Título: Tasso e Aécio assumem papel moderador
Autor: Maria Lúcia Delgado e Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2006, Política, p. A7
Eleições Cúpula tucana se esforça para que Serra e Alckmin não levem disputa pela candidatura à convenção
A cúpula do PSDB deu um ultimato ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e ao prefeito da capital, José Serra: não haverá prévia nem disputa na convenção nacional de junho. A decisão do candidato à Presidência da República será por aclamação, com base em critérios que serão organizados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo presidente nacional da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), e pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Os três deverão reunir-se no fim de semana em Belo Horizonte. Em jantar na noite de terça-feira na residência de Tasso, o governador paulista deixou claro que se submeterá aos critérios de escolha do partido, mas avisou que vai se colocar pacificamente na disputa e quer agilidade na definição. "Quem apostar na divisão do PSDB vai errar. Eu apóio o candidato do partido", enfatizou Alckmin ontem, antes de embarcar para Belo Horizonte, para encontro com Aécio. Alckmin disse que a eleição de outubro, como todos os pleitos, será dura e difícil, mas a oposição tem uma chance concreta de vitória. "Lula não merece nem um dia mais no governo. O Brasil não pode perder tempo", afirmou o governador. Tasso estará na próxima semana em São Paulo para uma conversa com Serra. A direção do PSDB decidiu que começa, no fim de janeiro, uma peregrinação por 15 capitais do país em que serão debatidos grandes temas econômicos e sociais para subsidiar o programa de governo. Os pré-candidatos poderão acompanhar Tasso. Apesar da pressão de Alckmin para que o PSDB antecipe a decisão da candidatura, a tendência é que a escolha seja mesmo oficializada em março. No encontro de terça-feira, Alckmin enfatizou a Tasso e ao líder do PSDB, Arthur Virgílio, que vai desincompatibilizar-se antes de 31 de março. Entre os critérios relevantes para a escolha da candidatura estão as pesquisas qualitativas e quantitativas de intenção de votos, em que será avaliada sobretudo a reação dos paulistas a um possível afastamento de Serra da prefeitura três anos antes do fim do mandato. Os tucanos levarão em conta também os índices de aceitação e rejeição de ambos. Alckmin comprometeu-se a não levar a competição para a convenção de junho. "Se disserem que eu não sou o candidato, não serei", declarou. O governador explicou a Tasso e Virgílio que não é membro do Opus Dei, um grupo conservador da Igreja Católica. Alckmin disse que é católico, mas lembrou que tem ótimo relacionamento com Henry Sobel, líder da comunidade judaica em São Paulo. Informou que tem dois primos que pertencem à Opus Dei. O governador anunciou que pretende percorrer o Brasil. Visitará nos próximos dias Sergipe e Pernambuco. Por isso, quer deixar o governo. Alckmin disse aos dirigentes do PSDB que se considera em bom patamar nas pesquisas, pois é nacionalmente desconhecido e ainda assim possui 20% das intenções de voto. Citou disputas imprevisíveis, como em São José dos Campos, em que o tucano Eduardo Cury venceu o pleito apesar de estar inicialmente em posição desfavorável nas pesquisas. "A candidatura do PSDB vai ser consensual e tranqüila. O problema, hoje, é que nós temos dois candidatos que são muito bons e que não têm defeitos, ou, se têm, são tão poucos que fica difícil escolher", disse Tasso. A conversa com Alckmin, segundo ele, foi clara: "Ele aceitará os critérios que vamos organizar", disse. Para Virgílio, o PSDB demonstra maturidade no processo de escolha. "Não estamos lidando com um Deus. Não tem mágico no PSDB, não tem Plano Real. Agora é voto a voto", definiu. O governador de Minas saiu do encontro com Alckmin, em Belo Horizonte, dando a entender que tem simpatia por idéias de Alckmin, principalmente as que levam em conta as demandas de outros Estados e não só de São Paulo. "Alckmin apresenta aqui idéias nacionais, que nos dão sinais mais claros de que num eventual governo que o tenha como presidente, será um governo com uma visão de Brasil", comentou Aécio. "Minas terá, certamente, contribuições importantes a dar nesse projeto." O fim da reeleição e o retorno do mandato presidencial de cinco anos também esteve na pauta do encontro. O assunto é um ponto importante para o governador mineiro, que tem pretensões presidenciais em 2010. "A reeleição tem trazido, pelo menos na minha opinião pessoal, mais transtornos do que avanços", argumentou Aécio. Segundo ele, o PSDB poderia reconhecer que a experiência não foi válida. O colega paulista disse apenas que esta será uma decisão do Congresso. O paulista minimizou a notícia publicada no jornal "Folha de S.Paulo" sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já ter feito sua escolha pelo prefeito de São Paulo, José Serra. "A própria matéria - eu li - diz que essa notícia já tinha sido veiculada e que o presidente já tinha corrigido. A própria matéria diz isso: já foi veiculado e o próprio presidente desmentiu." Dirigentes tucanos queixaram-se da ausência de Fernando Henrique no processo de escolha, até o momento. O ex-presidente viajou ontem para Londres e tem passado muitos dias fora do país. A proximidade de Fernando Henrique com Serra é conhecida, mas o ex-presidente disse aos correligionários que não vai declarar abertamente sua preferência. "Não admito que o PSDB perca essa eleição", disse FHC, para evitar que a disputa entre Serra e Alckmin chegasse a um nível perigoso. O governador paulista negou que esteja irritado com a condução do processo pela executiva tucana. "Nunca estive tão zen", declarou. Paulista, mas de família mineira, ele disse ainda que tem a sabedoria dos mineiros, da paciência, da busca do entendimento e do diálogo. Depois do encontro, Aécio Neves repetiu mais uma vez que está tranqüilo sobre o PSDB chegar a um consenso. Segundo ele, quem está torcendo pelo contrário, vai se decepcionar. "O PSDB estará absolutamente unido e apresentando uma proposta nova para o Brasil e, acredito, com grandes chances de vencermos as eleições."