Título: Lucros dos bancos crescem 55% no 1° tri
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 14/05/2010, Economia, p. 14

As cinco maiores instituições financeiras do país embolsaram R$ 10,2 bilhões

Os cinco maiores bancos do país registraram lucro líquido de R$ 10,2 bilhões no primeiro trimestre deste ano, resultado 55% maior do que o computado no mesmo período de 2009. Com a economia avançando a um ritmo chinês e os consumidores ávidos por tomarem crédito, mesmo com as taxas de juros nas alturas, as instituições estão abarrotando os cofres, algumas com ganhos históricos. Foi o caso do Itaú Unibanco, com R$ 3,2 bilhões, seguido pelo Banco do Brasil, que divulgou balanço ontem, estampando saldo líquido de R$ 2,4 bilhões. O Bradesco embolsou R$ 2,1 bilhões e o Santander, R$ 1,7 bilhão. No fim da fila, veio a Caixa Econômica Federal, com R$ 777,5 milhões.

Com esses resultados, o sistema financeiro nacional deixou claro que a crise que empurrou o país para uma breve recessão ficou no passado. Que o diga o banco espanhol Santander no Brasil. Entre janeiro e março deste ano, o lucro líquido da instituição avançou 111,9%, o dobro do computado, em média, pelos cinco maiores bancos, que respondem por mais de 80% do mercado. Segundo os analistas, o sistema redescobriu como é bom emprestar dinheiro no Brasil em tempos de crescimento econômico, pois, com mais emprego e com a renda em alta, a clientela honra seus compromissos em dia. Pelos cálculos da Serasa Experian, a inadimplência do consumidor caiu 5,2% de janeiro a abril na comparação com o mesmo período de 2009, a maior queda dos últimos 10 anos.

Os bancos também reforçaram o caixa com a negociação de títulos públicos, a despeito de a taxa básica de juros (Selic) ter se mantido em 8,75% ao ano, o menor nível da história, durante todo o primeiro trimestre. As instituições sabem que ainda vale a pena financiar o governo, sobretudo em tempos de gastança, como os que se vê agora.

Veículos Segundo o gerente executivo de Relações com Investidores do Banco do Brasil, Marco Geovanne Tobias da Silva, o lucro da instituição é fruto da concessão do crédito às famílias, do controle de gastos e do crescimento dos negócios com seguros. Também aumentaram bastante as receitas com a prestação de serviços no período mais precisamente as tarifas bancárias. O crédito para consumo saltou 55,5% no BB, passando de R$ 61,1 bilhões em março de 2009 para R$ 95,1 bilhões no mesmo mês deste ano.

O crescimento do crédito para as famílias foi bem superior ao da carteira de crédito total que atingiu, ao fim do primeiro trimestre, R$ 305,5 bilhões (+26,3%). Já os financiamentos de veículos apontaram incremento de 200,3%, para R$ 21 bilhões, graças à aquisição do Banco Votorantim. Apesar de todo esse volume de crédito, ressaltou Geovanne, a inadimplência (atrasos por mais de 90 dias) baixou de 5,9% em março de 2009 para 4,4% neste ano. Na média do mercado, esse índice está em 7%. O fato de a inadimplência estar em queda e em percentual inferior à média do mercado indica que nosso modelo de análise de risco está adequado, observou. Ele lembrou que o BB tem capacidade hoje de ampliar o volume de empréstimos e financiamentos em R$ 111 bilhões.

Habitação O lucro da Caixa, de R$ 777,5 milhões, foi 72,1% maior do que o registrado no primeiro trimestre de 2009. O destaque do banco foi o crédito imobiliário, que vem batendo recordes. Até março, as contratações mais que dobraram, alcançando R$ 14,5 bilhões. Até 10 de maio, os desembolsos para a casa própria bateram em R$ 22,7 bilhões. Desse montante, R$ 7 bilhões no trimestre, alta de 82,4% em relação ao mesmo período do ano passado. A inadimplência nas operações comerciais caiu de 3,8% para 3,2%, e, na habitação, ficou em1,9%.

Justiça dos EUA investiga fraudes

O procurador-geral de Nova York, Andrew Cuomo, está investigando oito bancos para apurar se eles forneceram informações propositalmente erradas para as agências de classificação de risco, as chamadas agências de rating, com o objetivo de melhorar a avaliação de determinados títulos hipotecários. A informação é do jornal The New York Times. Essa investigação é um desdobramento de um inquérito federal sobre os procedimentos de instituições financeiras nos anos que antecederam o colapso do mercado imobiliário. Ao esquadrinhar as relações entre os bancos e os clientes que compraram títulos hipotecários, o procurador chegou às empresas de rating.

São alvo do inquérito federal as instituições Goldman Sachs, Morgan Stanley, UBS, Citigroup, Credit Suisse, Deutsche Bank, Crédit Agricole e Merrill Lynch, que agora pertence ao Bank of America. A investigação de Cuomo sugere que as agências Standard & Poors, Fitch Ratings e Moodys Investors Service podem ter sido enganadas por um ou mais bancos. Os investidores usam a avaliação dessas empresas para tomar decisões sobre onde aplicar seus recursos. A questão crescente entre investigadores e investidores é porque estas agências foram incapazes de evitar tantos enganos em suas análises e recomendações.

Relações perigosas O procurador-geral também está interessado em apurar a relação de funcionários das agências de rating, que foram contratados por bancos, mais especificamente pelas mesas de operação de títulos hipotecários, para ajudar a criar demanda por hipotecas que tiveram classificações melhores do que as merecidas.

Outro ponto que a investigação irá focar são os acordos para remunerar as agências de rating, que teriam permitido aos bancos selecionar a empresa a ser contratada considerando a melhor classificação dada. Para encerrar esse inquérito, as agências teriam concordado em mudar seus modelos de remuneração. Assim, elas seriam pagas por qualquer trabalho que fizessem para os bancos, mesmo que a instituição não fosse selecionada para avaliar um determinado negócio.

O colapso do mercado imobiliário norte-americano contou com uma participação relevante de Wall Street, o mercado financeiro dos Estados Unidos(1), que transformou empréstimos em títulos e especulou com esses papéis.

1 - Cai pedido de seguro desemprego O número de trabalhadores norte-americanos pedindo seguro-desemprego caiu 4 mil na semana terminada em 8 de maio, para 444 mil com ajustes sazonais, disse o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos. Analistas esperavam que a quantidade de pedidos caísse para 440 mil, de 444 mil divulgados anteriormente. Mas no relatório desta quinta-feira, o número da semana passada foi revisado para 448 mil.

Senado vota mudanças

O Senado norte-americano aprovou duas emendas ao projeto de reforma do sistema financeiro. Uma delas acaba com o direito dos bancos de escolher a agência de classificação de risco responsável por avaliar seus produtos financeiros, que serão liberados depois para receber os recursos dos investidores.

A emenda do senador democrata Al Franken cria um conselho, vinculado à Securities and Exchange Comission (SEC), que será responsável por escolher qual agência fará a avaliação inicial dos produtos. Caberá à SEC indicar os integrantes desse conselho, que deve representar, em sua maioria, os investidores, mas também precisará contemplar pelo menos um membro ligado às instituições financeiras e outro às agências de rating. Esse conselho teria autoridade para permitir que as agências cobrem taxas razoáveis dos emissores e para criar regras sobre as tarifas no futuro.

Hoje, os bancos lançam seus produtos e pagam as agências de rating para atribuir nota de risco aos investimentos. A questão é que essa relação possui um conflito de interesses.

O Senado também votou a emenda do parlamentar republicano George LeMieux que determina o estabelecimento de padrões de qualidade para avaliação fixados por algum órgão regulador, como o Federal Deposit Insurance Corp. Hoje, o mercado precisa confiar plenamente nas avaliações das agências de classificação por não ter parâmetros para comparar.

Os projetos de reforma do sistema financeiro estavam há meses no Senado aguardando votação, até a intervenção do presidente norte-americano, Barack Obama.