Título: Lula comemora FMI e operação tapa-buraco
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2006, Política, p. A8

Eleições Em clima de campanha, presidente fiscaliza obras no Nordeste e celebra pagamento de dívida com o FMI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em campanha aberta à reeleição. Comemorou ontem, em cadeia de rádio e televisão, a quitação da dívida do Brasil junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), alegando que o país passará, a partir de agora, a "caminhar com suas próprias pernas", tendo mais dinheiro para investir em educação. Aproveitou para anunciar que, neste último ano de mandato, vai unir o "produtivo e o social", lançando, nos próximos dias, o plano Brasil Produtivo e Solidário, integrando ações na área social e estímulos ao setor produtivo e desenvolvimento econômico. "Um governo que tem apenas o braço social, não passa de um governo caridoso. Isso é bom, porém insuficiente. Um governo que tiver apenas o braço econômico é pobre em valor humano. A ele faltaria a coisa mais importante: o coração. Vamos continuar como sempre fizemos, governando com a mente e o coração", prometeu Lula. A intenção, segundo o presidente, é apoiar a construção civil, a agricultura familiar e o microcrédito. "Serão ampliadas as prioridades do setor de infra-estrutura, em especial nas áreas de energia e transporte. E vamos consolidar importantes programas de desenvolvimento regional", prometeu o presidente. Pela manhã, durante o programa "Café com o Presidente", Lula criticou a oposição, que vem atacando o programa emergencial de tapa-buraco nas rodovias, classificando-o de eleitoreiro. "Entre não fazer e ser criticado e fazer e ser criticado, eu prefiro fazer", desafiou o presidente. Lula foi além, afirmando que, se o governo resolvesse deixar as coisas como estão, sem realizar as obras emergenciais, também daria munição para seus adversários políticos: "Porque aí todos eles já estariam fotografando, filmando, para colocar em seus programas de televisão. Ora, entre a briga partidária e o povo, eu vou ficar com o povo". Segundo o presidente, as obras não foram feitas antes porque só agora o governo conseguiu recursos suficientes para investir em rodovias. "Não tivemos dinheiro no ano de 2003, muito pouco. Nós tivemos apenas R$ 2,5 bilhões em 2004 e somente em 2005 tivemos R$ 6 bilhões empenhados. E agora, mais R$ 6 bilhões em 2006." Apesar de reconhecer que as estradas não serão completamente restauradas, Lula fez uma promessa aos motoristas brasileiros. "Estejam certos de que, se nós não fizemos antes foi porque não pudemos fazer. Se nós continuarmos colocando essa quantidade de dinheiro, certamente, em poucos anos, teremos as estradas brasileiras todas consertadas e muitas estradas novas", ressaltou. A oposição rebateu as boas notícias veiculadas por Lula. "Não classificamos de eleitoreira a ação de tapar buracos. Mas essa é uma iniciativa que deveria ser tomada desde o primeiro ano de governo e não, deixar para o ano eleitoral", criticou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (PSDB-SP). O tucano lembrou, de forma irônica, que buracos não escolhem anos específicos para aparecerem. "Todo o dia surge um. O que não pode é esperar para consertá-los, de forma atabalhoada. Esses remendos vão abrir novamente", alertou o líder do PSDB. Para o líder do minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), ao resolver remendar as rodovias em caráter emergencial, o governo assumiu, de público, que não fez o dever de casa nos 36 meses anteriores. Aleluia ainda acusa o Planalto de descumprir a lei de licitações, ao realizar obras com contratos emergenciais. "Isso só pode acontecer diante de situações imprevistas. Os buracos são mais do que conhecidos de todos. É bem verdade que Lula já recebeu as rodovias em estado crítico. Mas conseguiu piorar", cutucou o pefelista. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse achar curioso que as ações do governo sejam consideradas eleitoreiras e as críticas da oposição, não. "Não é correto que a oposição tente retirar a legitimidade de qualquer ação de governo", devolveu Chinaglia. Para ele, se tucanos e pefelistas estão tão incomodados com a operação emergencial, que iniciem campanhas, na televisão e nas ruas, para que os buracos continuem abertos nas rodovias. "Por que, ao invés de criticar os R$ 440 milhões liberados pelo governo, eles não falam: 'Somos contra, queremos que as pessoas continuem se acidentando e morrendo nas rodovias'"?, questionou. Entre o Café com o presidente e o pronunciamento de rádio e televisão, à noite, Lula percorreu três estados - Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco - para vistoriar as obras da BR 101, que não fazem parte do plano emergencial de recuperação das rodovias. Essa obra, segundo o presidente, deveria ter começado em março de 2005, mas as empresas que perderam a licitação questionaram o processo por meio de recursos judiciais, atrasando a execução da obra. Para não comprometer ainda mais o cronograma, parte dos trabalhos - 142 dos 336 quilômetros da rodovia - foi transferido para o Batalhão de Engenharia e Construção do Exército. "Se a disputa judicial não for resolvida, a obra poderá ser toda realizada pelo exército", ameaçou Lula. Lula prometeu que vai viajar até o fim do ano, inaugurando obras de seu governo. "Estamos viajando e vamos continuar viajando muito mais porque esse é o papel do presidente da República. Ele não pode parar por causa de um ano eleitoral. Tenho que governar o Brasil até 31 de dezembro de 2006", disse. Segundo o presidente, essas viagens pelo Brasil incomodam a oposição. "Eu não sei se os críticos gostariam que eu ficasse trancado dentro do Palácio do Planalto. Talvez eles queiram que eu fique trancado lá, para eles poderem andar sozinhos." (Com agências noticiosas)