Título: Lula volta à articulação para tentar manter PMDB no governo
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2004, Poítica, p. A-8

O Palácio do Planalto e a ala governista do PMDB já fazem um balanço negativo do que poderá ocorrer caso se realize a convenção da sigla no dia 12 de dezembro, convocada para definir se o partido rompe ou não com o governo. Segundo estas avaliações, a maioria dos convencionais tende a ficar ao lado dos governadores, que desejam o PMDB distante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a entrega dos cargos que hoje ocupa. Caso os governistas percam a convenção, o desembarque será inevitável. Os aliados de Lula no partido já avisaram que não irão abrir dissidência se forem derrotados. Esta semana será decisiva para tentar reverter esta tendência adversa. Nesta sexta-feira, Lula irá almoçar com os deputados do PMDB na residência do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, e jantar com os senadores na casa do coordenador político do governo, ministro Aldo Rebelo. Com a ala oposicionista do partido, Rebelo é o interlocutor. O ministro almoçou ontem com o presidente do PMDB, Michel Temer, que está alinhado com os governadores e almoça hoje com o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique Silveira. Estava prevista para ontem uma conversa, por telefone, de Rebelo com o ex-governador Anthony Garotinho, que controla a seção local do partido e se coloca como presidenciável do PMDB para 2006. "Os governadores precisarão compor para se reelegerem ou fazerem seu sucessor na próxima eleição. O resultado das eleições indica esta necessidade. Nenhum partido teve mais que 20% dos votos", afirmou. O ministro foi enfático ao frisar que não existe uma divisão dentro do governo federal sobre como lidar com o PMDB. "Esta convicção é minha e do ministro José Dirceu. Não vamos julgar Dirceu por algumas frases, e sim por seus atos", disse. Em um recente encontro com jornalistas, o ministro da Casa Civil defendeu que o governo não faça gestos políticos de aproximação com o PMDB, porque o partido estaria blefando: não teria como romper com o governo. Ontem, os primeiros movimentos dos governistas para tentar adiar a convenção não surtiram efeito. Ao chegar no Congresso, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), anunciou que a maioria dos integrantes da Executiva do partido entregara a Temer mensagens pedindo a transferência de data. "Dezessete membros da executiva do PMDB já escreveram ao Michel Temer pedindo o adiamento da convenção para que antes sejam feitas as convenções estaduais. Eu acho que o adiamento é prudente. A questão não está madura pra ser tomada um decisão de convenção", disse Sarney. O presidente do PMDB ignorou o gesto. "Não foi pedido o adiamento da convenção nacional, apenas que houvesse condições para que as convenções regionais acontecessem antes. Considerei prejudicado, porque as convenções regionais já estão convocadas", afirmou Temer. O partido decidiu na semana passada que os diretórios regionais devem promover consultas e encaminhar o resultado para a Executiva Nacional até o dia 5 de dezembro. O presidente nacional do PT, José Genoíno, voltou a mostrar que o PT resiste a discutir alianças de 2006 neste momento. Sugeriu que o assunto comece a ser tratado no segundo semestre do ano que vem. E apostou que a crise dentro do PMDB será superada nos próximos dias.