Título: Ir à igreja pode aumentar renda pessoal, diz estudo
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2005, Internacional, p. A8

Religião Economista do MIT tenta quantificar relação entre fé e riqueza

No Natal, muitas pessoas fazem coisas que jamais sonhariam fazer no resto do ano, desde oferecer presentes a embebedar-se. Algumas até vão à igreja. Os níveis de presença disparam, num momento em que milhões de devotos por uma vez no ano ocupam os bancos das igrejas. No Reino Unido, país em que menos de uma em dez pessoas freqüenta a igreja, o comparecimento mais do que triplica. Mesmo nos Estados Unidos, onde 40% das pessoas afirmam ir à igreja com freqüência, a participação sobe vigorosamente em dezembro. Alguns desses ocasionais freqüentadores devem se perguntar se não se beneficiariam comparecendo com maior assiduidade. Se assim agissem, poderiam ganhar mais do que alimento espiritual. Jonathan Gruber, economista do Massachusetts Institute of Technology, diz que a participação religiosa regular leva a melhor educação, renda mais elevada e menor probabilidade de divórcio. Seus resultados (baseados em informações sobre americanos brancos não-hispânicos, de várias denominações cristãs, outras crenças e nenhuma) sugerem que dobrar o comparecimento à igreja eleva a renda pessoal em quase 10%. A noção de que a religião pode trazer vantagens materiais tem uma história ilustre. Há um século, Max Weber argumentava que a ética de trabalho protestante estava por trás da prosperidade européia. Mais recentemente, Robert Barro, professor de Harvard, examinou os vínculos entre religião e crescimento econômico. No nível microeconômico, vários estudos concluíram que a participação religiosa está associada a menores taxas de criminalidade, de uso de drogas, etc. Richard Freeman, outro economista de Harvard, descobriu há 20 anos que jovens negros freqüentadores de igreja tinham maior probabilidade de cursar a escola e menor probabilidade de cometer crimes ou usar drogas. Até recentemente, porém, havia pouca pesquisa quantitativa para apurar se a religião afeta a renda diretamente e, caso afirmativo, em quanto. Um grande obstáculo é a dificuldade de discernir entre causa e efeito. Que freqüentadores de igreja possuem renda mais elevada que não-freqüentadores não prova que a fé os tornou mais ricos. Pode ser que pessoas mais ricas são mais propensas a ir à igreja. Ou mesmo características não relacionadas, como uma maior ambição ou disciplina pessoal, podem levar as pessoas a ir à igreja e também a ter sucesso no seu trabalho. Para distinguir causa de coincidência, Gruber usa informação sobre a mistura étnica de comunidades e congregações. Os sociólogos há muito alegam que as pessoas estão mais propensas a ir à igreja se os seus vizinhos compartilham a sua fé. Dessa forma, é mais provável que poloneses em Boston (onde há muitos católicos italianos e irlandeses) compareçam à missa que os poloneses em Minneapolis (onde há mais protestantes escandinavos). A medição da densidade das nacionalidades que compartilham uma religião em uma certa cidade pode, portanto, ser um bom elemento de prognóstico para comparecimento à igreja. A densidade étnica, porém, não é inteiramente independente da renda. Estudos concluíram que aqueles que vivem com grande número de pessoas da mesma origem étnica tendem a estar em situação pior em comparação com quem não está "em condição de gueto". Gruber, então, exclui o próprio grupo da pessoa das medições e calcula a densidade dos "correligionários", a proporção da população que compartilha a religião da pessoa, mas não a sua etnia. De acordo com os cálculos de Gruber, um aumento de 10% na densidade dos correligionários leva a uma elevação de 8,5% no comparecimento à igreja. Após controlar outras diferenças intermunicipais, Gruber descobre que um aumento de 10% na densidade dos correligionários leva a um incremento de 0,9% na renda. Em outras palavras, por haver um grande número de católicos não poloneses em Boston e um pequeno número em Minnesota, os poloneses em Boston vão à igreja com maior freqüência e também estão materialmente em melhores condições na comparação com, por exemplo, os suecos em Boston do que estão os poloneses em Minnesota em relação aos suecos em Minnesota. Gruber encontrou pouca evidência de que viver próximo a grupos étnicos diferentes da mesma crença afeta qualquer outra atividade cívica. Poloneses de Boston não têm nenhuma probabilidade a mais de se associar a organizações seculares que os poloneses de Minnesota. Considerando-se que as diferenças gerais entre cidades já foram controladas, isso o leva a concluir que o fator que está induzindo as diferenças em renda deve ser o comparecimento religioso. Outros economistas, embora considerem a abordagem de Gruber brilhante, não estão certos de que ele tenha estabelecido um vínculo causal entre empenho religioso e riqueza. Então, como ir à igreja pode tornar as pessoas mais ricas? Gruber propõe várias explicações. Uma idéia plausível é que ir à igreja rende "capital social", uma teia de relações que induz à confiança. Economistas crêem que esses laços podem ser valiosos, pois facilitam os negócios e tornam transações mais baratas. A freqüência na igreja pode simplesmente ser uma forma eficaz de criá-las. Outra possibilidade é que os membros de uma congregação desfrutam segurança emocional e (talvez) financeira. Isso lhes permite recuperar-se mais rapidamente de reveses, como a perda de emprego, em relação ao que ocorreria sem o apoio dos seus paroquianos. Ou talvez a religião e a riqueza estejam vinculadas através da educação. Os resultados de Gruber sugerem que maior comparecimento à igreja leva a mais anos em escola e a menor probabilidade de deixar a faculdade. Uma igreja vibrante também pode impulsionar o número de escolas religiosas, que por sua vez podem elevar o nível de aproveitamento acadêmico. Por fim, a fé religiosa, por si só, pode ser o canal pelo qual os freqüentadores de igreja tornam-se mais ricos. Talvez, como reflete Gruber, os fiéis estariam "menos estressados" em torno das atribulações do cotidiano e, portanto, mais bem preparados para o sucesso. Isso pode tornar a religião mais atraente para alguns daqueles que aparecem apenas uma vez ao ano. Considerando-se, porém, que Jesus alertou seus seguidores contra a acumulação de riquezas mundanas, seria possível imaginar que não era essa a motivação para ir à igreja o que tinha em mente.