão ondulado, produto usado para a embalagem de mercadorias. Em abril, as vendas do setor bateram recorde para o mês, chegando em 207,9 mil toneladas, apontando crescimento de 18,27% sobre igual período de 2009, informou ontem a Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO). A demanda por papelão é um dos principais indicadores de tendência da economia.

O impacto do aumento de produção é sentido diretamente no mercado de trabalho. Pelas contas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, neste ano, o Brasil deverá criar 2 milhões de empregos com carteira assinada. Mais postos de trabalho significam mais renda disponível para o consumo e maior demanda por crédito.

Pensado nisso, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) revisou as projeções para a concessão de financiamentos a pessoas físicas, incluindo a modalidade do consignado. Segundo a entidade, o crescimento saltará de 20,4% para 20,8% no ano. Para a Febraban, também o PIB terá um incremento maior em 2010: em vez de 5,5%, o resultado final será de 6,3%.

MEGAPOÇO NO PRÉ-SAL A Agência Nacional do Petróleo (ANP) estimou ontem as reservas no poço Franco, localizado no pré-sal da Bacia de Santos, em 4,5 bilhões de barris. Segundo nota assinada pelo presidente da agência reguladora, Haroldo Lima, parece se tratar de um dos poços de maior potencial já perfurado no país. Entre os que serão cedidos para a exploração da Petrobras, esse será o segundo maior em capacidade, só perdendo para o de Tupi, em que são previstos entre 5 e 8 bilhões de barris de óleo. A ANP está estudando a oportunidade de efetuar de imediato os testes de formação a fim de verificar a produtividade do poço, assinalou a nota. O pré-sal, a camada de petróleo localizada a 7 mil metros de profundidade do solo marítimo, é usado como um dos trunfos eleitorais da pré-candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff.

Vendas recordes

Victor Martins

As vendas do varejo prometem ser recordes em 2010. Impulsionado por crédito farto, crescimento do emprego e expansão da renda, o desempenho do comércio vem superando as expectativas do mercado. Em março, pelo terceiro mês consecutivo, o índice subiu expressivamente, com alta de 1,6% frente a fevereiro. Na comparação com igual mês do ano passado, o avanço foi de 15,7%. Com resultado tão positivo na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), representantes do setor estimam expansão de 11,4% para o ano o maior desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) começou a fazer o levantamento.

Em março, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos foi um dos responsáveis pelo incremento nas vendas do varejo. O segmento automotivo marcou alta de 10,3% ante fevereiro. O desempenho do mês também foi puxado pelo grupo de itens de informática, material para escritório e comunicação, com vendas 8,6% superiores.

Arrefecimento Os dados vieram muito fortes, acima do esperado. Daqui para a frente, devemos registrar um arrefecimento nesses indicadores. A partir da próxima avaliação, já notaremos os efeitos do aperto monetário feito pelo Banco Central, ponderou Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Segundo ele, a inadimplência está em queda, os prazos ao consumidor em ritmo de ampliação e o mercado de trabalho segue em forte expansão, fatores que devem garantir boas vendas para o varejo no ano. Nas contas de Bentes, o setor já assegurou um crescimento de 10,4% para 2010, mesmo na hipótese absurda de não vender mais nada até o fim do ano.