Título: Anglo-holandesa Shell vê futuro dominado por opções mais eficientes
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2006, Agronegócios, p. B12

A anglo-holandesa Shell acredita que os biocombustíveis de segunda e terceira geração como hidrogênio e BTL têm maior potencial para substituir a gasolina no futuro do que o álcool ou biodiesel tradicional. "Esses combustíveis serão mais eficientes não apenas em custo, mas também porque não competem com a cadeia alimentícia", segundo o diretor global de biocombustíveis da Shell, Daniel Trunfio. O custo de produção de um barril de etanol nos EUA representa o dobro de um barril de petróleo, ressalta. Como o etanol oferece menor quilometragem por litro que a gasolina, é visto pelos consumidores como caro. A companhia está monitorando a demanda por álcool nos EUA, mas por enquanto acredita que não há suficiente interesse para vender o E85 (85% de álcool) em nenhum de seus postos de gasolina. A empresa usa o álcool como aditivo para a gasolina em proporções de até 10%. Alguns franqueados da companhia (cerca de 5 postos nos EUA) vendem o E85, mas não com a marca da Shell. "A aceitação dos motores flex nos Estados Unidos será fundamental para definir se o etanol será viável como alternativa". Trunfio acredita que as exigências da legislação energética nos EUA poderão ser facilmente atendidas apenas adicionando etanol em até 10% à mistura de gasolina. Trunfio diz que no Brasil a companhia vende álcool há décadas nos postos por exigências regulatórias, e que o país é pioneiro na construção de infra-estrutura necessária para o uso de biocombustíveis. Mas a empresa está investindo em outros mercados na produção de biocombustíveis de nova geração. A Shell Hydrogen tem postos oferecendo o produto para carros especialmente adaptados nos EUA, Europa e Japão. Outra aposta é o BTL (sigla para Biomass to Liquid), um tipo de diesel feito a partir de resíduos como palha ou lascas de madeira, e não-produtos alimentícios como soja. Está construindo uma fábrica na Alemanha com apoio da Volkswagen e Chrysler. Alguns cientistas acreditam que a produção do álcool de milho não é apenas cara, mas resulta num balanço energético negativo. Os professores americanos David Pimentel, da universidade Cornell, e Tad Patzek, de Berkeley, afirmam num estudo publicado em julho que gasta-se mais energia para produzir um galão de álcool de milho do que o resultado final para uso pelo automóvel. O estudo restringe-se à produção de etanol de milho e considera o consumo de combustíveis fósseis no plantio e colheita mecanizados, transporte e conversão em álcool. Divulgado em meio à votação no Congresso da legislação energética, o estudo provocou uma reação irada da Coalizão Americana para Álcool, que acusou os dois cientistas de ser "aliados da indústria petrolífera". O professor da universidade californiana rebateu listando o total de subsídios recebidos pelos plantadores de milho e usinas produtoras de álcool. Estudo do Departamento de Agricultura dos EUA de 2002 afirma que o balanço energético do álcool de milho é positivo em 34% se as instalações para sua produção forem relativamente modernas. Segundo o ministério, a eficiência energética está aumentou nas últimas décadas na produção de milho.(TB)