Título: Ata do Copom sinaliza mais conservadorismo
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2005, Finanças, p. C2

Dois membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco central votaram na semana passada por um corte maior na taxa básica de juros, de 0,75 ponto percentual, porque avaliam que o risco de inflação se tornou menor, dado o risco maior de frustração do crescimento da economia. As conclusões foram apresentadas na ata, divulgada ontem, da reunião de dezembro do Copom, que decidiu por um corte de 0,5 pp na taxa básica, para 18% ao ano. A ala majoritária na reunião do Copom, que somou seis votos, fez a defesa de uma política gradualista de redução do juro, que levaria a uma taxa mais baixa ao fim do processo de afrouxamento. "Dois membros do comitê votaram por uma redução de 0,75 pp na taxa básica, que em sua avaliação proporcionaria uma sinalização mais condizente com o atual balanço de riscos entre atividade e inflação", diz a ata do Copom. "Já para a maioria dos membros do Copo, uma redução de 0,5 pp seria a decisão adequada, dado que corresponderia melhor à velocidade ótima de implementação desse processo de flexibilização e contribuiria para aumentar a magnitude do ajuste total a ser implementado." Na interpretação de analistas econômicos, a principal conclusão que se pode tirar da ata é que, na reunião de janeiro, teremos novamente um corte de 0,5 pp na taxa básica. "Até a reunião de janeiro não teremos informações novas, como dados de atividade mais fraca, capazes de fazer membros que votaram por 0,5 pp mudarem de opinião", avalia Joel Bogdanski, do Banco Itaú. "Talvez surjam novidades até março, com os dados do PIB de 2005." A ata não faz maiores esclarecimentos sobre o balanço de risco entre inflação e crescimento apontado pelos dois membros dissidentes. Sabe-se, porém, que após a reunião de novembro foram apresentados dados decepcionantes do PIB, com retração de 1,2% no terceiro trimestre; e a produção industrial mostrou-se estagnada em outubro. Na ata, o Copom admite, pela primeira vez, que o resultado do PIB ficou abaixo do esperado, tanto que teve efeito positivo sobre a inflação projetada para 2006 nos modelos desenvolvidos pelo Departamento de Pesquisa Econômica do BC - embora o câmbio mais alto e a queda dos juros futuros tenham tido um peso negativo mais forte no índice projetado, que subiu em relação à projeção anterior; o percentual será conhecido apenas na semana que vem, quando for divulgado o relatório trimestral de inflação. No outro lado do balanço de riscos, a inflação de novembro medida pelo IPCA (0,55%) caiu em relação à de outubro (0,75%), e, segundo a ata, "para dezembro antecipa-se novo recuo da inflação". Os núcleos de inflação também se desaceleraram entre outubro e novembro, diz a ata, e a expectativa de inflação do mercado para 2006 caiu de 4,55% para 4,5%, "coincidindo pela primeira vez com a meta estabelecida pelo CMN." Os argumentos dos membros que defendem uma postura mais cautelosa no corte de juros são mais claros - na verdade, não mudaram muito em relação ao apresentado em meses anteriores. De um lado, os membros do Copom fazem um diagnóstico positivo do crescimento da economia. "A atividade econômica deverá se recuperar nos próximos meses e continuar em expansão, mas em um ritmo condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação." De qualquer forma, o crescimento da oferta agregada ainda é considerado um fator de risco relevante nos modelos de projeção inflacionária do BC. No campo inflacionário, porém, o Copom ainda vê riscos relevantes, entre eles em índices divulgados recentemente. "O Copom avalia que a a atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de convergência da inflação para a trajetória das metas", diz a ata.