Título: Auditoria do BB confirma que Visanet abasteceu 'valerioduto', afirma relator
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2005, Política, p. A4

Em balanço apresentado ontem sobre os seis meses de investigação, o relator-geral da CPI Mista dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), concluiu, com base em auditoria interna do Banco do Brasil, que há indícios suficientes para comprovar que recursos da Visanet abasteceram o "valerioduto", o suposto esquema de corrupção montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza com a participação de estatais e do setor privado, e do PT. Curiosamente, a CPI recebeu a informação que o Fundo Visanet foi extinto há um mês, em 23 de novembro último. Uma nova descoberta é que os contratos de publicidade do BB com a DNA foram utilizados por Valério como garantia de dois empréstimos que contraiu no Banco Rural. Mesmo procedimento já tinha sido registrado com contratos da DNA com a Eletronorte e Correios. O rastreamento do fluxo de recursos que saíram da VisaNet (referente à parte do BB no fundo) e foram depositados na DNA Propaganda apontam para um estratagema financeiro inusitado: Marcos Valério usou um empréstimo feito no Banco Rural - que alega ter contraído para o PT - para quitar um outro empréstimo que fez no Banco do Brasil. As conexões do valerioduto com recursos que saíram da Visanet ficam claras em organogramas feitos por técnicos da CPI. Em 19 de maio de 2005 a Visanet transferiu um adiantamento de R$ 23,3 milhões para a DNA Propaganda. No dia seguinte, a empresa de publicidade aplica o dinheiro em fundos do BB. Dois dias depois, a DNA faz empréstimo de R$ 9,7 milhões no Banco do Brasil e dá como garantia os recursos aplicados em fundo. O fator inusitado é que a DNA quita o empréstimo do BB no dia 26 de maio com parte dos recursos contraídos em empréstimo feito com o Banco Rural. Detalhe: outra empresa de Valério, a SMP&B, fez o empréstimo de R$ 19 milhões no Rural, também no dia 26 de maio. O mais intrigante é que a garantia do empréstimo com o Rural é exatamente o contrato de prestação de serviços da DNA com o BB. Para o relator, esses R$ 9,7 milhões foram injetados no valerioduto. O fluxo de recursos rastreado de março a agosto de 2004 (R$ 35 milhões) também faz novas revelações: mostra que parte do dinheiro do fundo da Visanet foi parar em corretoras (Bônus Banval e 2S) que abasteceram políticos e partidos, passando, ao longo do caminho, pela DNA Propaganda (empresa de Valério), pelo banco BMG, e pela empresa Tolentino e Associados (do sócio de Valério). Os adiantamentos do BB, via Visanet, renderam mais de R$ 5 milhões a Marcos Valério, devido às aplicações financeiras. A CPI fez esse levantamento ao obter a transferência de sigilos bancários das empresas de Valério. Foram pelo menos quatro grandes aplicações: R$ 23 milhões (em maio de 2003), R$ 6,4 milhões (em dezembro de 2003), R$ 35 milhões (em março de 2004), e R$ 9 milhões (em junho de 2004). A auditoria do BB constatou adiantamentos feitos a agências de publicidade, de 2001 a 2004, "sem registro de informações que demonstrassem a vantajosidade ou a necessidade do procedimento". Os adiantamentos foram repassados à Lowe Lintas (2001 e 2002) e DNA Propaganda (2003 e 2004). No caso da Lowe, as campanhas e ações de publicidade foram especificadas, e as notas fiscais indicavam o valor de comissão da agência. A Lowe apresentou um demonstrativo de gastos, mas a auditoria não localizou notas fiscais que justificassem os serviços contratados. Já para as antecipações de recursos à DNA (R$ 73,8 milhões) foram feitas "sem a especificação de ações de incentivo a serem realizadas". Notas técnicas que aprovaram o adiantamento o condicionavam à aprovação das campanhas pelas diretorias de Marketing e de Varejo, cujos diretores eram ligados ao PT - Henrique Pizzolato e Edison Monteiro, respectivamente. Em 12 dos 33 procedimentos analisados pela auditoria, cujo montante de adiantamento era de R$ 6,9 milhões, não consta a aprovação da Diretoria de Varejo. Conclui-se ainda que a Diretora de Marketing não apresentou relatórios sobre os adiantamentos ao Conselho Diretor. Faltam documentos para explicar os gastos de R$ 23,2 milhões em adiantamento. "Os fatos constatados no período de 2001 a 2004 impuseram danos à imagem e expõem o banco à possibilidade de eventuais questionamentos de órgãos fiscalizadores", concluiu a auditoria do BB. Responsabilidades funcionais, sanções administrativas internas estão sob análise na Diretoria Jurídica do banco. Em nota, a Visanet alega que "efetuou os pagamentos à DNA mediante autorização e apresentação das notas fiscais pelo próprio BB". Os recursos do fundo, acrescenta, eram destinados a publicidade dos cartões de débito e crédito emitidos pelos bancos. "Por essa razão, cada emissor geria a sua cota no fundo", conclui a nota. Para o BB, a auditoria é auto-explicativa.