Título: Alcoa revê potencial do Brasil
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 26/12/2005, Empresas &, p. B1

Trabalhar numa multinacional e ter como chefão um conterrâneo pode ser um alívio dentro de uma sala de reunião. Principalmente quando se trata de um grande encontro do conselho de administração da Alcoa, uma das gigantes mundiais de alumínio primário. Criado no Brasil, Alain Belda, presidente da empresa, não se surpreendeu quando o também brasileiro Franklin Feder, que comanda as operações latino-americanas, não deu notícias lá muito animadoras sobre o desenvolvimento do setor energético do país. "Ele compreende a nossa luta em manter a competitividade em situações que às vezes não estão a nosso favor", afirmou Feder, que comanda investimentos de US$ 1,6 bilhão anunciados há pouco mais de três meses. Enquanto dá forma à expansão das atividades brasileiras, a direção da Alcoa já começa a traçar um novo - e ambicioso - plano de investimento, que pode atingir US$ 5 bilhões. Esses novos aportes chegariam logo após a conclusão do atual projeto de expansão, daqui a três anos. Entretanto, a espantosa cifra corre o risco de ser destinada para outras operações ao redor do mundo, justamente pela falta de garantias de fornecimento de energia a longo prazo e a custo competitivo. A Alcoa quer entrar como sócia nas usinas de Belo Monte ou de Marabá, hidrelétricas paraenses que há anos permanecem na gaveta do governo por conta de entraves ecológicos e sociais. O projeto está sendo submetido atualmente a estudos de impacto ambiental. Além disso, ainda não foi determinado qual poderá ser a participação da mineradora no projeto, afirmou Feder. A intenção da Alcoa é deter entre 500 a 1500 megawatts (MW). Cogita-se que a capacidade de produção chegue a 500 mil toneladas por ano. A nova unidade também ficaria perto da mina de bauxita de Juruti, na região oeste do Pará, cujo desenvolvimento faz parte dos aportes atuais. A primeira fase da jazida deverá ficar pronta em até três anos e será responsável pela extração de 2,6 milhões de toneladas de mineral. O potencial de Juruti, porém, é de 10 milhões de toneladas anuais. Segundo Feder, a Alcoa paga em média US$ 15 a US$ 20 por MW no mundo todo. "É o preço que pagaremos pela energia na Islândia nos próximos 30 anos, onde estamos tocando um grande projeto de alumínio primário. Em Trinidad Tobago, temos condições semelhantes. Mas aqui no Brasil, os valores cobrados por megawatt estão significativamente mais altos. O que nos dá esperança é o grande potencial hidrelétrico local". Rússia e China aparecem como potenciais concorrentes na disputa pelo investimento, mas pesam contra eles a tradição de 40 anos na Alcoa no Brasil e a falta de energia limpa, sobretudo em território chinês. Enquanto aguarda o desembaraçar da questão energética, a Alcoa leva adiante a complexa operação de dobrar a capacidade de refino de alumina no consórcio Alumar - de 1,5 milhão para 3,5 milhões de toneladas - , em São Luís, sem paralisar as atividades. São pelo menos 4 mil interligações entre os equipamentos já instalados e os novos, o que é considerada a maior obra de expansão da história do grupo. Tais obras são tocadas após diversas unidades no Hemisfério Norte encerrarem suas atividades, por conta da energia cara e do esgotamento de matéria-prima. Feder disse esperar que 2006 seja "melhor ou tão bom" em comparação a este ano para a Alcoa, graças à queda dos juros reais e a retomada de investimentos públicos, impulsionados pelo período pré-eleitoral, mas não quis adiantar qual será o faturamento no Brasil. No balanço de 2004, as operações locais foram responsáveis por 4% do faturamento mundial (de US$ 23 bilhões) e 10% do lucro total. O desempenho externo também deve ser bom, devido aos baixos estoques mundiais e à demanda aquecida. Atualmente, a cotação do alumínio na London Metal Exchange (LME) está em cerca de US$ 2,2 mil, um dos maiores dos últimos anos. Mas os custos de produção também acompanharam a melhora dos preços. Para o executivo, seria "bom" se o dólar alcançasse a casa dos R$ 2,40 no ano que vem.