Título: Pagamento do mensalão está comprovado, diz Serraglio
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2005, Política, p. A4

Para o deputado Osmar Serraglio, (PMDB-PR) relator da CPI dos Correios, houve mensalão, houve caixa 2. O cruzamento entre saques feitos por parlamentares nas contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, com datas de votações relevantes no Congresso, e períodos em que os partidos investigados (PTB e PP, especialmente) sofreram um "boom" de filiações revelam que o fluxo de dinheiro liberado nesses momentos foi sistemático e intenso. Com a ajuda do software I2, utilizado em 130 países e por mais de 3.000 organizações privadas, serviços de inteligência e forças militares, a CPI Mista dos Correios elaborou gráficos que, para Serraglio (, são "provas convincentes" do pagamento a parlamentares."Lamentavelmente eu reconheço que o meu convencimento pessoal é de que tinha um sistema de corrupção parlamentar que compromete até as decisões que tomamos aqui", afirmou. No balanço que apresentou ontem e que deve ser parte do relatório final, a ser votado provavelmente em março de 2006, Serraglio mostrou quatro "padrões" de comportamento parlamentar ligados aos saques. Ele definiu, ainda, o conceito de mensalão: "fundo de recursos utilizados especialmente para atendimento de interesses político-partidários". O primeiro padrão envolve o PL. São pagamentos semanais liberados ao partido, todos pela corretora Guaranhuns. "Estamos visivelmente constatando o semanadão", disse Serraglio. As liberações oscilavam entre R$ 500 mil a R$ 200 mil semanais. Entre fevereiro e março de 2003, foram sempre de R$ 500 mil. O PL elegeu 26 deputados. Na posse, em fevereiro de 2003, já tinha 33 parlamentares. Hoje a bancada tem 40 integrantes. De março a abril, a liberação caiu para R$ 300 mil. A partir de junho passou a ser de R$ 200 mil semanais, com poucas variações a menor. O padrão 2 são pagamentos ligados a mudanças de partido. Houve concentração de pagamentos ao PTB em maio de 2003, período em que houve, coincidentemente, "intenso ingresso de parlamentares à bancada". O partido elegeu 26 deputados. Hoje, tem 42. Na posse, chegou a ter 41. A expectativa da bancada era chegar a 60 deputados, mas a crise política provocou uma debandada de parlamentares da legenda. Já os políticos do PP receberam pagamentos concentrados entre janeiro e fevereiro de 2004. Também foi nesse período que a bancada inflou. O PP conta agora com 53 deputados, mas na posse tinha 43. Outro cruzamento revela um terceiro padrão de comportamento: a ligação entre saques e votações relevantes para o governo. Foram analisadas especialmente três votações: as reformas da Previdência e Tributária e a votação da Lei de Falências. "Os pagamentos concentraram-se em datas próximas às votações de interesse do governo", concluiu o relator da CPI. Outra modificação constatada é que, até setembro de 2003 os parlamentares tiravam dinheiro na boca do caixa. A partir dessa data a sistemática se alterou. Serraglio disse que há a possibilidade de fazer uma conexão entre os pagamentos e as votações. "Não estamos afirmando que isso seja verdadeiro", ponderou. O padrão 4 identificado pela CPI é a relação de pagamentos entre a corretora Bônus Banval e o PP. Os pagamentos ocorriam em intervalos de 48 horas e 72 horas, sempre intermediados pela corretora. Serraglio disse estar "estarrecido" com a clareza do resultado das investigações. Ele disse que os cruzamentos são provas que se somam a confissões e depoimentos colhidos ao longo dos últimos seis meses pela CPI. Ele fez um elogio ao PT e ao atual governo, e considerou que é um avanço significativo da democracia a liberdade das investigações. "Sempre admirei os petistas, sua formação, seus ideais, suas brigas. O único erro foi não depurar. As pessoas que não souberam conduzir têm que ser afastadas", disse. O relator afirmou que é "sofisma" insistir na inexistência do mensalão e justificar que os saques só têm ligação com campanhas eleitorais. "São conceitos que não se excluem. Não é porque houve caixa 2 que não existiu o mensalão. É importante que a sociedade entenda isso", afirmou. O relator não incluiu na lista nenhum deputado de seu partido, o PMDB: o líder da legenda, José Borba (PR), fez saques e renunciou para não ser cassado. No caso do PT, os saques estariam ligados a caixa 2.