Título: Transmissão analógica acaba em 2009 nos EUA
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2006, Empresas &, p. B2
Em 17 de fevereiro de 2009 os aparelhos de TV baseados na tecnologia usada nos últimos 60 anos deixarão de funcionar. O Congresso dos Estados Unidos, em um de seus primeiros atos neste ano, decretará que as emissoras devem abandonar as transmissões analógicas nessa data e aderir à tecnologia digital, que vem sendo adotada gradualmente há vários anos. Embora pareça algo drástico, a maioria dos americanos nem perceberá a diferença. A transição para a TV digital vem sendo fonte de apreensão e debates dentro do governo, do setor de entretenimento e da indústria de produtos eletrônicos de consumo há mais de dez anos. Em 1996, o Congresso concedeu freqüências para que as emissoras começassem a realizar transmissões digitais, com a condição de que abandonassem suas freqüências originais e devolvessem as licenças ao governo em 2006. Ninguém levou o prazo a sério. A nova data, de 2009, no entanto, faz parte de um grande projeto de lei orçamentário que espera por aprovação quando os parlamentares voltarem do recesso e parece ser para valer. A mudança é de grande relevância para os donos de emissoras, mas para a maioria das residências nos Estados Unidos - cerca de 75% delas - não é tão importante, já que recebem sinais de TV por cabo ou satélite. Todos os sinais transmitidos por satélite e quase todos os por cabo já são digitais e os receptores desses sistemas podem receber sinais tanto para TVs digitais ou analógicas. Logo, para a maioria dos consumidores haverá pouco impacto e eles não precisarão preocupar-se com isso, a não ser que comprem um novo televisor nos próximos três anos. O fim do sistema analógico afetará aqueles que não têm serviços a cabo ou por satélite (por exemplo, dois dos quatro televisores de minha casa dependem de sinais de emissoras de TVs abertas, porque não me preocupei em estender o cabo a todos os aparelhos). O Congresso tem consciência do impacto nos eleitores cujos aparelhos analógicos ficarão obsoletos com a transição. A força por trás do projeto de lei é o desejo dos parlamentares em levantar um valor estimado em US$ 10 bilhões com leilões das freqüências antigas que receberem de volta das emissoras. Desse total, US$ 1,5 bilhão será usado para subsidiar os consumidores que queiram comprar conversores, a um custo estimado unitário de US$ 60, que permitam aos antigos aparelhos de TV receber as transmissões digitais. Os problemas para quem quiser comprar uma nova TV durante a transição serão maiores. Pelas regras da Comissão Federal das Comunicações (FCC), o órgão regulador dos setores de mídia e telecomunicações nos Estados Unidos, todos os aparelhos com mais de 36 polegadas precisam incluir um sintonizador digital apto a receber as novas transmissões. Os fabricantes, no entanto, podem driblar essa exigência chamando os televisores de "monitores", com o que não incluiriam nenhum tipo de sintonizador. Metade dos aparelhos entre 25 e 36 polegadas também precisará ter os sintonizadores digitais. A exigência passará a valer para 100% dos aparelhos a partir de 1º de março deste ano. A partir de 2007, todos os aparelhos, de qualquer tamanho precisarão ter sintonizadores digitais. O problema, no curto prazo, afeta quem quiser comprar televisores de tamanho pequeno ou médio. É possível comprar um televisor convencional com tubo de raios catódicos, de 30 polegadas, por algo entre US$ 300 e US$ 350, apenas com sintonizador analógico. Se você quiser um desses, compre logo. Recentemente na feira Consumer Electronics Show, era raro ver aparelhos com mais de 20 polegadas que tivessem apenas sintonizadores analógicos ou aparelhos com tubos de raios catódicos de qualquer tamanho. Um televisor digital com tubo de raio catódico, de 30 polegadas, custa cerca de US$ 650 e não traz de verdade uma imagem de alta definição (HD, pela sigla em inglês). Um aparelho com tubo de raios catódicos de 30 polegadas com HD custa em torno a US$ 1 mil. Um de tela plana de 32 polegadas e HD sai mais de US$ 1,5 mil. Televisores com menos de 20 polegadas e sintonizadores digitais parecem não existir e mesmo tentar buscá-los é difícil, já que os fabricantes não especificam qual é o sintonizador. Os preços dos televisores digitais, especialmente os de raios catódicos sem alta definição, diminuirão rapidamente à medida que os fabricantes começarem a elevar a produção. Agora, quem estiver procurando um televisor pequeno e barato no próximo ano, talvez apenas para receber sinais de TVs abertas na cozinha ou no quarto, é melhor também comprar um adaptador ou esperar que lancem um aparelho digital do tamanho desejado. No longo prazo, a transição digital será boa para os consumidores, especialmente porque, quando toda a programação virar digital, cada vez mais a programação será de alta definição. Nesse entretempo, comprar televisores pode ser uma tarefa um pouco confusa.