Título: Expansão abre espaço para novas marcas
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2004, Empresas, p. B-5

Há dois anos, dois fabricantes de caminhões - General Motors e International - decidiram encerrar as atividades no Brasil, alegando custos elevados por conta da mudança cambial. Volkswagen Caminhões e Iveco optaram por ficar e disputar o mercado com as montadoras instaladas aqui há décadas. Quem apostou em permanecer nesse mercado se deu bem. No acumulado deste ano, o segmento de caminhões cresceu mais que o de automóveis, tanto em produção e venda doméstica como em exportação. De janeiro a outubro, a produção de caminhões cresceu 35,7% e o volume exportado avançou 115,1%. Outra diferença em relação às montadoras de automóveis é que com o fechamento de duas fábricas, o aumento de vendas está sendo dividido por um número menor de competidores. Nesse setor, o caso mais bem-sucedido de montadoras que decidiram investir em novas fábricas no Brasil a partir de meados da década de 90 é o da Volkswagen Caminhões e Ônibus. Em 1996, essa empresa inventou um novo processo industrial e dedicou-se a produtos diferentes, apelidados posteriormente, no mercado de "genéricos". Nos dois últimos anos, a Volks Caminhões vem disputando a liderança com a Mercedes-Benz. Caso mais recente é o da italiana Iveco, que decidiu, neste ano, reformular toda a estratégia de atuação no Mercosul. Transferiu de Córdoba, na Argentina, para Sete Lagoas, em Minas Gerais, uma linha de produção de caminhões. A participação da Iveco no mercado brasileiro ainda é pequena. A marca ficou com 3,8% nas vendas no varejo acumuladas de janeiro a outubro. Mas, a perspectiva de crescimento dessa fatia se sustenta na estratégia de nacionalizar a produção dos veículos. Ao fabricar os caminhões no Brasil, a marca pode usar o Finame, linha de financiamento especial do BNDES e a mais usada pelos caminhoneiros do país. Para conseguir competir com os fabricantes tradicionais, a direção da Volkswagen Caminhões e Ônibus visitou 30 fábricas em todo o mundo, além de todas as instaladas no Brasil. "Quisemos constatar o que cada uma tinha de melhor", explica o presidente da empresa, Roberto Cortes. O resultado disso foi a invenção do famoso sistema modular de produção, que levou os principais fornecedores para a linha de montagem. No acumulado até outubro, a Volks ficou com o segundo lugar, com 28,9% do mercado brasileiro. Os planos de expansão fora do país são ousados. A empresa acaba de inaugurar uma filial da operação brasileira no México e em 2006 instalará outra, na África do Sul. "Sabíamos que tínhamos que fazer algo diferente, tanto em método de produção como em modelos de veículos", diz Cortes. "Caso contrário teríamos dificuldade em conseguir a aprovação do projeto pela matriz", completa. Cortes reconhece, porém, que a força da marca Volkswagen ajudou. Se a força da marca nos automóveis no mercado brasileiro ajudou a Volks, a Iveco conta com a a sua fama na Europa para expandir as vendas aqui. Os italianos acabam de escalar um ex-concessionário da marca para ser o diretor comercial. Nos últimos dias, Vicente Goduto Jr deu início a um programa de visitas por todo o Brasil. Seu objetivo é ter como clientes as subsidiárias brasileiras de multinacionais que compram caminhões Iveco em outros países, principalmente na Europa. É o caso da Pepsico e Bimbo. "Nós queremos brigar com empresas como a Scania e Volvo", garante Goduto. O quadro no setor de caminhões é diferente do que acontece com os carros de passeio. As quatro montadoras tradicionais - General Motors, Fiat, Volkswagen e Ford - ficaram com 81,37% das vendas de automóveis e utilitários leves de janeiro a outubro. Já faz seis anos que a Renault instalou uma fábrica no Brasil. Antes disso, a Honda já havia erguido a sua fábrica de automóveis no país. Todas as novas montadoras começaram a produzir no país há pelo menos cinco quatro anos. No entanto, Renault, Honda, Toyota, Peugeot, Citroën e Mitsubishi somaram juntas apenas 18,63% do mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves no acumulado deste ano.