Título: Citibank rebaixa ações da Petrobras e recomenda venda
Autor: Cláudia Schüffner e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 17/01/2006, EU &, p. D2

Papel em Foco

Na contramão das análises de diversos bancos, que projetam grande potencial de crescimento da Petrobras até o fim da década, o Citibank divulgou quinta-feira um relatório polêmico em que faz um "downgrade" (rebaixamento) da companhia e recomenda ao investidores a venda das ações. A avaliação, feita em Nova York pela analista Tereza Mello, diverge das de outras instituições como Credit Suisse, Merrill Lynch, Banco Espírito Santo e Pactual sobre os fundamentos da estatal. Todas essas instituições mantêm a Petrobras no topo da lista de melhores papéis, com recomendações de "compra". No caso da Merrill Lynch, a projeção é que a ação ordinária (ON) possa chegar a R$ 53,00, 11,86% acima do fechamento de sexta-feira, de R$ 47,38. A BES projeta para o papel preferencial (PN) preço de R$ 47, 10% acima dos R$ 42,60 de sexta. Vale lembrar que esses preços levam em conta as projeções de resultados futuros da empresa, mas dependem das condições de mercado. Já o Citigroup rebaixou os papéis, que passam a ser considerados de "alto risco", entre outros motivos devido à eleição presidencial. Uma das razões apontadas pela analista ao recomendar a venda é que durante 2005 as ações da Petrobras se valorizaram 111% em dólares, ante uma valorização média de 42% das maiores empresas integradas de petróleo. Ela estima um preço justo para os ADRs (recibos de ações) PN negociados em Nova York de US$ 70, valor já ultrapassado na sexta-feira, quando o papel atingiu US$ 74,82. Mas não é essa a avaliação de outros bancos. O Pactual mantém a Petrobras como "top pick" - avaliação mais alta do banco -, acima, inclusive, da avaliação, de "performance acima da média". O CSFB também mantém a recomendação de compra dos papéis, para os quais a expectativa também é de "performance acima da média", o que significa que o retorno esperado é de pelo menos 10% a 15% acima do conjunto da indústria. Entre os pontos positivos ressaltados pelos analistas dessas instituições está a perspectiva de forte crescimento da produção de petróleo e gás, incluindo o plano de desenvolvimento na bacia de Santos - que deve agregar mais de 300 mil barris por dia à produção -, e a recente declaração de comercialidade do Papa-Terra, campo gigante na Bacia de Campos, e a descoberta de um campo com óleo leve embaixo de Marlim Leste. A área de análise do banco BES Securities mantém a recomendação de compra para a Petrobras, destacando que "o plano de manter crescimento médio de 6,2% da produção até 2010 garante nível elevado de rentabilidade da empresa, mesmo em um cenário de queda no preço do petróleo". Em quadro apresentado no relatório, o Citibank mostra que em dólar os papéis da Petrobras ficaram atrás apenas da russa Lukoil (120%) e muito acima da valorização de grandes empresas do setor como a Shell e Chevron (14%), Repsol (20%), ConocoPhillips (40%) e PetroChina (67%). A analista do Citi admite que as perspectivas de crescimento da produção de petróleo e gás da estatal permanecem elevadas, mas pondera que o alto custo do programa de investimentos da companhia - de US$ 56,4 bilhões no período 2006 a 2010 - vai exigir a utilização de 88% do fluxo de caixa operacional. No plano estratégico referente a 2006-2010, que está sendo revisto e atualizado, a Petrobras previa uma geração de caixa de US$ 58,9 bilhões no período, o que significa que haverá uma "folga" de US$ 2,5 bilhões para pagamento de dívidas. O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, disse ao Valor que a companhia discorda com alguns dos pressupostos assumidos pelo Citi. Sobre a ressalva da analista de que a maior parte do fluxo de caixa da companhia é baseado no longo prazo, Barbassa ressaltou que o cálculo da analista foi feito tomando como base a última captação da Petrobras, de US$ 750 milhões em 2004 para pagamento em dez anos, e antes de uma série de eventos que garantiram o aumento da produção e da elevação da companhia para o grau de investimento. "O custo da emissão de 2004 ficou em 7,95% e hoje, se fizéssemos a mesma captação, ela ficaria em pelo menos 6,5%", diz o diretor. "Falando conservadoramente, a última emissão está pelo menos 1,5% defasada e quando se projeta um fluxo de caixa para 17 anos com uma taxa de desconto maior, isso faz muita diferença", afirma. Ele lembrou ainda que a Petrobras tem apenas 50% das suas reservas de óleo e gás desenvolvidas, e que a companhia é uma das poucas no mundo com fluxo de produção garantido nos próximos 17 anos, considerando as atuais reservas.