Título: Reviravolta surpreendeu credores
Autor: Carolina Mandl e Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2005, Empresas &, p. B2

A reviravolta inesperada transformou-se em polêmica logo cedo. Quando as duras negociações com os credores pareciam ter sido concluídas e bem-sucedidas, a Parmalat chegou com a proposta que lhe daria o direito de voltar ao controle já em 2009. Daí para um impasse, foi rápido. Os credores bateram o pé, mas a companhia não cedeu. "A devedora não aceitará o plano sem essa cláusula", disse o advogado da empresa, Thomas Felsberg, para em seguida pedir que a reunião fosse suspensa. "Os bancos estão fechados nessa questão. Damos prazo, sim, mas para a Parmalat discutir essa questão com a Itália", rebateu Flávia Andrade, advogada do ABN-Amro e porta-voz do grupo de credores apelidado de "G-7" por conta de seu poder nas negociações. Foi assim o dia todo. Cada sugestão apresentada pela empresa ou pelos próprios credores era motivo para longas discussões. Os debates eram intermeados por pausas para lanchinhos - uma mesa repleta de sucos e biscoitos da Parmalat, água e café - matava a fome de advogados estressados do lado de fora da sala onde acontecia a assembléia. Nada que impedisse uma pausa para o almoço, enquanto persistia o impasse nas negociações. O corre-corre dos advogados de um lado para outro, muitos falando ao celular em busca das instruções de seus clientes, retratava com exatidão o tamanho das várias polêmicas em jogo. Os debates já vinham de várias semanas. A assembléia da Parmalat Alimentos havia sido suspensa em duas outras ocasiões e ontem caminhava para um desfecho. A empresa e os credores têm pressa porque o prazo dado pela recuperação judicial para o plano de reestruturação vence na próxima semana. Apesar da disposição, os debates emperravam nos detalhes. Por volta das 18h30 - a assembléia havia começado às 9h30 e fora interrompida diversas vezes - os bancos ainda discutiam valores dos créditos incluídos no plano. No processo, a Justiça reconheceu que a Parmalat tem dívida de R$ 900 milhões. (TM e CM)