Título: Risco-país encosta nos 300 pontos
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2005, Finanças, p. C2

O anúncio da quitação antecipada da dívida brasileira com o Clube de Paris, a nova postura cambial light do Banco Central e a certeza de que o aperto monetário americano está próximo do fim levaram investidores estrangeiros a ampliar as compras de bônus do Brasil no mercado secundário de títulos de Nova York. O Global 40, papel de maior aceitação pelos fundos que operam em Wall Street, atingiu cotação recorde. Foi negociado a US$ 1,28063, em alta de 0,73%. Pela primeira vez, sua rentabilidade ao ano caiu abaixo de 7%. Em conseqüência, o risco-país, medido pelo JP Morgan, desceu ao nível mais baixo da série histórica iniciada em 1994. Tombou ontem 3,51%, para 302 pontos-base. Os investidores externos gostaram do anúncio feito pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de que no ano que vem o governo irá zerar a dívida a vencer até 2007 no Clube de Paris. O saldo remanescente não é muito. Menos de duas semanas de intervenções cambiais diretas garantem ao BC os US$ 2,575 bilhões necessários para se livrar do débito. Mas trata-se de mais um passo no sentido de reduzir a vulnerabilidade externa. E aumentar o cacife político de Lula visando a reeleição. Também agrada, e muito, aos investidores o posicionamento mais regrado adotado pelo BC na terça-feira em suas incursões pelo câmbio. Durante os nove dias (de 7 a 19 deste mês) em que ele agiu firme para provocar uma acentuada depreciação do real, os hedge funds resistiram ao máximo em reverter suas elevadas posições vendidas. A aposta primária na venda de dólar é a tendência natural em um mercado afogado em liquidez e carente de opções rentáveis. E o Brasil é o que proporciona o ganho mais fácil. Se o BC deixar. A autoridade desacelerou as intervenções e não está conseguindo, e nem parece que quer, evitar o desabamento do dólar. Ontem a moeda fechou em queda de 1,61%, cotada a R$ 2,3080. O BC vendeu ontem 8,3 mil contratos de swaps reversos, no valor equivalente a US$ 397,2 milhões. E comprou de 15 instituições dólares no mercado à vista pelo preço de R$ 2,31, sancionando o movimento declinante.

BC amplia levemente oferta de swaps

Se o BC não voltar a ser agressivo na área cambial - ele ampliou levemente o volume de swaps a oferecer hoje aos bancos, de 8,3 mil para 8,4 mil, incapaz de caracterizar um retorno à conduta mais incisiva -, logo o risco cairá abaixo de 300 pontos-base, mas ainda estará distante de emergentes já grau de investimento como México e Rússia. Pela tabela também se constata que a forte queda do risco no acumulado do ano não é um privilégio brasileiro. Depois que o câmbio deixou de exercer pressão de alta, os juros futuros consolidaram ontem a tendência de baixa. O contrato mais negociado (giro de R$ 10,18 bilhões), para a virada de 2006 para 2007, recuou ontem de 16,42% para 16,35%. A ata da reunião do Copom realizada na semana passada, a ser publicada hoje, poderá intensificar a queda. Além de conhecer os motivos que levaram dois diretores do BC a votar por um corte de 0,75 ponto na taxa Selic, o mercado poderá colher sinais de um afrouxamento monetário mais atrevido a partir de janeiro. O contrato mais curto caiu de 17,75% para 17,74%.