Título: Lula e Kirchner devem defender Mercosul
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2006, Brasil, p. A4

Os presidentes do Brasil e da Argentina devem aproveitar os encontros que terão a partir de amanhã em Brasília para dar uma demonstração de unidade, no momento em que o Mercosul enfrenta um novo problema, com a ameaça uruguaia de negociar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Kirchner chega à capital brasileira na noite de hoje. Amanhã sua agenda prevê reuniões com autoridades brasileiras e um discurso no Congresso. Na quinta, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, chega a Brasília para encontrar os dois presidentes. Segundo fonte do governo argentino, entre os temas que devem ser tratados por Lula e Kirchner está a intenção do Uruguai de negociar um tratado de livre comércio com os EUA. Ante a ameaça, Lula e Kirchner devem reafirmar seu compromisso com o bloco. Os ânimos contra o Mercosul se acirraram porque setores do governo uruguaio consideram que o bloco prejudica o país. Na agenda das reuniões entre os dois presidentes também devem estar questões comerciais bilaterais, como as negociações de um novo regime para o comércio de automóveis no Mercosul e a adoção de salvaguardas comerciais dentro do bloco. Nos dois temas não deve haver definição, já que o acordo automotivo que venceu em 31 de dezembro de 2005 foi prorrogado e os dois lados têm prazo até o mês que vem para definir as novas regras. Na questão das salvaguardas, na semana passada o governo brasileiro reiterou que as negociações devem ser concluídas no prazo previsto, até o fim deste mês. Mesmo sem expectativa de conclusão, industriais dos dois países reiteraram a preocupação com as negociações. Do lado argentino, a necessidade de adotar a chamada CAC (Cláusula de Adaptação Competitiva) foi defendida em reunião entre a cúpula da UIA (União Industrial Argentina) e a ministra da Economia, Felisa Miceli, que acompanha Kirchner na viagem. Já a brasileira CNI emitiu comunicado em que reafirma ser contra as salvaguardas, mas aceita sua adoção desde que ela seja decidida pelos dois lados (não de forma unilateral) e precedida de investigação que comprove dano a algum setor. Apesar das pendências, a intenção argentina é dar à visita um tom positivo. É provável que Kirchner busque uma maior aproximação com o Brasil e uma das possibilidades é que faça algum tipo de declaração em defesa da Comunidade Sul-americana de Nações, um projeto impulsionado pela diplomacia brasileira que é visto pelos argentinos como uma tentativa do Brasil de acentuar sua liderança regional.