Título: Semi-abertura já reduz custo para as empresas
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2006, Finanças, p. C1

Resseguros Negociação no exterior pode ser feita sem intermediários

O grupo Odebrecht já registrou ganhos em termos de redução de custos de seguros e resseguros de suas empresas depois que o IRB-Brasil Re implantou mudanças que representaram uma pequena "fresta" no fechado monopólio do resseguro no país. A Braskem, maior indústria petroquímica do país, controlada pelo grupo, renovou em novembro seu programa de seguros, avaliado em US$ 1,9 bilhão em importância segurada, a um custo ligeiramente inferior ao da renovação anterior, em novembro de 2004. Além disso, a Odebrecht, cuja construtora é líder do consórcio de empresas que vai construir a Linha 4 do Metrô de São Paulo, conseguiu uma redução de 40% no custo do seguro de mais de R$ 1 bilhão para riscos de engenharia da obra, que está em seu início. Em junho de 2005, o IRB quebrou um regime de 66 anos e permitiu que as seguradoras passassem a fazer a cotação de preços de seus contratos facultativos - de valor superior aos US$ 300 milhões da cobertura automática da estatal - diretamente no exterior, mantendo a obrigação de que o negócio tenha que obter o sinal verde do IRB para ser fechado. Além disso, acabou com a exigência de contratação de "brokers" (corretores), que antes eram nomeados pelo IRB por critérios pouco transparentes. Marcos Lima, o presidente da Odebrecht Corretora, responsável pela contratação dos seguros do grupo, comemorava a renovação da Braskem. A redução de custo obtida, embora modesta, chegou num momento em que o mercado internacional - onde é colocado praticamente todo o seguro da empresa - não está nada favorável às indústrias do setor de energia, classificação que inclui petroquímicos. A tendência era a Braskem pagar 10% a 15% mais do que pagou em 2004, não menos, daí a satisfação de Lima. O motivo da provável alta de taxas era o impacto do furacão Katrina, que arrasou a cidade de New Orleans no Sul dos Estados Unidos em agosto de 2005 e, ao mesmo tempo, arrastou e destruiu diversas plataformas de petróleo instaladas no Golfo do México, prejudicando não só o fornecimento de óleo para os consumidores americanos, mas também a matéria-prima das indústrias petroquímicas daquele país. O prejuízo total causado pelo furacão para as seguradoras e resseguradoras foi de cerca de US$ 34,4 bilhões, o maior da história deste mercado. E como acontece sempre que há um prejuízo dessa proporção, as taxas sobem no mundo inteiro para recompor as perdas das seguradoras, atingindo principalmente os setores afetados pela catástrofe. Lima atribui o desfecho favorável da negociação da Braskem à possibilidade de negociar diretamente o risco da companhia no mercado internacional, sem os intermediários antes colocados pelo IRB. "Quando se tem a possibilidade de falar diretamente com o ressegurador, pode-se 'vender' melhor o risco", explica o presidente da Odebrecht Corretora. Segundo ele, embora o setor petroquímico seja visto, em geral, como mais arriscado pelas seguradoras e resseguradoras internacionais, a Braskem tem um programa sólido de gerenciamento de riscos e nenhum histórico de sinistro. Ao negociar diretamente, Lima entende que tem melhores condições de expor esse programa aos resseguradores, enquanto, via IRB, o ressegurador avalia o risco da estatal, não do cliente. "O IRB sempre nos apoiou e permitia que acompanhássemos o processo de subscrição mas não permitia que fechássemos o negócio." O contrato do Metrô de São Paulo é o que melhor ilustra a influência da abertura, ainda que restrita, do mercado de resseguros. A Odebrecht recebeu a incumbência de contratar uma cobertura para riscos de engenharia (eventos que impedem a continuidade da obra, como deslizamentos de terra ou erros de cálculo) em 2004, pelo prazo de cinco anos. Contratou a Unibanco AIG Seguros, que levou a apólice ao IRB. "O processo de negociação conduzido na época pelo IRB e os 'brokers' nomeados levou oito meses e chegou na condição final com acréscimo de preços e redução de coberturas", conta Luis Nagamine, superintendente da seguradora. Resultado: foi rejeitado pelos administradores do Metrô. Em junho de 2005, quando a nova administração do IRB mudou as regras, permitindo a cotação dos contratos diretamente no exterior pelas seguradoras, derrubando a exigência de 'brokers', a Unibanco AIG voltou ao mercado internacional e em apenas quatro meses fechou o negócio em condições muito melhores, com uma redução de 40% no custo do seguro, afirma Nagamine. A resseguradora americana AIG, do grupo que mantém a joint-venture com o Unibanco, assumiu 100% do risco, sem intermediação de "brokers". Isso não quer dizer que o "broker" não seja importante, frisa Marcos Lima. "Tratar com o mercado internacional sem 'broker' é arriscado porque eles conhecem e acompanham o mercado e as seguradoras e são fundamentais em outros tipos de contrato como o de petroquímicos", relata o presidente da Odebrecht Corretora. A Scania, gigante multinacional de caminhões, está em fase de negociação para renovação do programa de seguros de sua filial brasileira e Andres Ricardo Holownia, o diretor da área de gerenciamento de riscos, confia que a companhia será beneficiada com uma redução de custos este ano graças à abertura para cotação de contratos facultativos, mas não sabe ainda de quanto. "Temos um bom trabalho de gerenciamento, não temos sinistros, somos um bom cliente para qualquer um, inclusive o IRB", afirma o executivo. Para ele, a abertura promovida pela nova administração do IRB é "positiva", comparado com a situação anterior em que a estatal era mais "rígida" nas negociações com as seguradoras e os clientes, mas ele lamenta que ainda exista o monopólio. "O fato é que o monopólio continua e seguimos limitados", afirma. "Antes da abertura, a gente já testava o mercado internacional diretamente, para clientes tradicionais que precisavam de capacidade lá fora. Agora ampliamos a solução com outros clientes e, num ambiente de concorrência maior, passamos a receber várias alternativas de negócios que beneficiaram os clientes", relata Antonio Jorge Amorim, diretor superintendente da Lazam/MDS, corretora ligada aos grupos Feffer e Sonae. Nem sempre, porém, os preços serão menores, explica Amorim. Com a abertura do mercado de resseguros, as empresas brasileiras serão beneficiadas pela maior concorrência mas, por outro lado, estarão mais expostas às oscilações do mercado segurador internacional. "Todo mundo acha que a abertura traz uma tendência de derrubar as taxas, mas eu não concordo, acho que haverá uma fase de ajustamento de no mínimo três anos", afirma Bruno Kelly, sócio da Correcta Corretora, especializada na colocação de riscos industriais, de transportes, aviação executiva e taxi aéreo. Kelly conta que aproveitou a abertura para cotação de riscos no exterior, mas o resultado não foi tão bom: "Como nosso clientes tinham sinistros, não pegamos nenhuma redução", descreve o corretor, o que confirma a tese de que, com a abertura, nem todos e nem sempre serão beneficiados.