Título: Governistas reagem à CPI das Privatizações
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2006, Política, p. A8

A criação da CPI das Privatizações provocou incômodo entre governistas. O presidente do Senado, Renan Calheiros, reagiu com sarcasmo ao ser indagado se é propícia a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito em ano eleitoral. "O endereço dessas loucuras não é o Senado", disse. Segundo Renan, a tática de "encurralar correntes" é prejudicial ao processo político. "O que precisamos discutir nesta eleição são propostas, idéias, o que cada partido pensa como modelo de Nação, e não encurralarmos uns aos outros fazendo CPIs", criticou. Para o presidente da CPI Mista dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), a criação de uma comissão agora "não terá praticidade". Os parlamentares prevêem que o Congresso só funcione efetivamente até abril. Em debates internos, um grupo de petistas considerou um equívoco político tentar atingir o PSDB pela CPI das Privatizações. "O PT criou um factóide, que é essa CPI, exatamente no momento em que o PSDB brigava pela eleição presidencial. É uma tática tão burra que simplesmente apagou a briga do PSDB na mídia", analisou um petista. O ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, afirmou que não participou de articulações no PT em favor da criação da CPI. "Quero deixar bem claro que não participei de nenhuma conversa, enquanto integrante do Governo, para instalar ou não essa CPI. Para nós, o que interessa é a conclusão das investigações. Quanto tempo elas vão demorar, ou se essa (CPI das privatizações) será instalada ou não, não interessa", rebateu. O governo, enfatizou o ministro, também não trabalha para encurtar o funcionamento das CPIs. "Não há preocupação do governo em acelerar nada." Parlamentares petistas discutiram na noite de segunda-feira o andamento das CPIs. O PT decidiu monitorar de forma mais efetiva o relatório da CPI dos Bingos sobre o contrato da Caixa Econômica Federal com a multinacional Gtech. Apesar de o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não ser diretamente mencionado no relatório, a CPI vai sugerir o indiciamento de vários ex-assessores do ministro e de dirigentes da Caixa. Deputados e senadores petistas avaliam que é impossível controlar as investigações no Ministério Público, o que pode render uma nova onda de desgastes ao Governo. Em reunião realizada na noite de terça-feira, parlamentares petistas debateram o rumo das CPIs no Congresso. Sobre a CPI dos Correios, permanece a tentativa dos petistas moderados de costurar um texto para o relatório final, desde que mencione também o PSDB e o PMDB. Para o presidente da CPI, o relatório final deve ser apresentado na segunda quinzena de março para que os integrantes da comissão tenham tempo para analisá-lo e buscar um consenso para a votação até o início de abril. (MLD, colaborou Paulo de Tarso Lyra)