Título: PFL e PSDB buscam aliança com "risco zero"
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2006, Política, p. A8

Eleições Pefelistas trabalham com favoritismo de Serra entre tucanos e já descartam candidatura de Cesar Maia

Dirigentes do PSDB e PFL decidiram tratar a eleição presidencial de outubro como um investidor bastante conservador: "Não temos direito ao risco", avalia um dos envolvidos nas articulações para a definição de uma eventual aliança dos dois partidos. As conversas entre os dois partidos se intensificaram nesta semana, após a ofensiva desencadeada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O prefeito de São Paulo, José Serra, ainda é tratado como franco favorito. Dentro da lógica do "risco zero", Alckmin só emplaca se alcançar aproximadamente 40% nas pesquisas de intenção de votos e se distanciar do terceiro colocado, o ex-governador do RJ, Anthony Garotinho, que ainda aparece como ameaça ao governador paulista. A direção do PFL já vê a candidatura do prefeito Cesar Maia como carta fora do baralho. Como o cenário mais provável é a candidatura de Serra, o PFL terá a Prefeitura de São Paulo por três anos e governará o Estado por quase um ano, uma vez que Alckmin já anunciou a desincompatibilização. Assim, os pefelistas estão conscientes que perdem o poder de barganha para definir o candidato ao governo de São Paulo. Vão exigir, no entanto, outras alianças fundamentais, especialmente na Bahia, Maranhão e Sergipe, locais onde as rusgas com o PSDB não são pequenas. "Não vamos impor um nome em São Paulo para assumir, depois, a responsabilidade por uma derrota desta dimensão", definiu um dirigente do PFL. Alckmin disse a políticos do PFL, no fim do ano passado, que vê com simpatia a candidatura de seu vice, Cláudio Lembo, ao governo. Com Serra candidato à Presidência, caberá a Alckmin a responsabilidade pela condução da sucessão no Estado. O governador também prega racionalidade em São Paulo. Nenhum dos dois partidos têm candidato forte e a competição com os petistas Marta Suplicy ou Aloizio Mercadante não será fácil. O próprio Alckmin acha que também em São Paulo o que definirá o rumo da candidatura serão as pesquisas. Em diálogo com um parlamentar do PFL, ele foi claro: "O PT é muito competitivo e não vou me aventurar no apoio a qualquer candidatura". Tanto Serra quanto Alckmin já vinham construindo um diálogo com o PFL sobre a importância de terem um vice nordestino. Os tucanos não transitam bem pela região, ao contrário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que venceu em 2002 em todos os Estados nordestinos, exceto Alagoas. Se essa for a regra, aumentam as chances de o senador José Agripino Maia (RN) ser o indicado. Agripino mantém contatos freqüentes com ambos. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), também está no páreo, mas perde no ranking das possibilidades por ser do Sul e amargar atualmente uma situação eleitoral desconfortável. A definição dos partidos para a Presidência e o governo de São Paulo só deve ocorrer em março. Enquanto isso, as duas legendas tratam de aparar as arestas nos demais Estados para viabilizar a união nacional. Caminha bem a junção no Rio Grande do Sul. O PFL está disposto a apoiar a deputada Yeda Crusius. No Paraná, é possível uma que ambos apóiem o senador Osmar Dias (PDT) na cabeça de chapa. Na Bahia, os obstáculos não são pequenos. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) é historicamente rival do deputado tucano e serrista Jutahy Júnior. Em nome do projeto nacional, ambos poderão caminhar juntos na reeleição do governador Paulo Souto. As direções dos dois partidos batalham por isso. O diálogo do PFL com o PSDB vai melhorar, segundo os pefelistas, se os tucanos mostrarem boa vontade também em Sergipe, Pernambuco e Maranhão. A senadora Roseana Sarney quer voltar ao governo e busca uma trégua com o PSDB, com quem rompeu em 2002. Os senadores Sérgio Guerra (PSDB) e Marco Maciel (PFL) tentam consenso em Pernambuco. Em Santa Catarina, os senadores Leonel Pavan (PSDB) e Jorge Bornhausen dão sinais de entendimento. A aliança PFL-PSDB se repetirá sem traumas no Distrito Federal, Mato Grosso e Minas Gerais, onde deputado Eliseu Rezende pode ser o vice de Aécio Neves.