Título: Bancada do PP foi consultada sobre repasse do PT, diz deputado
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2006, Política, p. A5

A bancada do PP sabia do repasse feito pelo PT de R$ 700 mil ao partido para o pagamento de dívidas. A afirmação foi feita na tarde de ontem ao Conselho de Ética pelo líder em exercício da legenda na Câmara, Mário Negromonte (BA). Nenhum envolvido na negociação entre as duas siglas havia confirmado antes que não só os caciques ou a executiva nacional, mas também os demais parlamentares, tinham conhecimento da negociação financeira. O parlamentar prestou depoimento como testemunha do processo de cassação do presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE). Negromonte revelou que "todo o mundo sabia da situação" de Ronivon Santiago, deputado do PP do Acre, réu em mais de 30 ações movidas pelo Ministério Público de seu estado. Os R$ 700 mil recebidos pelo PP teriam sido usados para pagar os honorários do advogado Paulo Goyaz, defensor do parlamentar na Justiça. "A grande maioria dos deputados sabia que o dinheiro era para pagar advogados. Houve uma reunião com o Paulo Goyaz para ele explicar como estava o caso do deputado Ronivon. Além disso, a executiva era composta por deputados também", completou o líder do PP em exercício. Negromonte disse que a executiva do partido designou o líder do partido, José Janene (PP-PR), para conseguir recursos junto à iniciativa privada para sanar a dívida com o advogado. Por causa dessa determinação, o depoente disse que, inicialmente, pensou que os R$ 700 mil vindos teriam sido repassados por algum empresa ligada ao PT. Negromonte defendeu o PP. "Nós imaginávamos que o PT emitira nota fiscal para comprovar o repasse", afirmou. "Nenhum partido recusaria dinheiro vindo do PT, partido da ética e da moral, naquela época. Todos ficavam de joelhos para o PT. Pensávamos que o dinheiro era lícito", disse. E completou: "Hoje, o PT está leproso e ninguém receberia dinheiro do partido". Para ele, o repasse de dinheiro de um partido para o outro é algo "lícito, regular e normal". O deputado apresentou notas taquigráficas de todas as reuniões do PP nas quais foram debatidos temas de votações do plenário. É uma tentativa de provar que o partido não recebia mensalão para apoiar projetos de interesse do governo. "Se houvesse pagamento, não tinha debate. Era só mandar votar e pronto", justificou. Na defesa Corrêa, Negromonte pode ter complicado um pouco mais a vida de Janene, também representado no Conselho de Ética, com pedido de perda de mandato, por suposto envolvimento com o mensalão. "As negociações foram feitas pelo deputado Janene com o Delúbio Soares", afirmou. No fim do depoimento, o relator do caso de Corrêa, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), deu por encerrada a instrução probatória da representação. Ele entregou, às 19h, seu relatório e seu voto ao presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP). Ainda esta semana, o relatório será lido e colocado em votação. Na tarde de hoje, Chico Alencar (P-SOL-SP), relator do caso do deputado Wanderval Santos (PL-SP), vai ler seu relatório. Ao final da apresentação, se nenhum colega pedir vista do processo, ele revelará seu voto e colocará o tema em votação. Caso algum parlamentar queira analisar o caso com maior rigor e decida pedir vista, terá duas sessões para retomar a votação do caso. O segundo processo a ser colocado em votação nesta semana é o do deputado Roberto Brant (PFL-MG). O relator Nelson Trad (PMDB-MS) deve ler seu voto na quinta-feira. O caso de Corrêa deverá ser lido até sexta-feira, segundo informou o presidente do conselho. "Poderemos fazer a leitura do Corrêa e do Brant no mesmo dia. Não há problema", disse Izar. A previsão é de que os três relatores peçam a cassação de seus representados.