Título: BNDES corta spreads e reduz mais os custos dos seus financiamentos
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2005, Finanças, p. C2

No mesmo dia em que o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu pela redução da TJLP, o presidente do BNDES, Guido Mantega, resolveu dar uma contribuição adicional para redução do custo de capital para as empresas que tomam empréstimos no banco de fomento e anunciou ontem uma redução média de 1 ponto percentual nos 'spreads' (taxa de remuneração) cobrados pelo BNDES para diversos segmentos. Com a medida, segundo Mantega, há uma redução média de 1,75 ponto percentual nas taxas finais cobradas, o que significaria uma redução de cerca de 13% no custo de captação em alguns setores. Os juros finais são compostos de TJLP (9%), mais taxa de risco e o spread. As reduções estão incluídas em pacote de mudanças na política operacional do banco de fomento, que incluem ainda modificações na maneira de analisar a taxa cobrada pelo nível de risco de cada empresa. Antes essa taxa era fixa em 1,5% para todas. Agora vai variar entre 0,8% e 1,8%, e será definida de acordo com o 'rating' atribuído a cada empresa. Outra novidade é que o setor de inovação passa a ser a grande prioridade e, além de ter o spread zerado, não tem na composição final do custo o juro da TJLP, mas sim uma taxa fixa de 6%. Segundo o diretor de Planejamento, Antônio Barros de Castro, essa estratégia põe o BNDES em sintonia com a política industrial brasileira. "Estamos convencidos de que a arma mais poderosa de competição é a inovação", disse Castro. O presidente do banco explicou que o BNDES está tentando contribuir de forma "mais expressiva para a fase de desenvolvimento que está em curso". No novo formato, o banco enquadrou os setores por faixas de prioridade que vão de AA (microcrédito faixa 1 e bens de capital inovação), com spread zero; A (spread de 1%), B (1,5%), C (2%), D (3%). O vice-presidente do BNDES, Demian Fiocca, explicou que uma operação típica, para aumento de capacidade produtiva na indústria ou no setor de serviços em empresa de grande porte, que antes tinha juro de 14,25% (TJLP de 9,75% mais spread de 3% e taxa de risco em 1,5%) pode cair agora para um custo de 12,5%. Boa parte das novidades passa a valer imediatamente e algumas dependem ainda de alguns ajustes no sistema interno. "É uma mudança grande, estamos remodelando toda a política operacional em novas bases, isso exige ajustes", explica Mantega. Ele admitiu ainda que as medidas devem reduzir um pouco o lucro do banco, pois parte dos valores obtidos nas operações de mercado de capitais serão direcionados para esses incentivos, mas ressaltou que este ano o resultado será recorde. Até o terceiro trimestre, o BNDES teve lucro acumulado de R$ 2,4 bilhões. As reduções das taxas ocorrem após um ano em que o banco terá uma sobra de pelo menos 20% do orçamento de empréstimos inicialmente previsto, que era de R$ 60 bilhões. Mesmo o valor revisto, de R$ 50 bilhões pode não ser integralmente atingido, uma vez que até novembro o banco desembolsou R$ 40 bilhões. Segundo Mantega, este mês os desembolsos estão na casa dos R$ 6 bilhões até agora. Ele assegurou ainda que está otimista para o próximo ano e não há perspectiva de redução do orçamento previsto, R$ 60 bilhões.