Título: Argentina radicaliza
Autor: Martins, Victor; Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2010, Economia, p. 23

País vizinho manda fechar as fronteiras com o Brasil, impedindo a entrada de produtos alimentícios que tenham similares fabricados lá. Caminhões fazem filas nas aduanas. A tensão é grande e há risco de tumultos. Itamaraty cobra explicações

O governo da Argentina decidiu radicalizar. Sem qualquer aviso prévio, o secretário de Comércio Interior, Guilhermo Moreno, mandou fechar as fronteiras de seu país com o Brasil, impedindo a entrada de produtos alimentícios brasileiros que tenham similares fabricados em terras argentinas. Dezenas de caminhões oriundos do Brasil estão impedidos de ultrapassar as linhas que separam os dois países. Moreno está recorrendo à vigilância sanitária para justificar a proibição de importação. A tensão nas fronteiras é grande. E há ameaça de tumulto nas aduanas.

Segundo Mário Gaspar Sachi, argentino radicado no Brasil e professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), está tudo parado nas fronteiras com a Argentina. Cada vez que falo com amigos ou parentes, todos choram por conta dos problemas gerados pelo governo. Moreno, que é secretário de Comércio, tomou para si o papel da vigilância sanitária. Sem nenhuma justificativa legal, está vetando as importações, relatou. Entre os produtos sem permissão para entrar no país vizinho estão o milho, tomate e carnes suína e de aves.

Se os argentinos insistirem no conflito, podem sair no prejuízo. No primeiro trimestre, o Brasil vendeu para os vizinhos US$ 81 milhões em alimentos. Em contrapartida, eles venderam para cá US$ 190 milhões. Os exportadores de lá estão com medo de o Brasil fechar as portas para eles e já estão protestando contra a medida descabida. Os supermercadistas também estão revoltados. A produção de lá é pequena e não é suficiente para abastecê-los, afirmou Sachi.

O Itamaraty garantiu que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, está acompanhando com preocupação esses relatos e instruiu diplomatas a reiterarem a preocupação do governo brasileiro sobre o assunto. O embaixador do Brasil na Argentina, Enio Cordeiro, se encontrou ontem com Alfredo Chiaradia, subsecretário de Assuntos Econômicos da Argentina para debater o tema.

O número US$ 190 milhões Total de alimentos exportados pela Argentina para o Brasil no primeiro trimestre deste ano

Processo na OMC

O Brasil entrou ontem com um pedido de consulta na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a União Europeia (UE), acusada de impedir, irregularmente, a entrega de medicamentos genéricos indianos destinados ao mercado brasileiro. Segundo o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, as apreensões tiveram um impacto negativo altíssimo no comércio e no sistema de saúde nacional dos países em desenvolvimento. Também a Índia apresentou queixa contra a UE na OMC.

Um dos casos em questão remonta a janeiro de 2009, quando a Holanda reteve um navio procedente da Índia e que fez escala em Rotterdã antes de partir para o Brasil. A embarcação carregava o medicamento Losartan, para hipertensão arterial. Outras duas apreensões ocorreram em maio e em outubro de 2009. A resposta da OMC deve sair em dois meses.