Título: Renda traz impulso extra ao comércio
Autor: Raquel Salgado e Claudia Facchini
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2004, Brasil, p. A-4

A recuperação da renda dá impulso ao comércio varejista neste último trimestre. Exemplo disso é o crescimento mais consistente dos setores intimamente relacionados ao rendimento do consumidor, como os de bens não duráveis e semiduráveis, ao mesmo tempo em que os ramos dependentes do crédito mostram desaceleração na margem. Dados com ajuste sazonal calculados pela LCA Consultores revelam que, em setembro, as vendas do segmento de hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo cresceram 0,4% sobre agosto. O desempenho do setor de móveis e eletrodomésticos, contudo, teve a primeira retração desde meados do ano passado, de 2,1%. Ainda com cálculos da LCA, baseados na pesquisa mensal de emprego do IBGE, é possível verificar um incremento de 3,1% no rendimento médio real dos trabalhadores no período que vai de janeiro até agosto deste ano - últimos dados disponíveis. Para os trabalhadores da indústria, esse crescimento da renda chegou a 9%. As expectativas dos diversos setores do varejo são positivas. Jorge Letra, diretor de gestão e comunicação da Dicico, loja de material para construção civil, prevê que o bom resultado do mês de outubro seja mais do que repetido em novembro. "Neste mês devemos vender 10% a mais do que outubro", aponta. Pela recuperação da renda e menor gasto dos consumidores com bens duráveis, o diretor prevê um crescimento de 25% no segundo semestre, acima dos 18% dos primeiros seis meses do ano. Para o fechamento de 2004, a previsão é de incremento de 20%. Nos bens duráveis, os números ainda são favoráveis, mas não sobem no mesmo ritmo do início do ano. Valdemir Coleone, supervisor geral das Lojas Cem, esperava um aumento de 30% nas vendas da rede no começo do ano. Após um início promissor, ele reviu seus dados e calcula agora uma alta de 15%, uma vez que "o crescimento dos últimos meses é metade daquele observado nos primeiro semestre", explica. Até outubro as vendas acumulam ganhos de 22%. Entretanto, de janeiro a julho, esse acumulado chegava a 30%. De agosto para cá a média mensal se mantém em 15%. Ainda assim, Coleone se diz mais otimista agora com o fim do ano do que há três meses atrás. "Em novembro devemos crescer 20%. A incorporação do cartão de crédito também dará mais fôlego ao consumo", ressalta. Jorge Gonçalves Filho, diretor geral da C&C, outra varejista do ramo da construção, afirma que para o setor como um todo o mês de outubro foi bem melhor do que o anterior e novembro deve superar esse resultado. Com emprego e um dinheiro a mais no bolso, Gonçalves espera "que o brasileiro prepare a casa para as festas de final de ano". Isso vai incrementar, principalmente, a venda de tintas e de produtos de iluminação, salienta. Nos supermercados, a recuperação tem sido lenta, gradual e consistente, afirma Sussumo Honda, presidente da Associação Paulista dos Supermercados (Apas). Apesar de não ter os dados consolidados, ele afirma que "outubro foi um mês muito bom" e melhorou a expectativa para o último trimestre. Mesmo com novembro sendo um mês ruim de calendário, devido aos feriados, dezembro será melhor e ajudará o setor a fechar com um crescimento de 5% sobre 2003. A melhora da renda também já estimula o consumo de produtos supérfluos, elevando o tíquete médio dos supermercados. As vendas do Pão de Açúcar em outubro, em uma base comparável de lojas, cresceram 10,3% em termos nominais e 3,2% se deflacionadas pelo IPCA, repetindo o desempenho de setembro. No terceiro trimestre, a rede registrou o primeiro aumento de vendas em cinco anos, considerando valores deflacionados e áreas comparáveis de loja. De olho na primeira parcela 13º salário, que será paga no fim de novembro, o varejo já abrirá neste fim de semana a temporada de Natal. A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) calcula que 5% do 13º serão gastos nos shoppings, ou R$ 2 bilhões. Segundo Jacqueline Lopes, diretora de marketing da Renasce, que administra treze shoppings, serão investidos R$ 16 milhões na campanha de Natal deste ano, que vai ao ar no domingo, 20% a mais do que em 2003. A expectativa da empresa é de um crescimento de 15% nas vendas e de 12% no tráfego. Os destaques, diz Jacqueline, são os celulares e eletrônicos. Além da melhora da renda, o alongamento nas prestações também estimulou o consumo de itens mais caros, como bens duráveis. Segundo o Ponto Frio, o plano médio no crédito direto ao consumidor cresceu de 7,2 prestações em 2003 para 8,1 parcelas no terceiro trimestre deste ano, quando as vendas da rede cresceram 22%. "Em setembro, quando o governo elevou os juros, o varejo sentiu um baque, mas depois o ritmo de vendas voltou ao normal", afirma Décio Thomé, diretor da Colombo.