Título: Reação vacilante no aguardo do BC
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2006, Finanças, p. C2

O mercado futuro de juros reagiu burocraticamente, na sexta-feira, à exortação do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, em favor de uma curva futura mais inclinada negativamente, em sintonia com as perspectivas positivas da economia brasileira. O pregão reduziu vacilantemente de 16,10% para 16,05% a taxa do swap de 360 dias. Trata-se do contrato de referência para o juro privado de um ano, o que baliza as operações de crédito de longo prazo. Essa queda nominal mínima reduziu o juro real 12 meses à frente de 11,07% para 11,02%. Para que a taxa caia para valer será necessário, como Levy sabe, que o Banco Central sinalize claramente a intenção de derrubá-la. E como faria isso? Derrubando o juro presente. Desde a reunião de setembro do Copom, a que diminuiu a Selic em 0,25 ponto após quatro meses congelada em 19,75%, não se via tanta comoção no mercado em torno de uma decisão de política monetária como a que será tomada depois de amanhã. O cerne da questão é o seguinte: o Banco Central irá reconhecer que foi excessivamente conservador no ano passado e diretamente responsável por uma expansão do PIB que mal terá forças para superar os 2%? O mea-culpa só viria se o Copom decidisse cortar a Selic em um ponto percentual, de 18% para 17%. Se optar pela baixa consensual de 0,75 ponto informará ao mercado que não se arrepende de nada, faria tudo de novo. Diapasão de 0,75 ponto para oito reuniões do Copom em 2006 é a mesma coisa que 0,50 ponto para 12 reuniões em 2005. Conhecendo o BC como o mercado conhece, é até possível que o improvável aconteça: por obstinação aos seus princípios e necessidade de reafirmação permanente da ainda informal autonomia, ele pode tomar o caminho oposto: tornar ainda mais apertada a política monetária. Uma minoria de analistas pensa que esta será a via escolhida. Pode-se descartá-la de antemão? Não convém, embora um corte de apenas 0,50 ponto percentual seria um golpe do BC em seus colegas do Ministério da Fazenda, nos políticos interessados em reeleger Lula e no empresariado. Por isso é bom prestar atenção aos argumentos de quem não despreza a via do 0,50 ponto. Mesmo quem, como o Banco CSFB, prevê corte da Selic na quarta-feira de 0,75 ponto, faz a ressalva de que as sombras sobre o IPCA de janeiro podem colocar o Copom de sobreaviso. O CSFB elevou de 0,44% para 0,55% sua projeção de IPCA para este primeiro mês de 2006. A alta dos preços do álcool combustível e dos alimentos in natura nos últimos dias levou a instituição a revisar para cima a sua previsão. A referente a fevereiro também subiu, de 0,39% para 0,45%. O BC também deve estar fazendo esses cálculos. O economista-chefe da Concórdia, Elson Teles, não acredita que o BC levará em conta a argumentação técnica de que o ritmo de queda terá de ser ampliado simplesmente porque haverá este ano quatro reuniões a menos do Copom. " Não acredito nessa tese " , diz ele. " Quando o BC fala em velocidade ótima do processo de flexibilização, de tal forma a contribuir para aumentar a magnitude do ajuste total a ser implementado, me passa a idéia de que prefere seguir um ritmo provavelmente constante e mais gradual, com o intuito de chegar mais longe no processo de queda e com menores riscos possíveis " , observa. Mas então o corte de 0,50 ponto percentual com menor número de reuniões não implica diminuição no ritmo do ajuste? " Sim, isso se justifica porque o Copom já reduziu a taxa em 1,75 ponto percentual e fez com que se tornasse menor a distância entre a Selic corrente e as taxas que deverão vigorar em equilíbrio no médio prazo " , responde Teles. Dada a defasagem de seis meses da política monetária, o BC não tem todo esse tempo para estimular o crescimento econômico. Tem só as quatro reuniões marcadas para o primeiro semestre de 2006. Seria bom que esquecesse tanto o repique do IPCA de janeiro e fevereiro e a sua opção existencial pelo gradualismo.