Título: Indústria brasileira já exporta um quarto da produção, revela BNDES
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2005, Brasil, p. A2

A indústria brasileira está exportando um quarto do que produz. Levantamento do BNDES demonstra que 24,8% da produção industrial do país foi destinada ao mercado externo em 2004. Com a quantidade exportada crescendo mais rápido do que a produção, esse percentual deve aumentar novamente este ano, mas o desempenho dos setores tem sido heterogêneo. Os economistas estão preocupados é com 2006, quando a combinação de câmbio valorizado e crescimento um pouco maior da economia pode afetar as exportações. Segundo o estudo feito pelo economista Fernando Puga, da área de planejamento do BNDES, os industriais brasileiros embarcavam 17,9% do que produziam em 1996. O coeficiente exportado (total da produção vendido no mercado externo) tende a ser influenciado pela produtividade da indústria e pelo câmbio. Com o Plano Real, que atrelava a moeda brasileira ao dólar, esse percentual caiu até 14,7% em 1998. A partir de 1999, o real se desvalorizou e provocou uma alta acentuada das exportações, que bateram em 19,1% da produção em 2002 e foram a 22,5% em 2003. No ano passado, o real voltou a se apreciar ante o dólar, mas, ainda assim, o coeficiente exportado continuou crescendo e atingiu 24,8%. Esse patamar deve ser ultrapassado em 2005. "Com o baixo ritmo de crescimento econômico, os empresários redirecionaram as vendas para o exterior", explica o economista André Nassif, também da área de planejamento do BNDES. Enquanto o Brasil deve crescer 2,5% este ano, a economia mundial pode registrar expansão de 4,5%. Nassif considera que exportar um quarto da produção é um bom resultado para o Brasil, dado o tamanho do mercado interno do país. Dos 22 setores analisados pelo BNDES, apenas três registraram queda na relação exportação/ produção em 2004 ante 2003: fumo, papel e celulose e metalurgia básica. Olhando em um prazo mais longo, dois setores bastante distintos - um de baixa especialização e outro altamente tecnológico - se destacam pela expressiva importância assumida pela exportação. No setor de madeira, em 1996, 38% da produção era destinada ao exterior. No ano passado, esse percentual já estava em 72,2%. Em outros equipamentos de transporte (no qual estão incluídas as vendas da Embraer), essa participação evoluiu de 11,4% para 54,3% na mesma comparação. Os dados do levantamento de Puga também indicam que em 2003 apenas dois setores exportavam mais de 50% da produção: madeira e indústria extrativa. Em 2004, mais dois passaram a vender mais da metade de sua produção fora das fronteiras nacionais: calçados e artigos de couro e outros equipamentos de transporte. Em 2005, o comportamento dos segmentos produtivos foi mais diversificado, já que alguns segmentos sofreram mais com a valorização cambial. Levantamento da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) aponta que a quantidade exportada pelo país cresceu 12,3% no primeiro semestre deste ano, 2,5 vezes mais que o aumento da produção industrial medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "A tendência é que o coeficiente de exportação cresça este ano, pois as exportações estão subindo e a indústria vai mais devagar", diz Fernando Ribeiro, economista da Funcex. Para alguns setores, o aumento do coeficiente de exportação deve ser expressivo em 2005, pois a quantidade exportada por esses setores está crescendo muito acima da produção. O volume exportado de equipamentos eletrônicos saltou 126% no primeiro semestre do ano, enquanto a produção cresceu 17,9%. Esse desempenho se deve ao aumento de vendas de celulares para o exterior. As multinacionais transformaram o Brasil em plataforma de produção do produto para atender alguns mercados da América Latina. O quantum exportado de máquinas e tratores cresceu 25,7%, enquanto a produção física aumentou apenas 3,9%. No setor têxtil, o volume embarcado aumentou 7%, mas a produção cresceu apenas 1,5%. Material elétrico, minerais não-metálicos, café, açúcar são exemplos de outros setores, cujo desempenho seguiu o mesmo perfil. Um segundo grupo de setores registrou aumento de exportação superior ao da produção, mas abaixo da média nacional de 2,5 vezes. A produção de veículos automotores cresceu 15,6% no primeiro semestre e as exportações aumentaram 35,5%. Os embarques para o exterior de madeira e móveis aumentaram 3,8%, e a produção subiu 1,7%. Existem ainda setores em que a razão quantum de exportação/ produção foi negativa. O principal exemplo é a indústria de calçados, couros e peles, cujo volume de exportações caiu 2,7% de janeiro a junho, apesar da produção crescer 2,5%. Nesse caso, a valorização do dólar reduziu a rentabilidade das exportações no período e os fabricantes preferiram vender seus sapatos no mercado interno. "Em 2005, o coeficiente de exportação vai aumentar. Mas temos que torcer para mantê-lo em 2006", alerta Puga, do BNDES. O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Indústrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, afirma que as exportações cresceram em 2005 por conta da forte demanda internacional e dos contratos assumidos pelas indústrias no exterior. Ele questiona se esse desempenho será mantido no próximo ano, caso a economia brasileira cresça um pouco mais e o câmbio siga valorizado. O Iedi projeta que o PIB do país pode aumentar 3,5%, acima dos 2,5% que deve crescer este ano.