Título: PSDB adia decisão sobre comando
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2004, Política, p. A-8

O prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB) fortaleceu ontem o seu controle sobre o comando do partido, que preside. Recebeu manifestações públicas do governador paulista, Geraldo Alckmin, e do mineiro, Aécio Neves, de que não haverá contestação caso Serra queira acumular a presidência da sigla com a administração municipal. O temor de mostrar a divisão do partido logo após a vitória em São Paulo foi o elemento decisivo para dar a Serra carta branca para agir como quiser em relação ao assunto. Até a tarde de anteontem, Alckmin era visto dentro do partido como um operador para que Serra não acumulasse os dois cargos, de acordo com um integrante da Executiva. O quadro teria mudado quando o paulista constatou que, em caso de renúncia do prefeito, a posse do vice, senador Eduardo Azeredo (MG), ligado a Aécio, era inevitável e não haveria espaço para a eleição de um novo presidente da sigla. Ontem, Alckmin já deu sua concordância com o acúmulo de poder de Serra. "Se o prefeito achar que dá para acumular as funções, cabe a ele avaliar. O Serra é competente para isso. É uma questão íntima", disse Alckmin. Em Brasília, Aécio adotou o mesmo tom. "Caberá ao presidente Serra e ao prefeito Serra avaliar como encaminhar esta questão da melhor maneira e o PSDB tem muitas outras prioridades que não essa. Ele saberá encaminhar da melhor maneira, que atenda os interesses do PSDB e não há um prazo para isto", disse o mineiro. O segundo na linha de poder foi mais comedido: "A questão da presidência só vai se apresentar em janeiro e só então vamos discutir com Serra. O importante é o partido continuar unido", afirmou Azeredo. O dia ontem em Brasília, contudo, demonstrou a divisão. Enquanto Serra comandava a primeira reunião da Executiva Nacional do PSDB depois da eleição, sem que o assunto fosse colocado em pauta, Aécio, Azeredo, o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM) e outros senadores almoçavam no gabinete do senador Tasso Jereissati (CE). Oficialmente, para tratar de reforma tributária e assuntos de interesse de Minas Gerais. Os senadores só chegaram ao encontro presidido por Serra no final da reunião, e sem Tasso. Aécio e Serra não se encontraram. "O Serra me ligou hoje (ontem) cedo e devemos nos encontrar em Belo Horizonte", afirmou o governador. Depois da reunião, Serra foi lacônico ao comentar o tema. "Este assunto não foi levantado ainda. Vou pensar sobre isso, mas não é prioritário", disse. O estatuto do partido é o grande instrumento que permite a Serra esta liberdade de ação. As regras permitem que um detentor de mandato no Executivo acumule funções partidárias. Portanto, os que querem limitar o poder do prefeito poderiam, no máximo, criar constrangimentos para pressioná-lo a renunciar, o que não pretendem fazer. Segundo o prefeito eleito, o encontro de ontem foi ameno: serviu para discutir a posição do partido sobre a reforma política (ler página A12) e a estratégia do PSDB como oposição para o próximo ano. Uma posição comum dos prefeitos do partido em relação aos assuntos financeiros da prefeitura deve surgir no encontro com todos os eleitos na disputa deste ano, que deve ocorrer no dia 1º de dezembro.