Título: Disputa societária ameaça a Ferreira Guimarães
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2006, Empresas &, p. B1

Indústria Têxtil

A indústria têxtil Ferreira Guimarães, uma das mais tradicionais do país no segmento de tecidos para camisaria, completou ontem 100 anos de fundação numa séria crise financeira e envolvida numa disputa societária. A Justiça concedeu ontem liminar em favor dos acionistas preferenciais. Eles questionam um processo de aumento de capital que poderá resultar na mudança do controle acionário. O controle está hoje nas mãos de um grupo de herdeiros do fundador, o mineiro Benjamin Ferreira Guimarães. Mas um aumento de capital, de R$ 12,5 milhões integralizados pela investidora Guimtex, poderá dar o controle a esta empresa. Se os acionistas não subscreverem o aumento, injetando dinheiro na têxtil, a Guimtex ficará com mais de 70% do capital total. A liminar do juiz Paulo Roberto Fragoso suspendeu o prazo para que os acionistas exerçam o direito de subscrever o aumento de capital, que venceria hoje. A ação cautelar foi impetrada pelo minoritário Benjamin Guimarães, bisneto do fundador. Um processo também foi aberto na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que investigará a existência de irregularidades no processo. A maior parte do capital injetado pela Guimtex, mais de R$ 8 milhões, foi feita por meio de créditos não financeiros a favor da Centerfarma, empresa que detém 45% do capital da Guimtex. A Centerfarma pertence ao dono do banco BMG, Flávio Pentagna Guimarães, neto do fundador. A origem da polêmica entre os acionistas está nesses créditos não financeiros acumulados nos últimos cinco anos. A Ferreira Guimarães, que vem operando no vermelho há mais de uma década, assinou em 2000 um contrato de arrendamento com a Brasfrigo, outra empresa do dono do BMG. No acordo, a Brasfrigo passou a fornecer matéria-prima e pagar pelos serviços de fiação da têxtil. A arrendatária alega, no entanto, que além de pagar pelo serviço, teve de injetar capital de giro e arcar com dívidas trabalhistas. Ao longo dos últimos cinco anos, essa injeção de recursos teria somado mais de R$ 8 milhões. Os créditos foram transferidos para a Centerfarma, que se tornou sócia da Guimtex, empresa criada no fim de 2005. O atual superintendente da Ferreira Guimarães, Antônio Gomes, além de herdeiro também tem 45% da Guimtex. O empresário Fernando Pimentel tem 10%. A Guimtex emitiu debêntures conversíveis em ações para captar os R$ 12,5 milhões no mercado. "Se descobrirmos que houve fraude na origem deste crédito de R$ 8 milhões, vamos à Justiça pedir a anulação do aumento de capital", disse ontem o advogado Antônio Elízio Lopes, que representa o minoritário na ação cautelar. O superintendente da Ferreira Guimarães afirmou que não há irregularidades no processo. "E os créditos foram cobrados sem juros", informou. Segundo ele, o aumento de capital injetado pela Guimtex foi a melhor solução encontrada para salvar a indústria, que tem um prejuízo acumulado de R$ 236 milhões e vem operando abaixo da sua capacidade instalada por falta de capital de giro. A empresa, que já teve 3,2 mil funcionários, está com apenas 1,2 mil empregados nas suas quatro fábricas (Barbacena e Juiz de Fora, Valença e Rio de Janeiro). Para o superintende, a nova estrutura societária poderá representar um recomeço para a Ferreira Guimarães que, apesar da crise financeira, ainda detém cerca de 25% do mercado nacional de tricolines para camisaria e 4% do segmento de índigo. Por meio da assessoria de imprensa, a Centerfarma informou que dá suporte de capital de giro para mais de dez empresas, numa parceria que resulta em benefícios para ambas as partes. No caso específico da Ferreira Guimarães, diz a nota da assessoria, há um motivo especial: a vontade de ajudar a reerguer uma indústria tradicional, fundada pelo avô de um de seus acionistas. Benjamin Ferreira Guimarães era figura ilustre na história mineira, famoso pelo envolvimento com causas beneficentes como o Hospital da Baleia, na capital.