Título: Dilemas do PMDB na hora da decisão
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2006, Política, p. A5

Está confirmada a inscrição do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, na prévia do PMDB para a escolha do candidato do partido a presidente da República. Agora são dois os aspirantes. O outro é Anthony Garotinho. O que torna mais efetiva a presunção de que os pemedebistas estarão de fato a postos em outubro. É uma vitória dos atuais dirigentes. Em dezembro de 2004, eles precisaram cassar uma liminar da Justiça para assegurar a convenção nacional que decidiu pela candidatura própria. Com o presidente Lula da Silva enfraquecido, a ala governista está na defensiva, mas não está batida. O jogo da sigla é complexo e aberto às possibilidades. Em março - época das prévias -, o PMDB completa 40 anos. Nascido MDB para contracenar com a Arena a simulação democrática, essa federação de caciques regionais contrariou as expectativas. E não foi por falta de esforço de seus dirigentes que não teve o mesmo fim da Arena e de seus sucedâneos PDS, PPB e PP, atualmente. Quarentão, talvez seja hora de se levar a sério. Desde 1986, quando elegeu 21 governadores, que a sigla não chega às proximidades das eleições com tantos candidatos competitivos nos Estados: são pelo menos 14, sendo que seis deles concorrem à reeleição. Além dos 21 governadores, o partido elegeu 273 deputados federais, na esteira do Plano Cruzado. Tinha o comando do Congresso e a Presidência da República, mas sucumbiu junto com o governo José Sarney. Já na eleição seguinte elegeu 108 deputados. Na última, em 2002, foram apenas 74. Seus candidatos a presidente, Ulysses Guimarães (1989) e Orestes Quércia (1994) freqüentaram a rabeira dos resultados eleitorais. Quércia, aliás, foi o primeiro a ser escolhido candidato pelo sistema de prévia partidária. Uma outra prévia estava marcada para 2002, mas foi cancelada e o PMDB acabou por se coligar com o PSDB na eleição. Hoje o presidente do Senado, Renan Calheiros, deve passar em revista a situação no PMDB com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para Renan, que se opõe a uma definição partidária a seis meses da eleição, já não há como fechar uma aliança com Lula para o primeiro turno. A menos que o presidente seja protagonista de uma reação espetacular, o que não acredita. Lula, por seu turno, ainda não desistiu de um acordo, de preferência que terminasse com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim, como seu companheiro de chapa. Mas já começa a trabalhar também com a perspectivas de concorrer com "pedaços" do PMDB, a exemplo do que fez - e antes dele Fernando Henrique Cardoso - nas últimas eleições.

Quarentão, partido decide candidatura

Os que defendem e os que são contrários às prévias têm um ponto em comum: Anthony Garotinho. Ignorando as cúpulas estaduais, o ex-governador do Rio fez uma linha direta com o colégio eleitoral das prévias. Germano Rigotto, por seu turno, conta com o horror dos caciques a Garotinho para tentar reverter a situação na reta final. Uma terceira alternativa é avaliada internamente: o governador do Paraná, Roberto Requião, considerado bom de debate e "um matador" nas eleições, talvez numa aliança com o PDT. Mas tanto Requião - "o nosso Hugo Chávez", como dizem pemedebistas - quanto Garotinho são considerados "incontroláveis" e não contam com a confiança da federação de caciques que tem moldado o caráter do PMDB. Na hora de decidir, os dilemas do quarentão ainda são muitos. A própria regra da eleição. Será com ou sem verticalização? Com pelo menos 14 candidatos competitivos a governos estaduais, boa parte do partido se pergunta se não seria mais conveniente ficar sem candidato a presidente e com isso liberar as seções regionais para compor a aliança local mais promissora. Enfim, a eleição promete um território de oportunidades que só será mapeado com mais clareza depois de março. Há outras dificuldades. Parece certo um acordo para uma pequena alteração na data, de 5 para 19 de março. Mas, pelo menos uns 12 Estados não fizeram qualquer preparativo para a preliminar, o que pode afetar o quórum da refrega. Qual será a reação dos governistas, neste caso? Eles dizem que as prévias parecem inevitáveis, à esta altura, e que não pretendem fazer disso um cavalo de batalha. Pode ser. Em dezembro de 2004 a ala governista não hesitou em bater às portas da Justiça para anular a convenção que decidiu a candidatura própria.