Título: BNDES prepara linhas de apoio a fábricas locais
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2006, Empresas &, p. B1

O BNDES deverá aprovar ainda neste trimestre uma linha de crédito para equalizar os financiamento de máquinas e equipamentos fabricadas no país às condições de concorrência internacional, apurou o Valor. Isso visa tornar prazos e juros dos empréstimos internos iguais aos dos competidores externos nas tomadas de preço para compra de bens para projetos de investimento no Brasil. O banco, segundo fontes, reconhece que a indústria brasileira está diante do maior desafio da sua história, que é enfrentar a competição liderada pela China, que derruba indústrias não só nos países emergentes, mas também na Europa e nos EUA. Desde julho, a área técnica do BNDES estuda a criação de um instrumento capaz de ampliar a participação da indústria local de equipamentos nas encomendas de grandes projetos, principalmente nas áreas de siderurgia, papel e celulose e petroquímica. A medida deverá contemplar uma participação relevante do banco em empréstimos, acima de 80% e redução do "spread" para 1% ou até menos, dependendo das condições apresentadas pelas empresas estrangeiras de bens de capital nas concorrências no país, mantendo os mesmos indicadores (TJLP, dólar ou cesta de moedas e Libor). A nova linha poderá incluir financiamento de pacotes fechados de montagem industrial - fornecimento de máquinas e equipamentos, projetos de engenharia, obras civis e serviços vinculados à montagem de equipamentos. O banco já conta com uma linha da Finame, que financia a compra de máquinas e equipamentos produzidos no Brasil para empresas que apresentem projetos com um índice de nacionalização de 60%. Há, porém, algumas questões de difícil solução. Fontes do banco reconhecem, por exemplo, que pouco podem fazer no tocante ao que mais incomoda as empresas de bens de capital instaladas no Brasil nas concorrências: o baixo preço dos equipamentos cobrado pelos chineses. A visão da instituição é de que não há soluções tópicas para o "caso a caso" que vem ocorrendo. A opção do grupo Gerdau na aquisição de bens para a fábrica da Açominas por equipamentos chineses (alto-forno, unidade de sinterização e coqueria), face a uma diferença de preço próxima de 50%, é uma decisão singular. Não há financiamento que reverta isso, nem com juros negativos, reconhecem as fontes oficiais. A solução, segundo empresas nacionais do setor, passa pela criação de algum mecanismo em nível governamental para baratear o custo do equipamento nacional. A indústria não quer proteção total ou reserva de mercado, como afirmam os que estão participando da tomada de preços da CSA, siderúrgica da ThyssenKrupp no Estado do Rio. Acham que necessário ganhar mais competitividade. Para as fontes do banco, a China é um sistema industrial e o Brasil tem que responder a ele na mesma moeda, bem como o Leste europeu, que começa a seguir a mesma trilha dos chineses. O BNDES, neste ano, estaria disposto a abrir várias frentes nesta "guerra" lançando novas políticas mais definidas.