Título: Avestruz Master poderá devolver só 3% a investidores
Autor: Danilo Fariello
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2006, EU &, p. D2

Justiça

Os investidores da Avestruz Master deverão reaver apenas cerca de 3% do valor investido em aves. Quem diz isso é Hipólito Gadelha Remígio, consultor de Orçamentos e Fiscalização da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado Federal. O advogado finalizou uma nota técnica na semana passada a pedido da 11ª vara de Goiânia, que julga se a empresa cometeu crime contra o sistema financeiro e a economia popular. Para Remígio, houve crime porque o negócio principal da empresa era fazer movimentações financeira com recursos de investidores e a criação de avestruzes era um serviço marginal. Uma conta simples mostra isso. Entre 2003 e 2004, a Avestruz Master movimentou em suas contas bancárias uma média mensal entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões. "Mas a criação das aves que eles declaravam ter não custaria mais de R$ 309 mil por mês." Os balanços da empresa de 2003 e 2004, analisados por ele, consideravam os recursos de investidores ativos da empresa, embora se tratasse de dívida da Avestruz Master com os aplicadores. O consultor do Senado diz, ainda, que a empresa cometeu crime também por nunca ter recolhido imposto de renda, nem próprio nem dos investidores. Ele destaca que R$ 103 milhões foram subtraídos da empresa pelos administradores, o que poderia indicar ocultação de receitas. Remígio diz que o saque pelos investidores seria de cerca de 3% porque esta é a proporção entre ativos estimados e a dívida da empresa. "Em uma análise otimista, o ativo seria de R$ 30 milhões e as dívidas somariam R$ 1 bilhão atualmente." Outras estimativas apontam dívida total de R$ 1,7 bilhão. Segundo o advogado, a possibilidade de os investidores se transformarem em sócios da empresa, hipótese aventada por associações de credores e pela própria empresa, seria prejudicial aos aplicadores. "Eles converteriam os créditos a receber em ações que poderiam valer muito menos do que o total devido." O conteúdo total da nota técnica elaborada por Remígio poderá vir a público amanhã, se a Justiça Federal derrubar o sigilo imposto sobre o processo. A Polícia Federal em Goiás também finalizou laudo pericial sobre a Avestruz Master nos últimos dias e o enviou à Justiça de Goiânia. A empresa atualmente passa também por processo de recuperação judicial. Desde novembro, as contas do grupo Avestruz Master foram bloqueadas e os saques dos 49 mil investidores interrompidos. São liberadas judicialmente apenas despesas para criação das aves.