Título: Faltam postos para abastecimento, mas redes ainda resistem a investir
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2006, Agronegócios, p. B12

Tentar abastecer o carro com álcool nos Estados Unidos ainda é uma maratona. Na capital-estado do país, Washington, por exemplo, não há nenhum posto de gasolina que venda álcool ao consumidor. Existe apenas um posto exclusivo para abastecimento de frota de veículos oficiais, no centro, e dois vinculados a organizações militares (um em uma base aérea e outro dentro do prédio dos Marines). O consumidor teria que dirigir no mínimo 9 quilômetros, dependendo da região em que está da capital, para chegar ao único posto aberto ao público no Estado vizinho da Virginia - na cidade de Arlington, ao lado de um prédio da Marinha. As opções no outro Estado vizinho à capital, Maryland, são bem mais distantes - 51 quilômetros até Annapolis ou 53 até Fort Meade. Também não há postos oferecendo álcool em vários Estados do nordeste dos EUA com alta densidade populacional, como Nova York, Nova Jersey, Connecticut, Massachusetts e Vermont. Três Estados do sul (Alabama, Arizona e Louisiana) também só vendem gasolina. A maior concentração de postos está no Meio-Oeste, cinturão produtor de grãos dos EUA - há 200 postos só no Estado de Minnesota. Apesar da carência, as companhias petrolíferas não estão dispostas a investir na infra-estrutura agora. "O problema é que não há uma demanda real pelo E85, os proprietários nem sabem que podem usar álcool. É um pouco a questão do ovo e da galinha", diz Al Manetto, diretor de combustíveis do American Petroleum Institute (API), que representa as maiores empresas de petróleo. Manetto diz que a indústria automobilística produz desde a década de 80 os carros bicombustível nos EUA, porque tem interesse de ganhar créditos no Programa de Economia de Energia, criado em 1975, que exige reduções anuais do consumo de combustível pela frota produzida. Produzir carros flexíveis gera créditos que evitam penalidades se o consumo médio de gasolina dos modelos cresce. As companhias de petróleo não teriam benefícios extras para converter as bombas nos postos. Manetto nega que as empresas resistam à oferta do álcool porque o consideram competidor de derivados de petróleo. "Se existisse demanda, certamente as companhias fariam o investimento com a expectativa de um bom retorno. No Estado de Minnesota, onde há uma demanda real pelo produto, há mais de 200 postos". Entretanto, uma pesquisa na lista de postos do Estado mostra que dos 200, um é da bandeira BP Amoco, dois da Shell e um da Citgo. Todos os outros são vinculados a cooperativas agrícolas ou estabelecimentos comerciais como supermercados. O API se opôs à legislação que dobrará o consumo de etanol em seis anos. "Não somos contrários aos combustíveis renováveis, mas a exigência da lei foi excessiva. Em geral, a indústria petrolífera não é favor de exigências regulatórias e subsídios", afirma Al Manetto. As grandes empresas que atuam nos EUA têm bombas de álcool no Brasil, mas Manetto afirma que a situação não é comparável, porque o Proálcool teve décadas de incentivo e o mercado é enorme. Em seu website nos EUA, a Esso afirma que não considera o álcool como um combustível viável "a não ser que seja subsidiado". Contatada pelo Valor, a companhia disse que o melhor porta-voz para a questão seria o API.(TB)