Título: Suspeita de corte de 1 ponto agita pregões
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2006, Finanças, p. C2

Os mercados não ficarão surpresos se o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidir hoje à tarde reduzir a taxa Selic em um ponto percentual, de 18% para 17%. Essa hipótese passou a ser considerada seriamente ontem a ponto de interferir no comportamento de todos os segmentos. A possibilidade de ampliação do afrouxamento monetário iniciado há quatro meses fez disparar o volume de contratos negociados no mercado futuro de juros da BM&F. Mais do que a leve piora no cenário externo, foi a percepção dos investidores de que uma componente política pode ter sido adicionada aos itens avaliados pelo Copom que provocou fortes altas do dólar e do risco-país e pesada queda da Bovespa. O pregão de DI futuro da BM&F foi febril. Somente o vencimento mais curto, para a virada do mês, negociou 1,04 milhão de contratos, recorde histórico absoluto. O giro financeiro deste contrato foi de R$ 56,21 bilhões, superando o recorde anterior de R$ 50,3 bilhões alcançado na quinta-feira, dia em que os economistas consolidaram o consenso de um corte de 0,75 ponto na Selic. Não há mais tempo para se mudar o consenso. Mas há tempo para o mercado se proteger de uma decisão de fato audaciosa. Se um corte de 0,75 ponto apenas mantém intacto o nível lento de desaperto monetário, redução de um ponto significa maior afrouxamento. A taxa para a virada do mês recuou ontem de 17,46% para 17,39%. Mas esse contrato para a virada do mês não foi protagonista exclusivo do frenesi do DI futuro. O contrato para a virada do trimestre, cuja taxa caiu de 17,16% para 17,12%, movimentou R$ 20,12 bilhões. O referente a julho girou R$ 20,61 bilhões. E o contrato até então mais negociado, para a virada do ano, limitou-se a R$ 15,20 bilhões. As taxas cederam a patamares há tempos não vistos. O swap longo, de 360 dias, caiu abaixo de 16%, o que não acontecia desde 5 de maio de 2004. Fechou a 15,95%, embutindo juro real de 10,85% (para um IPCA 12 meses à frente de 4,60%, segundo expectativa Focus). Os comentários que agitaram os pregões foram de que o presidente Lula estaria cobrando do presidente do BC, Henrique Meirelles, a conta de sua promoção ao status legalmente tranquilizador de ministro de Estado. A fatura só seria quitada por meio de uma intensificação efetiva da queda do juro básico, não meramente nominal. Outro rumor, na mesma linha, relatava a intenção do presidente de escalar Antonio Palocci para a chefia de sua campanha política à reeleição e de indicar o tesoureiro Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda.

Volume de contratos dispara no DI futuro

Os mercados não sabem se os boatos têm algum chance de virar realidade. Mas já foram efetuadas reversões de posições antes que a porta de saída ameace ficar estreita demais. Não se teme uma guinada populista do governo Lula, mas uma perda das regalias. Não será nesse governo que o Brasil abandonará a liderança dos maiores pagadores de juros do mundo. Bancos trataram de diminuir posições vendidas em dólar. O avanço de US$ 2,38, para US$ 66,30 o barril, registrado ontem pelo petróleo e a alta (revertida no fechamento) dos juros dos títulos do Tesouro americano de 10 anos, de 4,36% para 4,38%, não justificariam isoladamente o salto dado pela moeda americana. O dólar fechou com valorização de 1,67%, para R$ 2,3120. Com a moeda já em vigorosa apreciação, o BC decidiu não referendar preços muito mais altos. Por isso, no tradicional leilão de compra direta de dólar, aceitou apenas uma proposta das 18 formuladas por instituições. E comprou a R$ 2,2990. De manhã, já havia colocado a oferta integral de 8,8 mil contratos de swaps reversos, equivalentes a compra futura de US$ 414,6 milhões. Os investidores estrangeiros venderam bônus da dívida externa brasileiro e o risco-país subiu 3,16%, para 294 pontos-base. E a Bovespa exagerou na tendência de baixa vinda de Nova York. O índice tombou 1,13%, para 36119 pontos.