Título: PMDB e PT: o clima azedou
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 13/05/2010, Cidades, p. 32

A cúpula peemedebista vota contra a coligação com o Partido dos Trabalhadores na disputa de outubro. Os petistas, por sua vez, já vinham torcendo o nariz para uma possível aliança com nomes citados na Operação Caixa de Pandora

Subiu no telhado o projeto de aliança entre PT e PMDB. Os dois partidos, que desde a eleição indireta de 17 de abril vinham ensaiando uma coligação para a disputa de outubro, recuaram. Durante reunião da executiva regional do PMDB, na última segunda-feira, a maioria dos dirigentes se posicionou contra a parceria com petistas. Atitude que reflete, na verdade, reação a uma ala do PT contrária à união. Assim, a tendência atual é de que cada uma das agremiações siga caminho em direções opostas. O PMDB estuda lançar candidatura própria.

Um dos principais defensores da aliança com os petistas, o deputado federal Tadeu Filippelli (PMDB) sofre resistências dentro do PT e do próprio partido que lidera na condição de presidente regional. Há setores do PT que consideram a aproximação com o PMDB um tiro no pé porque atrairia não só a força de um partido considerado importante, com generoso tempo de televisão, mas também problemas em tamanho avantajados. O PMDB abriga nomes investigados na Operação Caixa de Pandora. Os distritais do partido, Eurides Brito, Rôney Nemer e Benício Tavares, são alvo do Inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça, que apura o pagamento de propina a deputados da base de apoio ao governo de José Roberto Arruda (sem partido).

A poucos meses da campanha e a dias do encontro dos 350 delegados regionais do PT, não há um petista que assuma a responsabilidade de pedir votos para a turma de Pandora. Uma eventual parceria teria entre as cláusulas do contrato a exclusão dos distritais suspeitos da campanha. Resultado: os deputados do PMDB, alguns com voto na executiva (veja quadro), pressionam para o partido rever a aproximação com o PT. Alegam que uma possível aliança formal com a legenda da esquerda só traria vantagens para os petistas, que ganhariam tempo de TV. E, se muito, ajudaria a eleger Tadeu Filippelli como vice na chapa capitaneada por Agnelo Queiroz. É um casamento de fachada, por interesse. O PT só quer o tempo de TV do PMDB, mas não está interessado em assumir a noiva, contra quem está cheio de preconceitos, ilustra um peemedebista com lugar no comando do partido.

As reservas do PT ficaram explícitas com a declaração de Chico Vigilante de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia orientado o partido a conversar com o PMDB na capital, mas não com a Caixa de Pandora. Vigilante é um dos principais nomes do partido no DF e quem costuma fazer a interlocução entre a direção nacional da legenda e a instância local. Apesar do mal-estar causado pela opinião de alguns petistas, Filippelli ainda defendeu a tentativa de ajustar os ponteiros com o PT de Agnelo durante o encontro com os correligionários na última segunda-feira.

Terceira via Diante das ponderações dos aliados, no entanto, o presidente da sigla já fala abertamente em jogar a toalha nos planos de uma parceria. O PT parecia propor um projeto alicerçado na maturidade, mas em função das disputas internas, da falta de pulso e de liderança, esse plano inicial se converteu em um projeto voltado para o próprio umbigo, para os projetos pessoais de alguns, considerou Filippelli.

O presidente regional do PMDB confia que a legenda chegará a um consenso e trabalhará em sintonia. Segundo afirmou, uma das hipóteses passa por uma terceira via, que poderia reunir PMDB e PSDB e acrescentar adeptos como o DEM, isolado em função da crise, e ainda o PPS, o PHS, o PRP e o PP. Na última sexta-feira, Filippelli esteve com a ex-governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB), com quem conversou sobre uma possível junção. Abadia, por enquanto, não disse nem que sim nem que não. Ela ainda pesa na balança a briga que vai comprar com o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), que se tornou inimigo de Filippelli.

Roriz e Abadia são condenados

Mariana Moreira

O ex-governador Joaquim Roriz (PSC) e a sua sucessora Maria de Lourdes Abadia (PSDB) foram, ontem à tarde, condenados por improbidade administrativa(1). A acusação é de que o ex-governador teria usado o helicóptero do governo para ir à sua residência, localizada no Setor de Mansões Park Way e à fazenda, no município de Luziânia (GO), mesmo depois de não chefiar mais o Executivo local. Durante maio de 2006, ele teria acompanhado Maria de Lourdes Abadia a diversos eventos oficiais. De acordo com a sentença da 8ª Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal, os dois devem devolver aos cofres públicos as despesas com tripulação, combustível e manutenção do aparelho.

Segundo a denúncia do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), após deixar o cargo para concorrer a uma vaga no Senado, Joaquim Roriz teria utilizado o helicóptero, com a colaboração efetiva de Abadia, em 17, 18, 20, 22, 30 e 31 de maio de 2006, para fins eleitorais. Para a instituição, eles infringiram os artigos 10 e 11 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992), ao usarem equipamentos, veículos, máquinas e o trabalho de servidores públicos para um fim privado, pecando contra a honestidade, a imparcialidade, a legalidade e a lealdade às instituições.

Na sentença, Joaquim Roriz confirmou ter usado o helicóptero e alegou que o fez a convite da então governadora, que buscava colher todas as informações para se situar bem nas funções que lhe cumpria desempenhar, diz o texto. Maria de Lourdes Abadia defendeu-se confirmando que necessitava de informações sobre as obras a serem inauguradas.

Por meio de seu assessor de Imprensa, Paulo Fona, o ex-governador garantiu que todas as ocasiões em que utilizou o helicóptero foram pela necessidade de acompanhar sua sucessora. Ele sempre fez uso do helicóptero indo ao encontro dela ou na presença dela, para debater a transição entre os governos, afirma o assessor. Fona comenta ainda que Abadia teria usado o meio de transporte pouquíssimas vezes. Ela tinha medo de voar, revela.

Segundo o Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), o valor da condenação será liquidado na sentença, arbitrada pelo juiz. Depois de definida a quantia, os réus terão que arcar também com multa civil correspondente a duas vezes o valor do dano. Mas, segundo Paulo Fona, Roriz e Abadia, decidiram recorrer da decisão.

Roriz é apontado como um dos favoritos ao Governo do Distrito Federal, nas eleições de outubro. Cinco partidos (PSDC, PRTB, PT do B e PMN) já aderiram à candidatura de Roriz. Em 2006, ele chegou a eleger-se senador, mas renunciou ao cargo para evitar a cassação devido às denúncias de corrupção. Na operação Caixa de Pandora, o ex-governador é citado como o responsável pelo esquema de corrupção que teria continuado na gestão de José Roberto Arruda.]

1 - Corrupção Crimes de improbidade administrativa são atos de corrupção praticados por agentes públicos. Os mais frequentes são enriquecimento ilícito, ao receber vantagens econômicas diretas ou indiretas, superfaturamento, lesão aos cofres públicos, intencionais ou não, além de qualquer atitude que viole a honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições. O conceito oposto é o de probidade, qualidade de probo, íntegro de caráter, honrado.

Integrantes

Conheça a composição da executiva regional do PMDB:

Presidente Tadeu Filippelli

Primeiro, segundo e terceiro vice-presidentes Odilon Aires, Rôney Nemer e Fábio Simão

Secretário-geral Divino Alves

Secretário adjunto Josafá Dantas

Tesoureiro Antônio Márcio da Silva

Primeiro tesoureiro Luís Peachment

Vogais Rose Rainha, Ana Paula Ervilha e André Fortes

Líder do partido na Câmara Legislativa Eurides Brito