Título: Produção industrial crescerá este ano sem risco de gargalos, prevê CNI
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2006, Brasil, p. A2

Há espaço para retomar a atividade industrial neste ano sem risco de gargalos, porque a média do uso da capacidade instalada está no nível dos 80%. Além disso, o aumento da demanda que permitiu, no fim do ano passado, um ajuste nos estoques, pode ser conseqüência do início da redução da taxa básica de juros. Se esse processo for mantido, o cenário é positivo para a produção industrial nos próximos meses. A análise é do coordenador da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. Ele espera, para este ano, uma economia sem restrições de oferta. Não foram revisadas as projeções da CNI feitas, no fim do ano passado, para o crescimento do PIB em 2005 (2,5%) e 2006 (3,3%). O economista da CNI não espera grandes surpresas para o primeiro trimestre de 2006, mas aguarda decisões positivas do Copom. Exemplo disso, segundo Castelo Branco, seria um corte entre 0,75 e um ponto percentual na Selic na reunião de hoje. Isso porque há condições econômicas e a próxima reunião será somente depois de 45 dias. "O Banco Central pode olhar para o uso da capacidade instalada da indústria e ficar tranqüilo", diz. Castelo Branco também comentou as preocupações do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, que defendeu um debate sobre o PIB potencial. Para Levy, é preciso identificar as razões que impulsionam a inflação cada vez que o PIB cresce com mais força, o que acaba levando a um aumento dos juros. "O secretário está preocupado com os efeitos, no longo prazo, dessa dura política monetária. O medo é desestimular os investimentos, o que é ruim para o crescimento sustentado", avaliou Castelo Branco. Em novembro do ano passado, a pesquisa Indicadores Industriais, da CNI, mostrou queda nas horas trabalhadas na produção industrial e recuo no pessoal empregado em relação ao mês anterior. Também foi verificado crescimento nas vendas reais da indústria. Considerando o período janeiro-novembro, a comparação com 2004 é positiva. Os salários líquidos reais aumentaram 8,20%, as horas trabalhadas cresceram 4,84%, o pessoal empregado foi 4,47% maior e houve elevação de 2,14% nas vendas. O economista afirmou que o comportamento dos indicadores industriais, em novembro, reflete um ajuste no nível dos estoques. Na comparação com outubro, as horas trabalhadas na produção recuaram 1,04%, o pessoal empregado foi 0,36% menor e os salários foram 0,09% mais baixos. Esse movimento levemente negativo dos salários em novembro interrompeu oito meses consecutivos de crescimentos, segundo a série com ajustes sazonais da CNI. Por outro lado, as vendas cresceram 3,84% sobre outubro, o que representa o maior aumento desde agosto de 2003 (4,77%). O resultado interrompeu um período de quatro meses consecutivos de retração. Segundo a CNI, o comportamento da indústria em novembro já começou a mostrar os efeitos de uma política monetária menos restritiva, mas também recebeu influência do aumento do volume total do crédito concedido e da redução da taxa de juros média. O volume total do crédito concedido em novembro foi 4,4% maior que a média dos quatro meses anteriores. A análise do uso da capacidade instalada da indústria, em novembro, revela média de 80,8%, nível menor que o de outubro (81%) e também inferior ao de novembro de 2004 (83,2%). Esse fenômeno é explicado por duas causas: houve desaceleração no crescimento da atividade e também vem ocorrendo a maturação de alguns investimentos.