Título: Governo deve garantir a estabilidade
Autor: Andrade, Robson
Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2010, Economia, p. 21

Ponto a ponto - Robson Andrade

Eleito presidente da CNI, mineiro quebra tradição de entidade ser comandada por um nordestino e aposta na manutenção da política econômica

Marcone Gonçalves

Eleito ontem para liderar pelos próximos quatro anos a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a mais poderosa entidade empresarial do país, o empresário mineiro Robson de Andrade vê o futuro do país com otimismo. Aposta inclusive na continuidade da política econômica, qualquer que venha a ser o resultado das eleições presidenciais de outubro mês em que também assumirá o mandato de quatro anos, com direito a reeleição.

Robson Andrade encabeçou uma chapa única, definida por consenso pela própria CNI, onde ele já ocupa a vice-presidência e preside o Conselho de Assuntos Legislativos. Substituirá Armando Monteiro Neto, deputado pernambucano que presidiu a entidade por todo o governo Lula. Com sua posse, ele altera uma tradição dentro da entidade: ser presidida por um político do Nordeste. Nos últimos 33 anos, por apenas um ano, entre 1994 e 1995, um não nordestino assumiu a CNI, o paulista Mario Amato.

Presidente da Federação de Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), Andrade é dono da Orteng Equipamentos e Sistemas Ltda., indústria sediada em Contagem (MG) que produz equipamentos para os setores de infraestrutura, especialmente na área de energia.

Liderança nordestina Não há diferenciação em ser ou não nordestino. A CNI é uma entidade nacional, que olha o conjunto do país. Essa alternância é muito boa, mas é preciso que se diga que o Nordeste sempre dignificou a entidade no cenário nacional.

Parcerias Temos um objetivo muito claro: trabalhar no interesse da indústria nacional, por meio de parcerias com o governo, o Congresso Nacional e a sociedade, de modo a dar melhores condições para que a economia do país cresça e gere mais empregos. Além disso, temos que tornar a indústria nacional capaz de competir com as indústrias de qualquer lugar do mundo.

Economia brasileira O Brasil está no rumo de crescimento econômico com bastante credibilidade e segurança. A gente tem que trabalhar para que isto continue. Para isso, ainda é preciso melhorar o ambiente de negócios, criar mais segurança jurídica, reduzir a burocracia e as despesas do governo para diminuir a pesada carga tributária.

Exportações Hoje, temos uma posição muito boa no que diz respeito às exportações de minérios, commodities agrícolas. Mas precisamos de condições de isonomia com os outros países. O pacote anunciado pelo ministro Mantega (da Fazenda) traz medidas positivas, mas insuficientes. Precisamos, por exemplo, acertar a questão da restituição de créditos do ICMS das exportações com estados que empurram o problema para a União.

Política cambial A gente entende que o real está valorizado, mas também que não deve sofrer modificações. Por isso, temos que atacar as questão da inovação tecnológica, da qualificação da mão-de-obra e da melhoria das condições de infraestrutura. Precisamos atacar com um conjunto de ações tanto dentro quanto fora das empresas.

Transações correntes Temos que cuidar do deficit em transações correntes (resultado da transações com outros países nas relações comerciais, viagens, pagamentos de juros e dividendos). Precisamos buscar soluções para questões como essa, que, como sabemos, vão nos causar enormes problemas no futuro. Por isso, não queremos uma balança comercial muito deficitária.

Eleições Acredito que tanto Serra (José Serra, pré-candidato do PSDB) quanto Dilma (Dilma Roussef, do PT), uma vez eleitos, deverão dar continuidade à atual política econômica. Não temos, tradicionalmente, uma posição a favor deste ou daquele candidato. O que nos interessa é o programa de trabalho de cada um, que ainda será apresentada à sociedade e formalizado até 3 de julho. A CNI discutirá com os candidatos e procurará influenciar naquilo que entende que é melhor para o país, de maneira pública e transparente.

Trabalhadores A indústria tem uma forte demanda por pessoas qualificadas, capazes de trabalhar com máquinas e tecnologias mais modernas. O Senai já vem atuando nisso, mas precisamos investir mais e discutir com os governos experiências de sucesso nessa área.

Custo Brasil A perda de competitividade internacional dos produtos brasileiros ocorre quando esses saem da fábrica, por causa da infraestrutura do país, dos custos de armazenagem, dos portos e aeroportos, da carga de tributos. Muito da improdutividade da indústria brasileira é por causa do ambiente de negócios que vivemos.

Mercosul e UE Precisamos fazer mais acordo envolvendo entidades de outros países. Geralmente, ocorre uma mistura nos debates de acordos comerciais com a questão política. E a questão política não deixa os acordos avançarem. Nós empresários precisamos encontrar caminhos independentes dos governos. Cito como exemplo a participação da CNI, a partir de julho deste ano, na criação da Confederação Internacional de Comércio de Países de Língua Portuguesa.