Título: Emissão de debênture bate recorde
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 26/12/2005, Finanças, p. C1

Captação Interna Dos R$ 42 bilhões lançados, R$ 32 bilhões foram de empresas de leasing

Num ano em que as emissões de debêntures bateram todos os recordes, chegando a R$ 42 bilhões, a grande maioria dos recursos captados no mercado de capitais teve dois usos distintos: as companhias de leasing utilizaram os R$ 32 bilhões que captaram para reforçar o caixa; já as empresas (como Braskem, Gafisa e Tractebel Energia) destinaram R$ 9,2 bilhões para melhorar o endividamento, seja reduzindo passivos, seja alongando o prazo das dívidas. Os dados fazem parte de um levantamento feito para o Valor pela Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima). Para 2006, as projeções do mercado financeiro ouvidas pela Andima são de que as captações de debêntures alcancem R$ 25 bilhões. Na avaliação de Paulo Eduardo de Souza Sampaio, superintendente geral da associação, a participação de alguns setores, como o de telefonia e o elétrico, devem crescer. As telefônicas praticamente não emitiram debêntures este ano. Já as elétrica lançaram R$ 4,4 bilhões, mas o setor, que passa por reestruturação, deve aumentar as emissões em 2006, prevê Sampaio. Já o setor de arrendamento mercantil (leasing) - responsável por 71% das emissões deste ano - não deve repetir o desempenho em 2006, avaliam os analistas ouvidos pelo Valor. Luiz Fernando Resende, da LatinFinance Advisory & Research e diretor da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), acha que dificilmente o segmento emitirá os R$ 32 bilhões que lançou este ano, mas as leasings vão continuar emitindo, avalia. "Algumas leasings já captaram este ano os volumes previstos para os próximos dois anos. Por isso, deve ocorrer uma desaceleração", destaca Sampaio, da Andima. A Bradesco Leasing e a Unibanco Leasing, por exemplo, captaram este ano todo o previsto em seus programas para os próximos dois anos: a Bradesco lançou R$ 10 bilhões (em três emissões) e o Unibanco, R$ 4 bilhões (em duas vezes). Este ano, os novos contratos de arrendamento mercantil somaram R$ 15 bilhões até outubro, um crescimento de 56% em relação ao mesmo período de 2004, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Leasing (Abel). Antônio Bornia, presidente da Abel e diretor do Bradesco, estima um crescimento entre 30% e 35% dos negócios para 2006. A maior expectativa é com a recuperação do setor agrícola, um dos maiores usuários do leasing, mas que com a desaceleração dos últimos anos deixou de fazer negócios. Outras companhias de leasing, na avaliação de Bornia, devem acessar o mercado de capitais em 2005. Das 43 associadas da Abel, apenas oito lançaram debêntures este ano. Para Alfredo Setubal, presidente da Anbid e diretor do Itaú, o mercado automobilístico está aquecido e as leasings vão precisar de novos recursos. "O financiamento de veículos vai continuar forte em 2006", destaca. Neste cenário, alguns bancos já começam a se preparar para 2006. A Bradesco Leasing e a BankBoston Leasing já estão pedindo autorização na CVM para novos programas de emissões. Na Bradesco, o pedido é de mais R$ 10 bilhões em papéis e no Boston, de R$ 4 bilhões. Apesar da crise política e dos juros estratosféricos, as empresas conseguiram captar em condições bem melhores este ano. Como destacou o sócio do Banco Pactual, André Esteves em um seminário da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), hoje o prazo médio de uma emissão debêntures é de cinco anos. Algumas empresas conseguiram prazo ainda maior: a Votorantim Finanças lançou papéis de 10 anos e a Vicunha Siderurgia de sete anos. Há alguns anos, o prazo oscilava entre um ou dois anos, e o mercado se concentrava nas empresas estatais. "Estamos vendo hoje emissões multissetoriais", disse. Segundo a Andima, companhias de 13 setores diferentes lançaram papéis este ano, com destaque para leasing (70,5% do total), companhias de participação (10,3%), energia (10,2%) e saneamento (2,5%). Em 2005, foram aprovados pela CVM 57 emissões de debêntures. Com isso, o estoque desses títulos registrado no Sistema Nacional de Debêntures bateu em R$ 84 bilhões. O sistema já tem mais de 760 emissões registradas, de 440 empresas. O principal referencial dos papéis é o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), responsável pela indexação de 45% do total.