Título: Com melhor preço, chineses batem grupos nacionais em concorrências
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2006, Empresas &, p. B1

Equipamentos Ofertas chegam a ser 50% inferiores e as importações podem dobrar este ano

"Made in China". Essas três palavrinhas, que provocam calafrios nos fabricantes brasileiros de calçados, brinquedos e eletroeletrônicos, agora prometem tirar o sono dos produtores de bens de capital. Nos últimos seis meses, o setor nota uma verdadeira invasão de equipamentos chineses, sejam eles fabricados em série ou sob encomenda. Os fabricantes nacionais dizem que, por não requererem tecnologia de ponta, esses itens poderiam ser facilmente produzidos no país. Entretanto, eles mesmos apontam o principal atributo chinês: preços até 50% mais baratos que os orçamentos feitos a partir do Brasil. Essa diferença decorre de uma combinação de real valorizado frente ao dólar, subsídios do governo chinês às exportações e o yuan (moeda local) congelado. Contam pontos também as legislações ambiental e trabalhista chinesas muito flexíveis. A China, porém, ainda não faz frente aos itens mais sofisticados, de EUA e Alemanha. De janeiro a novembro do ano passado, as importações de equipamentos chineses somaram US$ 234 milhões, um vigoroso aumento de 96,5% em comparação com 2004. Essas cifras vão dobrar novamente neste ano, se considerarmos apenas a encomenda feita pelo grupo Gerdau ao consórcio Minmetals. O contrato foi assinado em abril de 2005, finalmente fechado semana passada, e envolveu US$ 242 milhões em máquinas para a unidade Açominas. "O pedido é suficiente para manter uma fábrica em funcionamento por dois anos, utilizando mão-de-obra de 800 pessoas", afirmou ao Valor Newton de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). "Já conversamos com o governo, mas a solução exige uma profunda mudança na política cambial, corte nos impostos e uma queda drástica dos juros", disse. Na época, segundo estimativas do grupo gaúcho, as máquinas não custariam menos de US$ 400 milhões caso fossem produzidas localmente. Pouco antes de fechar o contrato com os chineses, a Gerdau chegou a assinar um protocolo de intenções em que se comprometia ao comprar no Brasil a maior parte desses equipamentos. "Foi pura balela; protocolos não são cupons de desconto e obviamente os compradores vão em busca de preços mais baixos", afirmou um executivo de uma grande empresa, que prefere manter seu nome sob sigilo. Segundo ele, grandes projetos, como a expansão da Belgo-Mineira e a construção da Cia. Siderúrgica do Atlântico (CSA) podem parar na mão dos chineses. A direção das duas usinas, inclusive, já estão com os orçamentos asiáticos. Vale lembrar que o principal acionista da CSA, a alemã ThyssenKrupp, assinou em meados do ano passado um protocolo semelhante ao da Gerdau. Sem ter como competir em pé de igualdade com os chineses, os produtores locais vêem seus negócios minguarem. É o caso da alemã SMS Demag, com fábrica em Minas, que já foi considerada uma das maiores de equipamentos para a cadeia mínero-metalúrgica do país. Para manter as portas abertas, a empresa foi obrigada a fazer uma parceira com a Delp, empresa de médio porte em Vespasiano (MG) e passou a diversificar a produção. A estratégia não foi capaz de conter a queda da receita em 50% em 2005. Este ano tampouco se mostra auspicioso, disse o presidente da SMS Demag, Luiz Carlos Lameu. A empresa deve entregar até o fim do primeiro semestre as últimas três encomendas em carteira, entre elas um laminador para a siderúrgica indiana Essar, por US$ 10 milhões. Tal contrato, de modalidade "stop and go" (pago à medida em que partes do equipamento eram entregues) foi assinado em 2004, quando o dólar valia US$ 3,20. "Com a valorização cambial, perdemos 21% em reais". Segundo Lameu, as siderúrgicas devem observar nos próximos anos o desempenho dos equipamentos chineses. Caso operem de maneira eficiente, pode haver uma nova leva de importações, dessa vez de itens mais caros. A Prensas Schuler, de Diadema (SP) foi obrigada a baixar "drasticamente" seu preço para conseguir vender um conjunto de máquinas para a unidade da General Motors em Gravataí (RS), orçado em US$ 10 milhões. Segundo informações da empresa, pelo menos outros dois produtores chineses estavam no páreo. Segundo Wagner Othero, presidente da Jaraguá Equipamentos, alguns clientes passaram a adotar uma postura mais agressiva e já começam a negociar com orçamentos chineses embaixo do braço. "Não temos como fazer frente ao preço deles", afirmou o executivo. Equipamentos de mineração e metalurgia respondem por 30% da receita da empresa, que no ano passado foi de R$ 190 milhões. Grandes fornecedores, Bardella e Metso não quiseram se pronunciar sobre a competição chinesa. Mais discretos, produtores russos já começam a assustar o segmento de equipamentos para hidrelétricas, de acordo com Sérgio Parada, vice-presidente da Voith Siemens. Segundo apurou o Valor, a paranaense Copel deve assinar uma encomenda de US$ 100 milhões ainda este ano com a fabricante russa PMG Power.