Título: Esmagadoras de soja reabrem suas fábricas e encaram cenário adverso
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2006, Agronegócios, p. B10

Grãos Unidades voltam das paradas para manutenção, mas dólar e preços são desfavoráveis

As esmagadoras de soja já estão reabrindo as unidades paralisadas no fim do ano para manutenções programadas e gradualmente começam a retomar as compras de grãos. Com isso, o ritmo de vendas ganha fôlego neste início de safra, mas o mercado ainda registra poucos negócios com preços pré-fixados por conta das cotações internacionais pouco atraentes e do câmbio desfavorável à exportação. A Amaggi Importação e Exportação, do Grupo Maggi - que neste ano pretende manter o volume de esmagamento de 2005, de 1,03 milhão de toneladas - vai retomar o esmagamento em suas duas plantas no Mato Grosso (Cuiabá e Itacoatiara) a partir do dia 25. As unidades, que juntas processam 3,5 mil toneladas de soja por dia, fecharam em dezembro para manutenção. A previsão é retomar o esmagamento no fim do mês, quando a colheita também avançar no Estado, conforme Waldemir Ival Loto, diretor superintendente da empresa, a maior produtora individual de soja do mundo. "A comercialização está mais rápida do que em 2005, mas ainda assim está lenta", avalia Loto. Ele estima que o volume de safra 2005/06 comprometida no Mato Grosso esteja em torno de 60%, ante 50% em igual período do ano passado, mas a maior parte envolvendo troca por insumos. As vendas com preço pré-fixado respondem por apenas um terço do volume total já comprometido. "2005 foi um ano difícil para os agricultores conseguirem crédito junto aos bancos e eles ficaram mais dependentes do financiamento das empresas", diz Loto. Segundo ele, os preços internacionais e o câmbio também desestimulam as vendas com preços pré-fixados. Rui Prado, presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), diz que as vendas antecipadas atingem 50% do volume previsto para a safra no Estado (de 16 milhões de toneladas), e que as vendas com preço pré-fixado representam pouco mais da metade do volume comprometido. "A cotação abaixo de US$ 6 por bushel em Chicago não paga o custo de produção no Estado", afirma o dirigente. Na sexta-feira, os contratos em Chicago subiram em um movimento de recuperação técnica. Os papéis para março subiram 4,50 centavos de dólar e fecharam a US$ 5,7650 por bushel. No Mato Grosso, segundo a Agência Rural, o preço médio da saca pago pelas indústrias foi de R$ 24, com baixa de R$ 2 na semana. Seneri Paludo, analista da Agência Rural, diz que, excluindo os custos com logística, o preço médio ao produtor no Estado está em torno de R$ 20,50 por saca (US$ 9). "O preço ao agricultor hoje é equivalente ao custo de produção, o que não deixa margem de ganhos ao sojicultor do Mato Grosso". Segundo Paludo, com o avanço da colheita as margens de lucro do produtor tendem a ficar negativas, a não que haja recuperação do dólar e/ou dos preços de Chicago. Ele observa que, por conta dos preços desfavoráveis, o ritmo de vendas antecipadas com preço pré-fixado no país está em torno de 14%. No ano passado, por conta de atrasos na colheita e da crise vivida pelos sojicultores, esse índice era menor, de 8%. No Mato Grosso, hoje o índice chega 24% e a 18% em Goiás. A Caramuru, que fechou para manutenção suas unidades de Goiás em dezembro - e já havia parado a unidade de São Simão (GO) por 20 dias em outubro - , também reiniciou as operações em uma unidade de Itumbiara, que processa 450 toneladas por dia. A outra unidade na cidade, que processa 1,7 mil toneladas por dia, volta a operar dia 31. As unidades de São Simão (GO) e de Petrolina (PE) voltam a esmagar em fevereiro. Em 2005, a empresa retomou o processamento de soja na segunda quinzena de fevereiro, devido a atrasos na colheita. César Borges de Sousa, vice-presidente da Caramuru, afirma que a empresa também deve reforçar as compras em fevereiro. "Estamos aguardando a evolução da colheita". Sousa observa que o grupo reduziu as compras antecipadas com preço pré-fixado neste ano por conta de problemas na entrega de grãos em safras anteriores. Neste ano, essas compras estão em torno de US$ 20 milhões, contra US$ 60 milhões em 2005. A Caramuru espera receber neste ano 1,7 milhão de toneladas, volume 10% maior que o registrado em 2005. "A expectativa é acompanhar o crescimento da safra", afirma Sousa. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), se não houver perdas com clima, a produção no país na safra 2005/06 atingirá 57,4 milhões de toneladas, ante 52,6 milhões no ciclo anterior. As exportações devem crescer 9,8% sobre a safra anterior, totalizando 24,5 milhões de toneladas, e a receita deve subir 2,7%, para US$ 9,467 bilhões. Fontes do mercado dizem que, até agora há poucos negócios com a safra recém-colhida de Lucas do Rio Verde (MT), Sapezal (MT) e Rio Verde (GO). Há notícias de compras pela Cargill, Agrenco, Bunge e ADM. A Bunge paralisou o esmagamento em todas as unidades no fim do ano e está retomando as operações aos poucos. Já a ADM informou que reabrirá até fevereiro sua unidade de Paranaguá (PR), fechada em dezembro para manutenção e espera retomar as compras ainda este mês. Segundo a Abiove, há no país 92 unidades de esmagamento, pertencentes a 48 empresas. Juntas, elas têm capacidade para processar 131,8 mil toneladas de grãos por dia.