Título: Queda dos juros chega à ponta
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2005, Finanças, p. C8

Crédito BC mostra que bancos começam a repassar redução de custo, mas em ritmo lento

Os bancos finalmente começaram a repassar para os clientes os ganhos que estão obtendo com o relaxamento da política monetária, que reduz os custos de captação. Os juros médios dos empréstimos bancários a pessoas físicas e empresas recuou de 48,2% para 47,1% em novembro, segundo dados do Banco Central. Foi a primeira vez que os juros bancários caíram de forma consistente neste ano. Desde maio passado, os custos de captação dos bancos vinham se reduzindo - até novembro, a queda acumulada foi de 1,6 ponto percentual, de 19,4% para 17,8% ao ano. A redução dos custos de captação acompanha a inflexão da curva de juros futuros a partir de maio, que, por sua vez, antecipou os cortes na taxa básica, que tiveram início apenas em setembro. Os juros bancários médios, porém, vinham passando ao largo dessa queda nos custos de captação. As taxas cobradas nos empréstimos chegaram a ensaiar reduções em junho e julho, mas apenas para subir nos meses seguintes, a um patamar mais elevado. Em novembro, pela primeira vez, caíram substancialmente: 1,1 ponto percentual. Mas ainda há gordura: enquanto o custo de captação dos bancos se reduziu 1,6 ponto de junho a novembro, as taxas médias de operações de crédito caíram 0,7 ponto. A diferença ficou no "spread" bancário, que subiu de 28,4 para 29,3 pontos . O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, acredita que haverá, daqui por diante, tendência de queda de juros, a partir do afrouxamento da política monetária. Dados parciais de dezembro, até o dia 9, apontam queda de 1,1 ponto nas taxas médias dos empréstimos. Juros menores, diz, deverão dar novo impulso ao mercado de crédito. "A queda nas taxas de juros, ao lado do aumento do nível de emprego e da renda, vai levar a nova expansão nos volumes de crédito em 2006, certamente maior do que está ocorrendo em 2005", afirmou Lopes. De janeiro a novembro, as operações de crédito com recursos livres cresceram 23,7%, chegando a R$ 394,315 bilhões. Mas houve um crescimento desigual entre pessoas físicas (expansão de 34,8%, para R$ 186,825 bilhões) e empresas (alta de 15,1%, para R$ 207,490 bilhões). "As pessoas jurídicas sentem mais rapidamente e com maior intensidade os aumentos na taxa de juros", disse Lopes. "Em 2006, deverá ocorrer justamente o contrário; com as taxas de juros em queda, as empresas irão tomar mais crédito."

Em novembro, a grande exceção foram os juros do cheque especial, que passaram de 148,6% para 149,2% ao ano. O aumento da taxa, explicou Lopes, deve-se à expansão da carteira de uma instituição financeira em particular, que opera com juros mais elevados. "Foi um ponto fora da curva", disse Lopes. "Dados parciais de dezembro mostram queda de 2,2 ponto percentual nos juros do cheque especial, até o dia 9."

O crédito consignado, que vinha tendo influência positiva na redução dos juros bancários médios, começa a perder força. Em meses anteriores, o crédito consignado vinha crescendo a uma taxa bem mais elevada que o mercado de crédito em geral, o que jogava para baixo as taxas médias (a taxa média do crédito consignado foi de 36,9% em novembro, ante 83,2% ao ano nas demais modalidades de empréstimos pessoais).

Em novembro, porém, o crédito consignado cresceu 2,7%, percentual pouco superior à expansão do crédito livre a empresas e pessoas físicas, que foi de 2,4 no período.