Título: Universal monta bancada laica para 2006
Autor: Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 26/12/2005, Especial, p. A12

Eleições Partido de Edir Macedo terá Alencar, Rosane Collor, Netinho de Paula e Mangabeira Unger

A fachada laica do novo partido da Igreja Universal, o Partido Republicano Brasileiro (PRB), junta, no mesmo palanque, o vice-presidente José Alencar, a ex-primeira-dama Rosane Collor, o cantor Netinho de Paula, o professor de Harvard Roberto Mangabeira Unger e um empresário de comunicação da Paraíba, Roberto Cavalcanti. O suporte desse palanque são os 2,5 milhões de fiéis da Igreja comandada pelo bispo Edir Macedo. O vice-presidente da República e o professor de Harvard são comandados na legenda pelo seu presidente, o bispo Natal Wellington Rodrigues Furucho, presidente da Rede Record do Rio de Janeiro e ex-apresentador do programa "Fala que eu te Escuto", hit da madrugada televisiva em que um pastor recebe ligações telefônicas dos telespectadores contando seus problemas de drogas, adultérios e afins. Nos Estados, a ampla rede nacional da Universal é utilizada para a montagem dos diretórios regionais. Em Alagoas, o presidente é Reginaldo dos Santos, pastor que aposta na candidatura da ex-primeira-dama Rosane Collor à deputada federal como a principal puxadora de votos para o partido no Estado. Em novembro, cartazes "Rosane Collor 2006" foram espalhados por Maceió, mas sem qualquer menção ao partido. Os cartazes, aliás, são um mistério na cidade. Suspeita-se de que foram colocados por amigos de Rosane no intuito de elevar sua auto-estima, abalada por uma recente traumática separação com o ex-presidente Fernando Collor. Na Paraíba, o presidente do partido é o deputado estadual Fausto Oliveira, pastor e radialista. Em São Paulo, o presidente é pastor Vitor Paulo Araujo dos Santos, também secretário-geral da sigla. Além da rede religiosa, a estrutura de outras legendas também vale para consolidar o partido. Na capital paulista, quem telefona na Universal à procura de informações sobre procedimentos de filiação recebe dois telefones da Assembléia paulista: um da deputada estadual Maria Almeida, já filiada ao PRB; e outro do gabinete do pefelista Milton Vieira, também pastor da Universal. Na Bahia, o telefone fornecido no registro do TRE baiano é o do gabinete do deputado estadual Marcio Marinho, radialista, pastor evangélico e líder do PL. A presidente estadual é sua mulher, Adriana Arruda Marinho, que sequer trabalha no local. A Universal pretende manter uma política de boa vizinhança com outros partidos que abrigam evangélicos. De acordo com deputados ligados à Igreja, nunca foi interesse do bispo Edir Macedo formar um partido sectário, que agrupasse todos os evangélicos-políticos. "Nunca teremos todos os nossos deputados no partido. Preferimos nos pulverizar entre várias legendas para participar das decisões nacionais. Não queremos jogar todos os ovos na mesma cesta", afirma um deles. De fato, em se considerando a Frente Parlamentar Evangélica criada em 2003 para defender os interesses "da classe", vê-se que em nenhum momento deputados da Universal na Câmara optaram pela mesma sigla. A Frente é composta por 60 deputados, divididos entre as igrejas Luterana (2), Evangélica Quadrangular (4), Batista (7) e Assembléia de Deus (22). Da Universal, são 16, dos quais seis do PL, três do PP e dois no PFL, PSB e PRB. Esse interesse de ter membros em diversos partidos, porém, não explica o baixo número de deputados do PRB. O partido foi feito às pressas. O grande articulador inicial, o ex-deputado Bispo Carlos Rodrigues (PL-RJ) foi afastado da Universal depois de aparecer na lista do empresário Marcos Valério como sacador de R$ 400 mil e teve de renunciar ao mandato para não perder os direitos políticos. Fundado como Partido Municipalista Renovador, teve de mudar o nome para se desvincular desse começo feito por um deputado que recebeu recursos do valerioduto. Isso atrasou a movimentação política de adesão à legenda, mesmo para integrantes da Universal, que queriam tempo para fazer suas articulações políticas regionais e também receavam aderir a um partido que já nasce ameaçado pela cláusula de barreira. O resultado foi a adesão de apenas dois deputados federais fluminenses, um senador, o bispo Marcelo Crivela (RJ), e quatro deputados estaduais distribuídos pelo Rio, São Paulo, Paraíba e Paraná. Passadas essas dificuldades iniciais, o partido vira o ano armado para seu principal objetivo: superar, nas eleições de 2006, a cláusula de barreira, medida pela qual só permanecerão vivas no cenário político nacional as legendas que obtiverem 5% dos votos nacionais juntamente com uma votação de, no mínimo, 2% dos sufrágios em pelo menos nove Estados. Para atingir os exigentes índices, a estratégia traçada é priorizar as eleições majoritárias e lançar o máximo de candidatos no maior número possível de Estados. Uma boa aliança também é válida e, mais do que isso, necessária, já que o PRB nasce sem tempo de televisão. Auto-intitulada de centro-esquerda, a sigla busca uma ampla coligação entre os partidos ameaçados pela cláusula de barreira, como PPS, PV, PDT e PSB, que iriam às eleições com um discurso à esquerda do PT. Além disso, outro estratagema, já iniciado neste ano, foi trazer ao partido puxadores de voto em potencial, o que explica a vinda de tão heterogêneos quadros, de um professor de Harvard a um pagodeiro. No caso do vice-presidente José Alencar, o que o teria levado ao partido, segundo um deputado da Universal, foi a liberdade que terá para escolher, sem pressões, qualquer pleito que queira concorrer: a Presidência da República, o governo de Minas ou o Senado. Além disso, o mesmo deputado conta que a saída do vice de Lula do PL foi decidida após a negativa do presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, em encampar a idéia de uma chapa entre PL, PP e PTB em 2006, com Alencar como candidato a presidente. A assessoria do vice de Lula nega a história e reafirma que sua saída do PL foi a busca de um partido "novo" e "limpo". A entrada de Mangabeira Unger segue essa linha, mas a troca aqui tem caráter mais ideológico que político. Há tempos o intelectual almeja ampliar seu espaço na política. Em seu espaço na internet, intitulado "Alternativa 2006", o vice-presidente do partido enumera prioridades para o "auto-resgate nacional". A primeira é "deixar claro que o Brasil não continuará a ser governado para o proveito de banqueiro e de credor da dívida pública". Para isso, pretende reforçar "o poder de barganha do Estado" de modo a honrar os compromissos e não sacrificar a produção. A segunda é aumentar a oferta de emprego com carteira assinada e com salário "decente", por meio por meio da extinção de todos os encargos sobre a folha e a instituição do financiamento dos direitos por meio dos impostos. A terceira prioridade é a educação, com a instituição de valores mínimos de investimentos por aluno e de desempenho por escola. Antes dessa empreitada, o professor de Harvard já havia tido outras inserções na política brasileira. Comandou uma fundação para crianças carentes durante o governo Leonel Brizola no Rio de Janeiro, Estado pelo qual chegou a ser candidato a deputado federal, sem sucesso. Em 2002, foi um dos coordenadores da campanha de Ciro Gomes a Presidência. Outro que entrou no partido por questões pessoais, porém é tido como prêmio pela cúpula do PRB é o empresário paraibano Roberto Cavalcanti, dono do Sistema Correio de Comunicações. Espécie de Roberto Marinho da Paraíba, comanda a afiliada da Rede Record no Estado; o "Correio da Paraíba", maior jornal do Estado e 16 rádios. O que o puxou para a legenda foi um fator pessoal: a ida para o PMDB do ex-governador e desafeto Wilson Braga, acusado de ser o mandante do assassinato de seu primo em dezembro de 1984. "Como ele entrou no PMDB, não havia espaço para eu e ele na mesma mesa. Então me afastei e passei a procurar outro partido. Optei por uma sigla nova, pequena, que não tivesse posicionamento definido aqui no Estado, já demasiadamente polarizado entre dois grupos políticos (o do governador tucano Cássio Cunha Lima e o do senador pemedebista José Maranhão)." Cavalcanti nega qualquer pretensão política. Atribui sua filiação ao fato de que "estar filiado a um partido é um passaporte".