Título: Relator recomenda cassação de deputado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2006, Política, p. A6

O deputado Chico Alencar (P-SOL-RJ) recomendou ao Conselho de Ética da Câmara, ontem, a aprovação do pedido de cassação do colega Wanderval Santos (PL-SP) por envolvimento com o esquema do mensalão. Em reunião do colegiado, Alencar divulgou seu voto e destacou a submissão de Santos ao ex-deputado Carlos Rodrigues (PL-SP). O deputado José Carlos Araújo (PL-BA) pediu vista do processo depois da leitura do voto. O relatório será votado pelo conselho na manhã de sexta-feira. Ainda ontem, o conselho colheu depoimento do deputado José Mentor (PT-SP), acusado de receber R$ 120 mil do valerioduto. Na versão apresentada ao Conselho de Ética, Wanderval informou aos deputados que seu motorista, Célio Marcos Siqueira, buscou R$ 150 mil na agência do Banco Rural por ordem de Carlos Rodrigues. O dinheiro não teria Wanderval como beneficiário. A própria explicação justificou o pedido de perda de seu mandato. "O representado (Wanderval) procura eximir-se de responsabilidade, alegando, em síntese, que não era senhor do seu próprio mandato, que era um submisso, um subalterno, um inferior, um ´subordinado hierarquicamente´ ao então deputado Bispo Rodrigues", escreveu Alencar, em seu voto. O comportamento de Wanderval é reprovável, na opinião do relator. O denunciado teria contrariado "os padrões normais de altivez, independência e correção exigíveis no exercício do cargo". Além disso, os deputados, "articulados partidariamente, não podem submeter-se hierarquicamente uns a outros", disse Alencar. Wanderval se defendeu. Chorou ao falar da dignidade com que atuou na Câmara nos últimos anos. Lembrou que não há provas contra ele (o empresário Marcos Valério de Souza disse que não o conhecia nem nunca tinha ouvido falar dele). Já no depoimento feito também ontem, o deputado José Mentor (PT-SP), reiterou que os dois depósitos, no valor de R$ 60 mil feitos nas contas de seu escritório de advocacia, foram pagamentos relativos à execução de serviços jurídicos. Os dois cheques foram emitidos pelo sócio de Valério, o advogado Rogério Tolentino. "Foi uma relação de escritório para escritório. É algo natural", afirmou o deputado. A difícil situação de Mentor, porém, não decorre apenas do recebimento desses dois cheques. O deputado vive momento delicado por causa de seu passado recente, quando foi relator da CPI do Banestado, palco de ríspida disputa entre governo e oposição. O relatório da CPI não foi apresentado por conta de disputas políticas entre ele e o presidente da comissão, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT). O relator do caso de Mentor, Edmar Moreira (PFL-MG), passou mais de duas horas perguntando ao deputado sobre sua conduta à frente da CPI do Banestado e tentando fazer um relação entre o mensalão e a CPI fracassada. Moreira perguntou a Mentor se ele havia beneficiado o Banco Rural no relatório final (nunca votado) da CPI. "É um inverdade. O Rural foi citado duas vezes no texto e houve investigação sobre o banco", afirmou o petista. Ele negou também que os quatro encontros com Marcos Valério nessa época teriam sido para tratar de assuntos da CPI. "Discutimos campanhas eleitorais em cidades de São Paulo", afirmou. Mentor sabe que sua situação é agravada pelo caso do Banestado. "Não posso ser condenado por ter sido relator da CPI do Banestado", pediu aos colegas.