Título: PFL força a porta para entrar em São Paulo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2006, Opinião, p. A10

Em política não há lugar para amadores - e não se pode negar que o PFL é um partido de profissionais. O partido, que tem notório senso de oportunidade, está aproveitando a cizânia interna do PSDB em torno da vaga de candidato a presidente da República para dar um salto eleitoral em outubro. A primeira providência é obter dividendos em São Paulo, de onde são os dois candidatos tucanos, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito da capital, José Serra. Na pior das hipóteses, o PFL consegue, com a opção do PSDB a qualquer um dos dois, algo que nunca obteve pelo voto: ficar oito meses à frente do governo do Estado com Cláudio Lembo, vice de Alckmin, ou dois anos e oito meses na prefeitura com o vice de Serra, Gilberto Kassab. O lance ousado é o de tentar negociar com Alckmin o apoio do PSDB a um candidato do partido ao governo, sob o argumento de que o PSDB, que venceu as últimas três eleições paulistas ao governo, não tem um candidato forte - com Alckmin, não com Serra, porque o vice do governador teria "apenas" oito meses à frente do governo. É a forma de conseguir arrombar a porta num Estado onde sempre teve votação medíocre. A outra providência é garantir que o PSDB manterá inalterado o status quo na Bahia, onde o partido, pelas mãos do senador Antonio Carlos Magalhães, obteve 20 dos seus 75 deputados eleitos em 2002. A visibilidade de ter um pefelista à frente do governo de São Paulo ou da prefeitura paulistana dá ao PFL algo que ele jamais correu o risco de ganhar pelo voto. O PFL continua um partido de perfil nordestino e tem fraca penetração na região Sudeste do país, à exceção do Rio, onde chegou à prefeitura da capital pelas mãos de um político de características populistas e cuja liderança pessoal foi consolidada nas hostes brizolistas. Em São Paulo, o partido nunca teve luz própria: seu desempenho para deputado federal sempre esteve condicionado à aliança feita para o governo estadual. Sua votação no Estado é declinante. Em 1998, o partido obteve 11,25% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados; quatro anos depois, apenas 6,98%. Nas eleições municipais de 2000, conseguiu 9,34% dos votos para prefeitos no primeiro turno e 1,16% no segundo. Em 2004, alcançou apenas 5,73% da votação para as prefeituras do Estado. Portanto, se o PSDB não tem nomes fortes para apresentar ao eleitor em outubro como candidato à cadeira do Palácio dos Bandeirantes, o PFL, além de não ter líderes, também historicamente carece de votos. Os nomes até agora apresentados ao PSDB são o do vice-governador Cláudio Lembo, com parca experiência eleitoral; o do presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, com pouquíssima aderência política, e o do "xerife" e senador Romeu Tuma, de destino incerto numa eleição para o maior cargo do Estado. O lance baiano ainda é mais maquiavélico. O PFL talvez não se livre de parceiro tão incômodo como o senador Antonio Carlos Magalhães porque dele depende: ACM apenas não elegeu um governador na Bahia na primeira eleição direta pós-ditadura, em 1982; só perdeu a prefeitura da capital duas vezes no período e elege sozinho uma legião de deputados e prefeitos. No ano 2000, por exemplo, o PFL venceu em 288 dos 471 municípios baianos. O PSDB baiano é oposição ferrenha ao PFL e faz parte do esporte de ACM submeter os tucanos do Estado via acordos nacionais. No primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, o ministro Sérgio Motta neutralizou um acordo dos tucanos na Bahia contra o PFL. O maior líder do tucanato do Estado é o deputado Jutahy Magalhães Jr., um serrista doente. A exigência do PFL no mínimo causa constrangimentos a José Serra, numa eventual coligação com o partido presidido por Jorge Bornhausen. O partido sabe que essa é a sua grande chance. O PFL é um aliado preferencial para qualquer candidato pois, dos grandes partidos, é o único que expressa disposição de se coligar. O PMDB, com certeza, vai para a eleição com um candidato próprio e, quando for se coligar no segundo turno, pode ir tanto para o lado do governo, como da oposição - a escolha recairá sobre o candidato que tiver mais chances de vencer o segundo turno. O PFL não tem nomes, mas tem senso de oportunidade. Nas eleições de 2002, seu racha com o PSDB teve boa parcela de responsabilidade pela derrota tucana. Tem cacife agora para fazer um bom acordo, reproduzindo a aliança que ficou oito anos no poder com Fernando Henrique Cardoso.