Título: Desaperto se mantém ainda em ritmo lento
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2006, Finanças, p. C2

O mercado futuro de juros da BM&F já está com posições e contratos preparados para uma decisão do Copom do Banco Central que signifique a manutenção do ritmo suave e conservador de declínio da Selic deflagrado na reunião de outubro. Para preservar o gradualismo ortodoxo e rechaçar as pressões pela imposição de um grau maior de desaperto monetário, basta ao Copom reduzir amanhã, ao término de sua reunião de dois dias, o juro básico em 0,75 ponto percentual, para 17,25%. Se o Comitê cortar a taxa em 0,50 ponto, para 17,50%, estará dando um passo atrás em relação à flexibilização monetária iniciada há quatro meses. O Copom começou a cortar mensalmente o juro no encontro de setembro ao ritmo de 0,25 ponto. E aumentou a dose mensal para 0,50 ponto a partir de outubro. Só que em 2006 o Copom não mais irá se reunir mensalmente. As reuniões ocorrerão a cada 45 dias. A periodicidade mais larga requer, para simplesmente não se fazer nada de novo, um alargamento proporcional do corte. Após onze quedas consecutivas, os contratos mais curtos negociados no DI futuro já estão preparados para dois cortes sucessivos de 0,75 ponto, um amanhã e outro dia 8 de março. Não há nenhuma divisão no mercado, quer no Focus, quer no DI futuro. O consenso (80% das apostas) é de uma redução de 0,75 ponto. Os dois contratos curtos caíram ontem quase com a mesma intensidade dos últimos cinco pregões. A taxa para a virada do mês recuou de 17,50% para 17,46%. E o CDI negociado para a virada do trimestre cedeu de 17,19% para 17,16%. Tecnicamente, o contrato mais curto suporta corte imediato da Selic de até 0,58 ponto. Na prática, os apostadores já cercaram a hipótese de o BC seguir sua sinalização de persistência do ritmo gradual, no caso de hoje, de 0,75 ponto. As decisões de política monetária afetam a curva futura de juros como um todo.

Com pouca dissensão, mercado vê Selic a 17,25%

Não dá, por causa das custosas chamadas diárias de margem, que os investidores acertem de imediato o passo do contrato ao vai-e-vem das expectativas. Isso é feito mediante a adoção de posições inversas em contratos mais distantes. Se a instituição está "comprada" (aposta pós-fixada cujo ganho se amplia quanto menos for a queda determinada) num contrato mais curto, assume posição "vendida" (ponta prefixada, cuja rentabilidade cresce com a audácia do BC) em contrato mais longo. Na média, o lucro estará garantido. Essas operações inversas conseguem minimizar perdas caso o Copom decida abandonar completamente o script. Para a reunião de janeiro, a aposta altamente improvável consiste em um corte de um ponto percentual, o único capaz de acelerar de fato o compasso de queda da Selic. Se o BC concordar com o consenso do mercado - e não haveria motivo para discordar já que o consenso foi firmado em cima das sinalizações do próprio BC - e diminuir a Selic para 17,25%, não estará afrouxando em cada o nó cambial atado pela política monetária. O juro real de 10,9% continuará atraindo levas de capitais especulativos. Ontem, dia de débil liquidez por causa de feriado nos EUA, a moeda fechou em baixa de 0,08%, a R$ 2,2740, apesar de o BC não ter desistido de sua ofensiva cambial. No mercado futuro, vendeu contratos reversos no valor de US$ 411,37 milhões. E no segmento à vista comprou cerca de US$ 150 milhões de oito bancos.